Aceitar o vazio e identificar o provisório
Vocês já perceberam que estou meio nostálgica e com um senso de desapego nas edições deste mês, não é mesmo? Pois é.. credito isso ao meu aniversário no final do mês, mas acho importante fazermos estas reflexões no meio do ano também e não apenas no final do ano. Afinal, precisamos fazer revisões. Hoje, queria conversar sobre vazios, provisórios, a vida e a casa.
Entendendo “a casa”
Lembro quando mudei pro meu apartamento atual e fiquei um tempo com o mobiliário antigo na sala.. aquilo me incomodava por ser provisório, pois não era o que eu queria para aquele espaço. Em contrapartida, eu também não queria comprar qualquer coisa para substituí-los. Eu ainda não sabia o que eu queria para aquele espaço, tão pequeno em comparação ao anterior, e, se preciso, eu ia esperar até ter certeza enquanto vivenciava o espaço. Atualmente, quero fazer mudanças mais uma vez e penso em como fazer escolhas, às vezes, requer certezas - mesmo que por menor que seja. Isso não significa que não vamos nunca nos arrepender de uma escolha, pois muitas vezes escolhemos algo e o item se prova diferente da nossa expectativa - mas é tão gostoso ter algo (e saber o ) que realmente queremos, não é mesmo?
Um dos livros que mais amei ler neste ano, pelo menos até agora, foi: “A Place in the World: Finding the Meaning of Home”, de Frances Mayes, que você talvez conheça como a autora do livro que inspirou o filme “Sob o sol da Toscana”. Acho que há tempos não gostava tanto de um livro assim… tanto é que engatar a leitura de outro livro depois dele foi bem difícil. Neste livro, um fato que me chamou a atenção foi a história de uma amiga dela cuja casa não se parecia em nada com ela. A minha interpretação é a de que, por estar sempre em movimento, se mudando, esta pessoa talvez não tivesse feito uma casa a sua cara para não se apegar a algum lugar, o que faz muito sentindo para quem está sempre se mudando por aí.
Me doeu ler esses dias no Instagram o story de uma conhecida que disse que se mudou tanto de país que desconhece se algum dia teve uma casa pra chamar de sua. Em Comprometida, Elizabeth Gilbert menciona sua vontade de ter raízes depois de tanto viajar. Até ela, uma “viajante inveterada” reconhece a vontade de ter uma casa, de criar um lugar para querer passar tempo ali. Ter uma padaria para chamar de sua na vizinhança. Criar laços com a comunidade. Isso já foi tema de muitas conversas minhas com psicólogas: o que reconhecemos como casa? Casa é onde nos sentimos seguros.. Uma delas comentou uma vez que uma paciente sonhava com uma casa em ruínas quando a mãe enfrentava um tratamento de câncer. Casa também pode ser alguém.
Existe esta identificação com o lugar que chamamos de casa e isto é muito importante. E eu vejo nesta conversa como arquitetura (a questão do espaço de qualidade), interiores (os itens que nos trazem alegria, nos nutrem e refletem nossa história) e urbanismo (questões de memória, identidade e cultura) se interconectam. “Helena, como assim adicionar o urbanismo nesta conta?” Acho que tem a ver com encontrar nossa lugar no mundo também. Existe uma sensação de completude e preenchimento quando nos sentimos em casa. Retomei esse tema, já tão mencionado aqui pois queria falar sobre outros tópicos como necessidades, hábitos e vazios.
Hábitos e necessidades
Recentemente, li em Design Thinking, de Tim Brown, uma observação interessante acerca de pessoas: “O problema básico é que as pessoas são tão engenhosas em se adaptar a situações inconvenientes que muitas vezes nem chegam a perceber que estão fazendo isso” Ele menciona esta frase em relação à pequenos hábitos do cotidianos aos quais devemos observar em busca de insights para a criação de novos produtos e serviços, e ele continua: “elas se sentam em seus cintos de segurança, anotam senhas na mão, penduram jaquetas em maçanetas e prendem as bicicletas com correntes em bancos de parque”.
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