A psicóloga Isa Andrade me ensinou algo interessante no grupo de leitura (LEIA) que participo e que já comentei por aqui, uma coisa chamada “glimmer”. Um glimmer é uma oposição ao gatilho; é algo que conforta e traz aconchego; que nos auto-regula. É algo presente no nosso cotidiano e que muitas vezes passa despercebido. Pode ser uma comida, um cheiro, uma música. É uma forma sensorial de ativar uma memória boa capaz de mudar nosso estado atual. E o exercício que ela passou foi que descobríssemos e listássemos nossos “glimmers”. Tendo o nome e o efeito em mente, comecei a notar o que de fato poderiam ser meus glimmers… Dias após desta aula no grupo de leitura, me reparei com um post lindo da minha vizinha aqui,
, com a sua própria lista de auto-regulação; Era o incentivo que eu precisava para fazer a minha lista de glimmers.(1) Tomar café da manhã com calma e ler, quando eu não tive uma noite muito tranquila ou quando eu sei que o dia será agitado - tenho até dividido isso no meu Instagram. (2) Comer pão de queijo quando eu estou doente me traz conforto. (3) Lavar o cabelo quando quando não estou conseguindo lidar com alguma questão específica, parece que a água dilui os meus pensamentos e assim fica mais fácil chegar a uma solução.. ou (4) tomar um banho quente com uma vela de rosas quando eu preciso relaxar para dormir melhor. (5) Fazer bolo é algo que eu faço quando eu fico ansiosa, quase um momento de atenção plena ter que seguir uma receita nos mínimos detalhes. (6) sentar no chão e fazer carinho no Tibet, meu cachorro. (7) Músicas, muitas músicas… o efeito de Cantar hinos dos anos 90/00 ou de uma boa playlist inspirada no Studio 54 é transformador pra mim. Sim, eu tenho esses momentos que ninguém precisava saber… mas que eu quis dividir.
Esta semana, me perguntaram quais locais eu costumo frequentar em Campinas, e eu me dei conta que muitas vezes os caminhos me levam à
, que aliás acabou de ser laureada como melhor livraria do ano. Só de estar perto de livros eu já sorrio sozinha. E junto deste fato, há um glimmer capaz de me fazer pensar melhor, respirar… funciona melhor que meditação: o ato de caminhar pelo meu próprio bairro sem destino; flanar por aí.O objetivo desta newsletter sempre foi educar (e enriquecer) o olhar, seja para uma vida mais criativa e para viajar, mesmo que pelo seu próprio bairro, de uma forma diferente. Eu amo flanar por aí conhecendo cantinhos novos e observando coisas que eu ainda não tinha observado. Experimentando novas sensações. Caminhar é um tipo de glimmer pra mim; serve tanto para gerar novas ideias quando estou com algum bloqueio criativo, como já comentei aqui, quanto para exercitar o olhar. Esta semana, li o livro The Art of Flaneuring: How to Wander with Intention and Discover a Better Life, de Erika Owen, um livro que buscar o flanar sob uma perspectiva mais contemporânea, o que me causou um certo estranhamento.
Não, eu não amei o livro, mas gostei de algumas referências que ele traz consigo e também o alerta que ele faz acerca da necessidade de divagarmos, mesmo que online para a nossa saúde mental. A primeira referência que ela apresenta é o livro Flanêuse, que, aliás, é a escolha do primeiro livro para o clube do livro da newsletter (que vai sair em breve). Na sequência ela aponta tanto artigos acadêmicos, como um livro de um monge que vai colocar como podemos meditar enquanto lidamos com tarefas rotineiras. O livro indicado por ela é o “Paz é cada passo: O caminho da atenção plena” de Thich Nhat Hanh, que pela sua descrição, me lembrou um pouco um livro de Monja Cohen, “Aprenda a viver o agora”.
Esse novo olhar acerca do flanar rompe um pouco com a perspectiva com a qual estamos acostumados, a da literatura clássica, quando ela sugere flanar virtualmente (Cyberflaneur), sim, pelo google maps, o que ela chamou de “férias virtual”, ou se perder abrindo inúmeras abas no navegador - e é isso que me deixou incomodada, pois, ao meu ver, não existe flanar fora do ambiente urbano; é preciso este contato direto com a cidade; a experiência completa que estimula os sentidos. Ela até indica que a atividade no verão seja planejada, por exemplo, contemplando uma atividade social como um picnic ao final. No entanto, a autora nos mostra como agora precisamos dedicar uma atenção maior ao ato; seja em termos de segurança ou esvaziando os nossos pensamentos e redirecionando o olhar para observar com atenção o novo; aquilo que passava despercebido.
Um parênteses: Nesta semana, saiu um post piloto na qual eu exponho uma pequena curadoria de itens que me chamaram a atenção e que tem resistido em mil abas abertas por aqui.
Ela também apresenta questões como: “Como o flanar influencia o design”, o que chamou minha atenção, e também como o flanar é visto no mundo em diferentes culturas - o que eu gostei muito de ler. Enquanto nos Estados Unidos pode te colocar em problemas, na Inglaterra isso é até visto como um direito.. Já na Itália a “passeggiata” é vista como uma atividade análoga que pode ser feita em grupo, como um momento “conversa entre amigos”, após alguma refeição… até como acontece na Uganda, na Austrália ou na Alemanha, por exemplo. Ela toca em algumas referências semelhantes ao que eu tinha lido em “As formas da Alegria” de Ingrid Fetell Lee, como o banho de floresta Japonês, ou a conexão dos nórdicos com a natureza.
Ao finalizar, a autora reforça aquilo que já comentamos aqui: flanar por aí sem destino influencia o olhar, a criatividade e pode sim influenciar a nossa qualidade de vida - seja como redutor de ansiedade, anti-stress ou apenas algo a ser feito por puro prazer - para inspirar ou criar memórias. Nesta semana, em alguns momentos, sair por aí caminhando pelo meu próprio bairro foi uma forma de auto-regulação diante dos impactos das notícias acerca da calamidade que assola o sul do país; quase não teve newsletter pois eu não conseguia pensar em como falar acerca de casa e trabalho… Mas senti que deveria sim enviar, mesmo que em outro dia, quando li a carta que
enviou nesta semana, “Não tem título hoje”, que comenta esta situação e a vida no geral.E sobre o Rio Grande do Sul, que ainda vai precisar de nossa ajuda, gostaria de deixar aqui a página do NAU Live Spaces, empreendimento de uma amiga que está na linha de frente ajudando e muito a população de Porto Alegre. Em sua conta no Instagram eles reunem fontes seguras para doação, além de mostrar ações que estão acontecendo na cidade e no estado.
Por hoje é isto, até a próxima edição!
Que lista mais linda!!! Cheguei tarde, mas amei a edição inteirinha ❤️
Um glimmer é ler o que você escreve. Obrigada por compartilhar ideias interessantes. Beijos💕