Os meus colegas arquitetos que me perdoem mas ir à SP Arte é muito mais legal do que ir à Expo Revestir. Sei da importância de ambas as feiras, mas a primeira faz meus olhos brilhares. É um tipo de experiência gostosa, que faz feliz… enquanto a segunda, é meio .. diferente, né? No último sábado, 6 de Abril, visitei a edição comemorativa dos 20 anos da SP Arte em São Paulo, que ocorreu no edifício da Bienal dentro do Parque do Ibirapuera. Sempre acho um evento visitar o pavilhão desenhado por Oscar Niemeyer, especialmente em datas assim.
Gostaria então de compartilhar com você algumas notas da minha visita à feira. Vale lembrar que quem escreve é uma arquiteta, designer de interiores que já fez muita cenografia para feiras e eventos corporativos. Logo, como fui elogiada por um colega arquiteto na feira, posso ser “bem crítica” rs. Bom, talvez eu seja, m relação a alguns aspectos que vi, mas também sei ser extremamente leve em relação a outros. Abaixo, fiz um apanhado de anotações com coisas e itens que chamaram a minha atenção durante a visita, como um caderno de notas e alguma observações; após as imagens, escrevi e adicionei outras observação com mais detalhes. (lembrando: é só clicar na imagem que ela aumenta).
A imagem da feira, ou o que esperar da feira:
Kevin Lynch em seu livro “A imagem da cidade” menciona que as pessoas fazem uma imagem mental da cidade a partir de alguns pontos reconhecíveis. Eu acompanhei várias pessoas visitando a feira antes de mim, e fiquei com uma certa “imagem da feira” pelo posts que vi. A foto mais postada, claro, era da rampa com o pilar niemeyeriano do pavilhão da Bienal com o 20; uma clara indicação de que a pessoa estava na feira. Fora esta imagem, o que eu mais vi pelos posts que acompanhei: o stand do Herança Cultural, do Studio Objeto (que estava lindo!), do Studio Rain, o jogo de xadrez exposto na Etel, este quadro da Adriana Varejão (muito bonito pessoalmente), que eu vi no Stand da Fortes D’Aloia & Gabriel, O stand da galeria Zipper, com as obras de Flávia Junqueira e os quadros de Abraham Palatnik.
Comentei Lynch pois ele fala que o que costumamos guardar é o mais reconhecível, pois bem, acho que o que eu acompanhei pelos posts foi uma amostra do que era mais reconhecível pelas pessoas que frequentaram o espaço. O que eu encontrei e que era diferente, me surpreendeu, como por exemplo, a galeria mexicana RGR, algumas galerias mineiras, e um Calder que parecia guardado a sete chaves. Também amei saber que Nara Roesler, galeria tradicional de São Paulo, agora tem uma editora homônima.A feira:
Bom, poderíamos dizer que a feira estava dividida em 3 áreas bem delimitadas: a de design, a de negócios secundários (leiloeiros e galerias com obras mais antigas) e de negócios primários (galerias contemporâneas com venda direta do artista). A paisagem era completamente diferente nas três áreas. Interessante ver como estar na área de negócio secundário era como estar num museu com pequenas salas de exposições, enquanto o negócio primário tinha muito mais espaço e os stands contavam quase todos com mesas e cadeiras para negociação, claro, e o design estava, em sua maioria, ocupado pelo design moderno brasileiro, tanto que stands como Jader Almeida (o que eu menos gostei; especialmente por parecer uma vitrine) e Fernanda Marques para Breton pareciam ser outsiders ali; suas propostas pareciam não estar em acordo com o local e o excesso de iluminação artificial brigava um pouco com a arquitetura do espaço no horário diurno.Encontros e histórias diferentes:
Ao visitar o stand da Galeria Teo, que estava com uma pequena amostra da exposição sobre a Forma que vai inaugurar agora em Abril, conversei com a representante da Galeria que me contou bastidores do processo de envio de uma peça deles que atualmente está em exibição no MoMA, na exposição: Crafting Modernity: Design in Latin America, 1940–1980, que eu adoraria ver.Inesperado:
Duas coisas me chamaram e muito a atenção na área do design. (1) A Coleção Cordel, do designer Bruno de Carvalho, apresentada pela +55 design, sob curadoria de Clarissa Schneider. O bar, com ares mid century modern, foi re-imaginado a partir da impressão de estampas de cordel em suas portas. Na hora, mandei para uma amiga, que tem raízes no Recife, e ela ficou apaixonada. Acho que deve ter tocado o coração de muita gente!
(2) A apresentação da Nordic, novo braço da Casual Móveis que importa modelos icônicos do design nórdico, me fez suspirar ao expor algumas peças de Hans J. Wegner que eu ainda não tinha visto pessoalmente. Fiquei sabendo que o modelo Haylard Lounge Chair novo custa em média, 180 mil reais; Para referência, uma do mesmo modelo vintage de segunda mão no 1st Dibs, custa em média 50 mil dólares;Para lembrar que experiência é algo muito pessoal: Eu saí correndo do stand do Superlimão, escritório descolado de São Paulo que tem vários projetos criativos e que assinou a fachada da feira este ano. A pequena instalação em formato de iglu para exibir uma luminária de pássaros me deu uma aflição imensa (eu tenho pavor de pássaros) e eu me senti como se estivesse no cenário do filme de Hitchcock.
Em contrapartida, a luminária de argila superfina da Nadia Rocha + Studio de La Cruz me encantou! Apesar da pessoa do stand me dizer que foi pensado como um cardume de peixes, a sensação que eu tive era que eu estava em meio à uma série livros voando, já que elas me remetiam à uma instalação que vi numa biblioteca com livros em diferentes tamanhos pendurados no teto.Pra reforçar: percepção é algo muito pessoal e tem raizes no caderninho de experiência de cada um.
Styling que conta história:
Estava curiosa para conhecer o stand da More, que surgiu diante de uma necessidade de mobiliário aliado aos valores do escritório Peclat, do arquiteto Fred Peclat. Eu gosto de acompanhar o trabalho da More/Peclat há um tempo e o arquiteto posta uns textos/faz umas críticas arquitetônicas bem interessantes. Ao visitar o stand, notei que haviam 3 livros na estante: um do renomado arquiteto Louis Kahn (The essential Louis Khan), outro do pintor Marc Chagall e um último que me chamou a atenção: A edição em francês de Louise Bourgeois: Femme Maison, Bourgeois foi uma artista franco-americana que fazia algumas obras baseadas em memórias e experiências, mas que também foi um pouco polêmica. Tudo conta uma história. Os livros não estavam ali por mero “enfeite”; é importante atentar-se ao que está sendo narrado ali e eu achei que estava de fato, alinhado com o que eu tinha visto do escritório ate então.Moderno por todos os lados:
Eu amo design moderno, amo muito. Quando vi Interstellar e notei que num futuro não muito distante ainda se escolhia cadeiras Eames para a sala de reuniões de um local como a Nasa, meu coração sorriu, pois foi como ter algo familiar e constante representado ali (há quem possa ter achado falta de inovação). A verdade é que sabemos que a permanência do moderno se faz por conta de sua produção industrial facilitada, além do design que já se mostrou atemporal. Quando eu fazia stands para feiras, às vezes não dava para escolher algo muito inovador em termos de cadeiras por alguma limitação, ou então era sempre a mesma receita de bolo com o mobiliário que tínhamos a nossa disposição no galpão - geralmente, uma ou outra cadeira moderna que tínhamos à disposição mas nada com ares de antiquário. O que eu notei nas galerias de arte contemporânea na SP Arte? Muitas, mas muitas mesas Saarinen (talvez umas 20?!), o que me remeteu aos tempos de cenografia. O que as diferenciava em termos de styling era o formato e a composição. Vi diferentes composições que considero dignas de nota; desde modelo redondo de jantar com Poltrona Oscar, de Sergio Rodrigues, ou Saarinen lateral com duas poltronas do modelo paulistano de Paulo Mendes da Rocha. A quantidade de mobiliário presente no catálogo da Dpot era grande… Cadeiras S. Rodrigues, Geraldo de Barros… enfim. Era quase como se a Dpot ou a Miller-Knoll tivessem uma parceria com os expositores. Quando a composição traz tantas similitudes, fica fácil fazer diferente e se destacar. Uma galeria que se destacou por destoar um pouco das outras, foi uma carioca que estava com um mesa branca com cavaletes e cadeiras Eames; era a que mais me pareceu conectada com um artista; como se saída de um studio de algum artista que usou uma porta para fazer uma mesa e investiu nas cadeiras da Vitra. Ao mesmo tempo, me pareceu remeter à essência carioca; leve.
Um espaço que me chamou a atenção foi um que tinha uma mesa feita com diferentes posicionamentos do cobogó “Mão” do contemporâneo Studio Campana1, cujo instituto também tinha uma stand na parte do design, e cadeiras Geraldo de Barros, modelo pelo qual eu sou apaixonada.
Teve uma outra galeria que fez com que eu me sentisse em meio à Reserva técnica da galeria, pois usou uma grade tipo as que usam em reservas técnicas mesmo como um plano vertical e a mais, e colocaram mesas e cadeiras em preto, da cor da grade, sendo assim, o quadro ali exposto se destaca.Styling muda tudo:
Eu, pessoalmente, nunca fui uma entusiasta da cadeira Iaiá, de Gustavo Bittencourt,(especialmente por conta da estrutura rosé; a cor não me agrada). O designer, que também estava com stand na feira na part de design, foi o escolhido por uma das galerias no segundo andar. Quando eu vi o banco Iaiá em preto em uma das galerias, eu me lembro até de ter voltado para observar com atenção e, ao lado, um conjunto de cadeiras Iaiá com estrutura preta diante de uma parede rosa com um quadro supercolorido. Ver o conjunto em um novo styling diferente do styling habitual presente nos projetos que eu tinha visto o mobiliário inserido, mudou minha visão. Não, as vezes não basta ver o mobiliário no catálogo, é preciso vê-lo inserido em algum lugar para termos uma nova perspectiva. E, em meio à tantos modernos, o conjunto - inspirado no moderno - acabou se destacando perante o meu olhar (ver detalhe na Imagem 2).Construção influenciada pela viagem:
, uma querida, com quem tive a sorte de conversar por alguns minutinhos. O styling do stand de Gisela era o mais diferente especialmente por sua escala, por ser diferente dos outros da área de negociação primária, era o mais convidativo, tinha cara de uma pequena sala de desenhos. Com um tapete delimitando a área, mesa lateral, abajur e banquinhos que ela me contou ter escolhido encapar com tecido listrado influenciada pela sua recente viagem à Índia. Amei que nele tinham vários livros empilhados no piso sobre o tapete, sendo um deles em destaque do Hans Ulrich, curador que eu admiro muito e que já comentamos por aqui. Eu queria muito sentar ali e mexer em todos aqueles livros, confesso. Eu me arrependi também de não ter tirado uma foto daquele espaço! Realmente, me ganhou. Tomaria um cafézinho ali vendo todos aqueles livros rs.
Adorei conhecer não só o stand Gisela Projects, como também minha vizinha de substackPor último, uma pequena reflexão:
Se você for comigo à uma feira vai notar que eu não sou de tirar fotos de obras de arte. Eu posso sim tirar fotos de mobiliários e coisas que me chamam a atenção, mas é raro tirar fotos de pinturas, mais de esculturas ou móbiles quando encontro algo que me chama muito a atenção. No podcast que mencionei na edição desta semana, Ivy Ross e Susan Magsamen mencionam que a média de tempo que uma pessoa gasta em frente a uma obra de arte é de segundos. O que eu percebi na feira é que as pessoas gastam mais tempo tirando fotos do que observando. Eu fico um tempo na frente de uma obra que me atrai, quando possível, o que eu notei que chega a incomodar um pouco quem está com vontade de só tirar uma foto e sair. rs Acho que esse momento, especialmente numa feira, onde obras estão ali para serem negociadas é de suma importância para apreciação do que está exposto, embora não seja o local ideal pela quantidade de pessoas passando/fazendo negócios, ainda assim é uma oportunidade para conhecer novos artistas e vislumbrar obras que antes possivelmente estavam em acervos particulares distantes dos olhos do público.
É possível adquirir este modelo de cobogó online e ainda ajudar o projeto social dos irmãos, o valor unitário varia entre 550-890 reais. Valores encontrados online ontem, 09/04/2024.