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“A Era das Escolhas”
Estima-se que tomamos 35 decisões por dia. A todo momento somos bombardeados por escolhas. Por aqui, o mês de março foi um mês de equilíbrio. Eu li pouco por prazer e mais pro trabalho, o que significa que eu me abri para ver mais filmes, como “Uma dor real”, recentemente o indicado ao Oscar (veja o review dele aqui), que fala sobre primos diferentes embarcando em uma jornada pela história de sua avó. Escolhi tomar um vinho branco simplesmente maravilhoso que mudou minha relação com vinhos - afinal, como tomar outro vinho que não um vinho branco natural após experimentar este? Desde então, acho que já o bebi mais umas 3 vezes.
Atualmente, além das mil escolhas que fazemos, temos muitas opções dentre as quais escolher - seja de livros, de filmes, de vinhos - além de tantas outras. Às vezes é comum estarmos tão cansados de escolher que queremos apenas que alguém escolha por nós, mas “não escolher é também fazer uma escolha” - frase que minha prima adora repetir. Enquanto minha amiga, também psicóloga, fala “Se você não tem o que escolher, não é uma escolha”. Recentemente, ouvi um episódio do Critics at Large, da revista The New Yorker (que você pode ouvir abaixo), comentando o tema a partir de um livro chamado: “The Age of Choice: A History of Freedom in Modern Life”. Você sabe como eu sou facilmente influenciada neste campo... não posso ouvir uma indicação de livro que já corro para ler o mais rápido possível.
No episódio, eles comentam acerca das nossas escolhas como um exercício da liberdade e como estamos numa época na qual há uma abundância de opções, e é justamente, segundo um dos comentaristas, a escassez que faz com que nossas escolhas pareçam mais preciosas enquanto no livro, a autora discorre, recorrendo a Kant como escolhas trazerem a liberdade mas também introduziu a ansiedade na humanidade.
“Recall Immanuel Kant insisting, in his high-Enlightenment Conjectures on the Beginning of Human History of 1786, that the initial discovery of choice both opened up the freedom for people to craft their own futures and introduced unending anxiety into human history”
The Age of Choice - Sophia Rosenfeld
Estética e escolhas
O livro, escrito por Sophia Rosenfeld, é interessante e sua divisão aborda 4 tópicos: A escolha de coisas, a escolha de ideias, as escolhas românticas, as escolhas políticas. Para então comentar a ciência da escolha e o passado e o futuro do “direito de escolha”. Hoje aqui, vou comentar rapidamente a escolha por coisas muito brevemente.
Em sua epígrafe, uma frase do autor James Baldwin, incluída no livro Another Country (1962), chama a atenção: “E ele pensou, “As mulheres têm mais coragem do que nós”. Então, ele pensou, “Talvez elas não tenham escolha”’.
O que me chamou muito a atenção no livro foi o fato de mulheres estarem ligadas à compras e à estética desde cedo por serem um campo no qual elas tinham o direito de escolher (a autora até menciona muito en passant a relação e o pioneirismo de mulheres em museus - o que quero reler e explorar mais). E, mesmo quando elas escolhiam não escolher - estavam exercendo este direito. Esse ato de escolher algo para comprar foi refletido até na literatura como uma forma de, internamente, a personagem refletir sobre a vida. Ela menciona alguns autores do século XVIII mas acho que no podcast - caso não esteja enganada - comenta-se a maravilhosa cena da figueira de “A redoma de vidro” de Silvia Plath, um livro impactante.
A autora nos apresenta o advento da propaganda a partir de um leiloeiro de Londres no meio do século XVIII, Mr. Cock. Em uma época na qual a produção de itens era escassa, o mercado de usados era muito explorado. Mr Cock acreditava que o leilão deveria ser uma experiência ao invés de apenas um evento para vendas. O que ele fez então foi expor os itens que iriam à leilão e convidar pessoas para verem e examinarem as peças antes do evento. O público feminino era tão importante que tinha um horário exclusivo para ele.