Inspirações de Junho
Comecei a dividir no meu Instagram algumas “doses diárias de beleza” que andei vendo por aí. Inspirações, coisas que chamam a atenção e atraem o olhar. Esses dias, postei uma frase que levei até para aula, achei linda! É de Wisława Szymborska, ganhadora do Nobel de literatura em 1996, que comenta profissionais e trabalhos e como “apesar das dificuldades e fracassos, sua curiosidade não arrefece. A cada problema resolvido segue-se um enxame de novas perguntas. A inspiração, seja ela o que for, nasce de um incessante ‘não sei’”.
Por onde meu olhar passeou buscando doses diárias de beleza
Adorei conhecer a poltrona Veadeiros, da Mobília Puro (achei elegante!). Eu gosto de poltronas neste estilo, que misturam materiais - tecido/couro, madeira e metal - como a poltrona Pollock e a poltrona Beto, de Sérgio Rodrigues. Embora tenha uma linguagem diferente e sejam voltadas para um público bem específico, acho que é uma combinação de materiais interessante. Ao final desta edição, coloquei o link para um post com itens que tem povoado meus pensamentos há um tempo.
Aconteceram tantas coisas aqui esse mês, mas não quis alongar esta edição. Então, já tenho coisas que quero abordar em outras edições. Aproveitei para apresentar aqui um pouco do que veremos ao longo do mês.
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O que eu li
Continuando no projeto de terminar de ler a minha pilha de livros não lidos ou nunca finalizados, resolvi retomar a leitura de “Comprometida”, de Liz Gilbert. Esperava um romance leve; recebi um tratado sobre casamentos pelo mundo todo… quase uma antologia sobre o tema imersa em estudos antropológicos. Amei? Amei! Todos vão amar? Acho que não, a leitura em algum ponto fica quase acadêmica.
Leitura rápida, li em um dia, mas que toca em temas como casamento, filhos, independência financeira feminina e uma coisa que eu amei saber: você sabia que tias sem filhos tiveram papel primordial na educação ou incentivo de pessoas criativas como as irmãs Bronte, Coco Chanel e até mesmo Frank Lloyd Wright? Pois bem, foi no livro de Liz e não na escola de arquitetura que aprendi que quem financiou o primeiro projeto de FLW foi sua tia (ou tias, não me recordo). Talvez “ficar pra titia” ganhe um novo significado pra mim depois desta leitura. Brincadeiras à parte, em todos os livros que tenho lido acerca de inovação (este mês li Originais do Adam Grant, que já comentei aqui), design thinking (Acho que ninguém ganha do Tim Brown neste quesito) e criatividade, muito se fala da criança criativa e sua educação. E num momento tão importante de revisão de telas na infância, convidei uma psicóloga para falarmos sobre este tema em um edição especial no mês de Julho.
E por falar em artistas e criativos..
Eu cometi um erro semana passada, mas que fez com que eu lesse um dos livros mais curiosos que já li. Eu ainda não consegui ver a exposição de “Lygia Clark: Projeto para um planeta” na Pinacoteca de São Paulo, que fica até dia 04 de Agosto. E eu tenho me lembrando disso constantemente: “preciso ir na Pina ver as obras de Lygia, preciso ir na Pina”. Na sexta-feira passada, estava na Livraria Candeeiro tomando um chá (o Recordações da Mistea, que eu amo!) e me deparei com um livro lindo da Editora Relicário chamado: No Espaço, com Lygia Pape só que eu li apenas o Lygia, e não observei o Pape, e ao abrir uma página aleatória, li algo lindo sobre o cosmos e esculturinhas de papel. Pronto! Na minha cabeça o livro era sobre o trabalho de Lygia Clark.
Cheguei em casa, feliz da vida, peguei o livro e vi que tinha confundido as artistas, mas mesmo assim, me permiti ser envolvida numa jornada no espaço. O livro toma como ponto de partida o curta La Nouvelle Création (1967) de Pape (até procurei online mas não encontrei para linkar aqui) trazendo uma reflexão não apenas acerca da obra, mas também da corrida espacial, das influências da artista e tantas outras obras que derivaram deste momento. Em 60 páginas no formato A5 eu encontrei inúmeras referências e um repertório incrível - a autora Veronica Stigger é irretocável! De Dante Alighieri, ao movimento antropofágico e Caetano Velloso com a sua música “Terra” e, acredite se quiser até “Minha pequena Eva”, mas a versão original, em italiano. Um boa surpresa dentre as leituras de Junho.
Parece que eu não sou a primeira a fazer esta confusão, o Arte que Acontece até fez um Quiz: Clark ou Pape?
Falando em exposições, também não vejo a hora de ver Calder e Miró no Tomei Ohtake. Infelizmente, não consegui ir quando ela estava em cartaz na Casa Roberto Marinho no Rio, então minha expectativa só aumenta! Vai até o dia 15 de Setembro de 2024 (Ter-Dom de 11h às 19h) e tem entrada gratuita. Não sei muito de Miró, mas sou apaixonada pelo trabalho de Calder. Eu li a autobiografia de Calder no doutorado, mas eu vou sempre indicar Calder no Brasil, de Roberta Saraiva - acho incrível, bonito, gostoso de ler. Infelizmente, só é possível encontrar em sebos, eu sei que algumas pessoas não gostam, mas é uma leitura que vale a pena.
O que eu vi
Eu gosto de um bom romance, mas eis que no mês dos namorados, quase todos os filmes que vi foram filmes com casais com algum tipo de romance não resolvido com outra pessoa. Comecei o mês assistindo, mais uma vez, um dos meus preferidos: “Casablanca” (1942), disponível no Max. Fechei o mês revendo “Last Night” (2009), da diretora iraniana Massy Tadjedin, filme que eu julguei na primeira vez que vi, logo que lançou, mas que hoje em dia eu consigo compreender de uma forma diferente. (Aviso: talvez você encontre spoilers abaixo)
Ambos os filmes falam sobre romances que começaram quando outro estava suspenso, mas a lealdade; os votos feitos à outra pessoa são mais fortes, mesmo quando o sentimento em relação a outra pessoa persiste. Last Night aborda uma complexidade humana que não é fácil de comentar. Joanna é a personagem central do filme, e o filme é em torno de uma noite na qual ela e o marido Michael passam separados e ela reencontra Alex, seu ex. Acho que toda pessoa passa por um momento assim, de pensar em todas as vidas paralelas que teria se tivesse escolhido outro alguém com quem compartilhar a vida ou outra situação, caminho ou rota para seguir. Last Night não é um filme excepcional, mas acho que é do tipo: ame ou odeie. Nesta crítica não muito elogiosa, há uma comparação dele com Um Sonho de Amor de Luca Guadagnino, que eu ainda não consegui ver e fiquei ainda mais curiosa para assistir. Se você viu, me conta se gostou?
O que eu queria mesmo comentar, ao falar deste filme, é a beleza do prosaico, dos detalhes, as conversas corajosas, a cenografia. A diretora deu uma entrevista na qual ela comentou a importância dos detalhes para a construção da narrativa. Eu acho lindo como o figurino de Joanna dialoga com as cores da cidade de Nova York e, ao mesmo tempo, com a decoração do apartamento. Gosto como o abajur da cabeceira da cama dela é vintage tal como a bolsa que ela usa pra sair a noite. Gosto como sua forma de vestir reflete o seu viver. Acho que isso da decoração/vestir reforça a espacialização do olhar/e do sentir dela. Ela e o marido são dois ingleses morando em Nova York, mas ela também morou em Paris, namorou um francês que, aliás, tem uma visão culturalmente diferente de relacionamentos. Ela parece ter mais abertura ao novo do que ele, embora tenha valores mais fortes. Quase tudo no apartamento parece ter sido escolhido por ela, especialmente a poltrona paulistano (1957) de Paulo Mendes da Rocha. (Obs: Acho incrível como esta é uma peça pela qual alguns set designers tem apreço por expor em apartamentos seja em NYC ou no Brooklyn). Perceba que nada é oculto nesta casa, tudo está, de alguma forma, exposto - desde os mantimentos até os itens de cozinha.
Outra coisa que eu gosto neste apartamento, além da iluminação e amplitude é como ele parece ser uma casa de uma pessoa que tem apreço estético mas é imperfeita, no sentido de não ser extremamente organizada, mostrando que uma mente criativa habita ali … tem vida! Tem postais e referências na parede acima da mesa de trabalho, tem louça na pia e temperos na bancada… mas ao mesmo tempo, o apartamento parece ter passado pelas mãos de um designer cuja curadoria atenciosa faz com que ele pareça uma decoração orgânica, mesmo não sendo.
Joanna, a personagem principal é escritora e tem livros por todos os lados, além de uma mesa bagunçada. Os livros estão organizados em ordem alfabética - vemos o do designer Marc Newson ao lado do pintor Mark Rothko - mas parecem ser apenas de Joanna, afinal é em um deles que ela guarda fotos de Alex, o francês do passado. Ela é leitora voraz (vide os livros na mesa de cabeceira) e viajada, como o marido menciona, enquanto Michael me parece o acomodado do casal, reclamando dos livros dela ocultando as tomadas. É uma casa que tem um quê de permanente (ainda mais com eles sendo estrangeiros ali) mas, ao mesmo tempo, também parece ser provisória, assim como o relacionamento de Michael e Joanna.
Vamos falar de habitar o provisório no mês de Julho.
Na vizinhança
Adorei este texto que li do
aqui no Substack, intitulado: “What we see when see clothes” (O que vemos quando vemos roupas). Nele, Lin disserta sobre a busca de seu próprio estilo e sua admiração pelo estilo de Sofia Coppola. Uma frase me chamou a atenção, era assim:“Podemos admirar o estilo de Coppolar ou Carolyn Bossette Kennedy, mas a verdadeira essência do estilo delas é basicamenteinatingívelpois é impossível e sem sentido imitar as peculiaridades da vida de outra pessoa. Podemos ter os mesmos símbolos de status – o “arquivo” de Yohji Yamamoto para canalizar o espírito da CBK; a já mencionada bolsa Sofia Coppola para Louis Vuitton – mas não podemos comprar autenticidade. Mas a indústria da moda quer que você acredite no contrário, ao mesmo tempo que nos empurra imagens irrealistas e altamente idealizadas. ”
Ela então sugere o estilo como uma inspiração e a sua apropriação por meio do autoconhecimento do próprio corpo, do estilo e do que fica bom. Achei interessante. É aquela coisa de “ficar bem na própria pele”.
Esta semana fiz um post chamado Wishlist no qual elenquei alguns itens (de vestuário e décor à torradeira) que estão povoando meus pensamentos há um tempo como um exercício. Nele, mostrei todos os posts aqui da news nos quais esses objetos apareceram, numa tentativa de reforçar como quando gostamos de algo, tendemos a falar deste item. Coincidentemente, coloquei um relógio que amava, e depois uma versão que passei a gostar mais pois combinava mais comigo. Acho que o exercício de fazer listas com o que tem atraído o nosso olhar pode dizer muito sobre nós. Melhor ainda quando podemos identificar o porquê desta atração.
Nos vemos na próxima edição!
Até breve!