O mês em uma edição
Semana passada, estava procurando um lugar para comer Baklava (ou baclawa) já que o lugar onde eu costumava comprar este doce fechou. Por acaso, fui buscar um livro numa livraria no centro e passei em frente a um restaurante libanês tradicional que há anos eu não frequentava. Foi então que eu vi que a bateria do meu celular tinha acabado, e eu pude saborear aquela baklava de nozes com bastante xarope de rosas com a maior atenção do mundo. Felicidade, foi isso o que eu senti.
Vale comentar que o livro que fui buscar foi este aqui: É isso que eu faço: Uma vida de amor e guerra - de Lynsey Addario - é o primeiro livro que vou ler de uma correspondente de guerra, eu o escolhi indicação de uma amiga e veio a calhar na temática de leitura de “mulheres que viajam”; já gostei que passamos pelos mesmos lugares - o que separa nossos olhares? Estou ansiosa para descobrir.
A baklava é um doce de origem grega/truco/oriente médio, e, pelo que eu pesquisei, foi o que inspirou a criação do strudel na Hungria, quando os turcos chegaram lá com o doce. Durante meu último intercâmbio nos EUA, eu tive a sorte de ter uma amiga grega, cuja mãe fazia e mandava muitas baklavas quando nós nos encontrávamos. É um dos meus doces preferidos, e eu posso dizer quem de alguma forma, na Grécia, eu me senti em casa. Esse sentimento de encontrar “casa” em outro país foi tema por aqui com como nos mostrou Frances Mayes em “A Place in the world”, cuja leitura rendeu bons posts por aqui, e Ajiri Aki e o seu delicioso Joie.
A Laís, do Cherry Gloss, fez um post que me chamou a atenção. Nele, embora o foco seja essas tendências inesgotáveis que surgem quase que diariamente no TikTok, ela mostra como é natural para nós estarmos em constante busca por novidades.
Recentemente, li este artigo: The fantasy of heritage turismo: “Returning” to a place you’ve never been”, de Gisela Salim-Peyer que aborda o turismo impulsionado pelos testes de DNA (e as empresas que os fazem, como o 23 and Me, por exemplo). Dos muitos comentários que a publicação deste artigo nos meus stories gerou, o de uma amiga me chamou a atenção. Para ela, isso poderia evidenciar um sentimento de incompletude. Será que eles estão em busca de algo que falta? Gostei da impressão dela, pois a que eu tive é que tem mais a ver com curiosidade. O artigo também comenta que algumas pessoas acabam se deparado com coisas que não precisariam descobrir, como o exemplo de que o antecessor saiu de seu lugar de origem por conta de uma acusação de assassinato. Por isso eu me lembrei de uma fala da minha avó de que, muitas vezes, é melhor não procurarmos por algo que não nos foi contado.
“É como plantar duas árvores em um vaso. Nossas raízes precisam encontrar seu lugar”
Past Lives (2003), de Celina Song.
Eu não acredito em vidas passadas, mas eu acredito um pouco em fatalismo, e acho que, podermos ter uma atração pré-determinada com lugares e pessoas - afinal como explicar algumas coisas, não é mesmo!? É com sutileza que Celine Song aborda o tema no longa Vidas Passadas (Past Lives, 2003). Nele, a personagem Nora comenta a palavra coreana In-Yun, de origem budista, que significa destino; mas mais do que isso as conexões entre duas pessoas e suas possíveis vidas passadas. Acredito que o filme vai ressoar de forma diferente em cada um, o que o torna uma experiência extremamente pessoal. E, acredito que o ritmo lento seja proposital - como se fosse uma forma de “decantar” sentimentos. Como se o filme preparasse o espectador para lidar com o que está por emergir ou aflorar. Em mim, ele teve esse efeito. Passei o filme inteiro atenta, em uma das últimas cenas senti os olhos marejados, mas, após o início dos créditos senti as lágrimas escorrendo. E é isso que mexeu mais comigo - é como se ele precisasse de um tempo para reverberar e provocar essa avalanche de emoções. Impossível não refletir após assistí-lo, especialmente se você, assim como eu, já mudou de país ou passou por alguma situação específica de viagem. Neste sentido, acerca de transformações culturais/choque cultural, a personagem de Nora me lembrou um pouco Eillis, do filme Brooklyn (dada as devidas proporções, é claro), que também imigrou para os EUA e que se encontrou um pouco dividida entre as duas culturas nas quais se encontrava - no caso dela, Irlandesa/Estadounidense.
“Você teve que ir embora porque você é você. E a razão de eu gostar de você é porque você é você. E você é a pessoa que vai embora."
PAST LIVES (2023)
O filme tem muitos diálogos maravilhosos, de uma beleza e honestidade que faz com que seja difícil escolher apenas um para incluir aqui… Eu não sou nenhuma expert em cinema, mas achei a fotografia tão linda. De alguma forma, ele me lembrou um pouco Sofia Coppola, mas mais sofisticado, embora também mais simples - como a imagem abaixo, são pequenos detalhes mas que contemplam beleza. Achei que os trajes de Nora tem um pouco da identidade da The Row, o que vale ser observado também. Já estou ansiosa para rever.
E por falar em corações, eu sou muito emocionada, o que revela bem o meu lado “Made in Brazil”. Aliás, este também é o título da música que um amigo fez e com a qual eu esbarrei sem querer num vídeo de moda no Instagram (Parece que viralizou no TikTok, mas eu não sou tão atenta por lá). Vocês também são fãs dos seus amigos? Eu sou!
Spoiler do que está por vir e outras coisas:
Comecei a ouvir o audiolivro de “O ato criativo: Uma forma de ser”, como está em português. Estou achando - até onde li - que o livro não contempla em si grandes novidades, mas reformula muito do que já foi dito acerca criatividade, adicionando um pouco de manifestação e espiritualidade. Dialoga um pouco com o que falamos aqui sobre estar presente e ter o olhar atento em um mundo em constante mudança, e insere esses temas como meditação, budismo e outras coisas. Logo no início, ele vai de encontro com o que Elizabeth Gilbert comenta em Grande Magia das ideias encontrarem uma forma de serem “canalizadas”; como uma história que precisa encontrar alguém para divulgá-la; é um tanto curioso, e eu sigo aqui prestando atenção, mas, a princípio não é nada como eu esperava. Para mim, soa como um mix de “Grande Magia” com “Guerra da arte” e alguns outros livros, o que necessariamente não significa que seja ruim, mas é aquela questão: tem um público específico - algumas pessoas não vão gostar pelo olhar com o qual o assunto foi abordado. Quando terminar de ouvir, conto mais sobre a experiência aqui.
Você sabia que a mesa de trabalho de Júlio Verne continha apenas uma caneta e seu tinteiro, e o trabalho que estivesse escrevendo no momento? E se eu lhe disser que o studio de Nova York de Mondrian era tão ordenado quanto suas obras que por acaso eram entregues envoltas em papel branco milimetricamente dobrado e que ele gostava de danças e ouvir música boogie oogie? Ou que Pollock teve que demolir uma parede de seu studio para conseguir trabalhar em uma encomenda?
Esses pequenos detalhes aprendi lendo duas obras autobiográficas. Uma delas é “Volta ao mundo em 72 dias” de Nellie Bly, que ainda estou lendo (e parece ser tão longo quanto o mês de Janeiro - e não tão interessante como eu imaginava). E sobre os artistas, aprendi com Peggy Guggenheim em seu Confessions Of an Art Addict - livro que me surpreendeu! Cheguei a abandoná-lo por uns meses, mas amei o final. É interessante ter esse vislumbre dos espaços de trabalho e a relação das pessoas com eles. Acho incrível descobrir esses pequenos detalhes sobre profissionais criativos, e acho que isso nos diz muito sobre eles. A leitura tem suas ressalvas dado ao tempo em que foi escrito (algumas partes não envelheceram muito bem), mas esse olhar interno do mundo das artes foi o suficiente para me ganhar. Vamos falar mais sobre isso em outro post!

O que está por vir:
Um dossiê de organização da casa - fiz um compilado do que gosto em cada autora sobre o tema; e o que eu acho que é fundamental para começar a deixar a “casa em ordem” - sem estresse.
A estética do espaço de trabalho - e como isso pode ser um valor e até influenciar escolhas…
… e mais, muito mais!
Nos vemos em breve.
Helena
Assisti a esse filme após ler a sua newsletter! Também achei a fotografia belíssima e adorei a trilha sonora.
Um filme belo, que desperta diversos tipos de reflexões.
Eu e meu marido nos conhecemos quando eu tinha 16 anos (e ele 20) e tivemos um breve relacionamento. E 8 anos depois nos reencontramos (morávamos em cidades e estados diferentes), começamos a namorar e nos casamos. O filme me deixou reflexiva, pois poderíamos ter seguido por caminhos diferentes.
Enfim, tem muita história dentro do enredo do filme e muita reflexão também para quem o assiste.
Beijos
Ler a sua newsletter requer um caderninho ao lado para anotar tantas referências interessantes, Helena! Obrigada por compartilhar 💌