Inspirações e Referências
Os cômodos da casa e a vida diária: Livros na sala de jantar
Esse post talvez soe como uma sugestão estranha para você. Acredite, eu também estranhei ao ouvir essa sugestão em 2020, no entanto, hoje em dia eu tenho refletido acerca do assunto.
Comentei sobre isso no post sobre a nossa casa e o nosso lugar no mundo. Eu tenho uma relação especial com livros. Se você já fez uma ligação de vídeo comigo, provavelmente você viu minha pequena biblioteca. Abaixo transcrevo uma frase da designer de interiores australiana Natalie Walton:
Style is at the heart of who we are.
It’s our story in visual form: a physical expression of how we feel. And it’s what we choose to prioritise in our homes and lives.Natalie Walton
Recentemente, em seu podcast, Imprint, ela produziu um episódio chamado: What does your home really say about you? (o que sua casa realmente diz sobre você?) Eu recomendo o episódio pois ela faz uma série de perguntas incríveis para alinhar a vida que você quer ter com a casa que você quer ter. (Vamos chegar na biblioteca com a sala de jantar já já).
Pra mim, a pergunta mais interessante de todas é: Como você quer se sentir quando você entrar pela porta da frente?
No começo de 2020, eu fiz a decoração do apartamento de uma das minhas melhores amigas, que precisava de um escritório em casa que ela ocasionalmente usaria para atendimentos online. Eu lembro de ter falado para ela que criaríamos um lugar com uma linguagem diferente do resto da casa - com uma cartela de cores específica, que pudesse parecer como se ela estivesse em outro lugar. E, assim que ela fechasse a porta, ela estaria trabalhando. Pra mim é muito claro essa divisão do espaço de trabalho dentro da casa. Eu realmente acho que ter algo diferente do resto da casa, pode dar a sensação de estar fora de casa. Isso era muito óbvio para mim.
Mas.. sabe aquela história de que o que é óbvio para um não é óbvio para o outro?
Durante a pandemia, estava assistindo uma aula de decoração com uma designer de interiores estadounidense bem tradicional. Eu sempre falo que podemos aprender algo com o outro, mesmo com linguagens projetuais distintas, certo? Pois bem, ela é daquelas que referenciam Versailles. Que usam camas com dossel, papel de parede e mil estampas no mesmo cômodo. Então, ela faz projetos assim, que parecem que nasceram tombados pelo patrimônio histórico - o meu oposto.
Eis então que ela fez uma colocação que até então não fazia muito sentido pra mim, mas mudou a forma como eu via a minha casa. O questionamento que ela fez foi o seguinte:
“Porquê temos salas que usamos uma vez ao ano? Porquê dedicamos tanto espaço à salas de jantar formal e temos escritórios tão pequenos? Porque não unimos ambientes com a finalidade de lhes dar mais vida e os ocuparmos diariamente? Então, ela mencionou: porque não termos a sala de jantar em meio à uma biblioteca e assim a mesa de jantar ser usada de diferentes formas?”
Essa aula foi gravada bem antes da pandemia, numa época no qual os escritórios (pra ser sincera, não lembro como ela chamou o cômodo - talvez tenha sido biblioteca mesmo ou sala de desenho - juro!) ainda eram usados para pequenas atividades, ou como ela menciona, para que as crianças fizessem a lição de casa.
Quando eu ouvi aquilo, eu pensei: Nossa, o óbvio de um realmente não é o óbvio para o outro. E fiquei pensando em uma possibilidade que já estava se passando pela minha cabeça: juntar o meu escritório com a sala e fazer ali um espaço que eu pudesse usar diariamente pela maior parte do dia, já que eu fico a maior parte do dia no escritório, o menor quarto da casa. Imagina poder ocupar um espaço mais iluminado, mais ventilado? Ao contrário da minha amiga, que precisa de privacidade, eu trabalho com a casa. Vivenciá-la me ajuda a criar. Meu apartamento é pequeno, mas é o suficiente para mim. Então, a colocação feita por aquela senhora fazia muito sentido.
Acompanhando os lançamentos atuais, com as devidas restrições, é possível ver que os apartamentos estão cada vez menores. É difícil achar um apartamento com espaço de qualidade que não exija muitas mudanças. Ou eles tem o espaço e são antigos demais, o que implica em uma série de mudanças, ou tem mais espaço do que precisamos, enfim. Acho que uma das piores opções que podemos ter é encontrar um apartamento no lugar ideal, com um preço maravilhoso e muito maior do que a nossa necessidade. Eu não sei você, mas eu tenho pavor de ficar sozinha em apartamentos grandes. Eu sei disso por experiência própria. Eu não apenas me mudei para um apartamento menor, como eu já visitei vários apartamentos no bairro onde moro (de 30m2 à 600m2), e reconheço que a qualidade de alguns dos espaços disponíveis não é das melhores. Muitas vezes os espaços são compartimentados, a iluminação nos cômodos destinados à serem escritórios, não é satisfatória, enquanto a sala brilha inundada pela luminosidades das porta-janelas. Ou os escritórios são pequenos e a nossa biblioteca é tão grande, que esta é uma forma de fazê-la brilhar.
Os livros não precisam ficar limitados a um espaço escondido ou restriro, eles podem inundar a sala. Esta opção que coloco aqui é destinada para aqueles que moram sozinhos, ou até mesmo um jovem casal que precisa de dois cômodos como escritório e, no entanto, só tem um. Para quem tem a possibilidade de ter uma sala de jantar formal e uma copa, dando vida para a sala, não limitando seu uso apenas para atividades festivas e sim incluindo-a na vida cotidiana. As vezes, como opção em uma casa de praia ou de campo… Enfim, se você acha que esta pode ser sim uma opção interessante para você, veja algumas inspirações que separei abaixo.
Abaixo, selecionei algumas inspirações na qual a biblioteca invadiu a sala de estar. Lembrando que a gente pode se inspirar em composições opostas às nossas linguagens.
Poucos Livros e Alguns Objetos
Não poderia começar com outros exemplos que não os que eu mais gostei. O constrate entre o branco e o preto com a colocação da madeira. A simplicidade das formas. O não excesso de objetos expostos.
Quando as cores dos livros se ausentam

Escolhi essas fotos por três motivos (1) o espaço pequeno que contempla uma mesa com 4 cadeiras. (2) O mesmo mobiliário em ambientes com mensagens bem diferentes - podemos ver a mesa saarinen e as cadeiras saarinen em contextos opostos. À esquerda, num ambiente com cadeira de palhinha, no segundo num ambiente com ar mais moderno. (3) O styling: as cores dos livros não interferem nos espaços. Novamente, no ambiente à esquerda, a lombada está oculta, vemos quase um degradê composto pelos tons de off-white e bege dos miolos. Já na imagem na direita, temos lombadas em tons uniformes, cuidadosamente escolhidos para compor o espaço.
A sala de jantar ganha ar informal mas continua aconchegante
Comer em bibliotecas nunca foi possível para nós, mas por quê não? Sua casa, suas regras. Veja como as lombadas dos livros inundam o espaço com cor, apesar da base neutra da madeira e das paredes brancas.
Eu prefiro muito mais a simplicidade do ambiente da esquerda com a mesa reta e as cadeiras wishbone, o qual os livros parecem ser parte da composição do ambiente e não o destaque, ao contrário do que acontece com a mesa mais pesada da direita somada às cadeiras panton, no ambiente que me passa a impressão de que os livros tem um peso visual maior, mesmo sendo em menor quantidade, talvez pelo formato da estante.
Um ambiente colorido e leve.
Neste exemplo, vemos uma estante feita em estrutura metálica, que apresenta uma leveza diferente dos exemplos anteriores. A mesa, que parece garimpada num antiquário, brilha. Um ambiente com história e personalidade.

Não são salas de jantar com livros mas podem inspirar
Eu gosto sempre de pegar referências visuais. Neste caso, temos uma sala de uma casa com prateleiras e objetos, na outra, temos uma loja com objetos e amostras expostas que poderiam nos inspirar.
Imagina expor seus livros mais preciosos como se fossem quadros? Ou até mesmo deixá-los abertos em suas páginas preferidas. Ousado ou conceitual?

Veja bem, você pode estar pensando: mas juntar uma biblioteca/escritório e sala de jantar? E a bagunça? Pois bem, acredito que com um bom projeto, é possível fazermos um planejamento do espaço e uma organização que não deixarão que a bagunça, nem mesmo do mais bagunceiro, apareça.
Amo livros perto da mesa de jantar! E eu, frequentemente, saio do escritorio, menor cômodo da casa, para me espalhar prla mesa de jantar, grande, iluminada e com vista! Tao mais agradavel!