Inspirações e referências
Elsa Peretti: traduzindo experiências em design

Aqui no Brasil muitos a conheceram apenas recentemente com o lançamento da série Halston, no Netflix. No meu círculo de amizades, Elsa já habitava a mente de quase todos com suas coleções para a Tiffany, a tradicional joalheria norte-americana, que a chamou de Visionary Designer. Recordo-me até hoje de quando vi as sua coleções no site da marca aos 12 anos. Na época, a Coleção Diamonds by the Yard™ era a minha preferida. Hoje, me perco dentre os objetos e não sei dizer qual seria o item mais desejado. Um bracelete bone talvez?
Elsa deixou a Itália, seu país natal, em 1960 e mudou-se para a Espanha, onde fez parte do entourage de Salvador Dalí e opsição à Franco, como nos conta este artigo da Vogue. (Eu pessoalmente sou super curiosa para entender os círculos que as pessoas frequentavam). Ela se formou em design de interiores e, inclusive, chegou a trabalhar com o arquiteto italiano Dado Torrigiani antes de embarcar para Barcelona. Inclusive, ela tem uma villa na Espanha, a Sant Martí Vell, próxima à Barcelona e que contempla algumas de suas criações, e foi não apenas retratada pela Vanity Fair, como também tida como sua “salvação”. Foi a carreira de modelo que a levou para Nova York em 1968, como reporta este artigo da Remix Magazine - recomendo a leitura.

Elsa não apenas declarou sua independência de seu pai e viajou em direação aos Estados Unidos. Já estabelecida em Nova York, Elsa viajou para países como China, Japão e alguns outros na Europa, onde encontrou inspiração para suas coleções. Segundo a Vanity Fair, “Ela apoiava ateliers e artesãos no Japão e na Itália, mas muitos de seus artesãos estavam perto de Sant Martí. Ela tinha vínculos fortes com eles, assim como com seus clientes”.
De acordo com o site The French Jewelry Post, o que mais encantou Elsa Peretti em sua primeira viagem ao Japão em 1969 foi, ao mesmo tempo, a tecnologia e a tradição da artesania.

Em 1990, o Fashion Institute of Technology exibiu a exposição: "Elsa Peretti: Fifteen Of My Fifty With Tiffany", em decorrência decorrência dos 15 anos de trabalho dedicados à Tiffany e seus 50 anos de vida - Veja um vídeo retrospectiva aqui. O catálogo, já esgotado, foi feito sob a forma de scrapbook, apresentando os trabalhos da designer, suas inspirações e mais. Eu gosto deste formato e acho que funciona muito bem como uma forma de apresentar a exposição pois nos apresenta suas reflexões e pensamentos. A página acima exposta, como relato de viagem é fascinante, traz foto da viagem, croquis, esboços e o produto em si. Adoro a anotação: Laca, seca, bamboo - em referência à possíveis materiais. É uma forma de apresentar não apenas as inspirações e referências como também o produto, ou seja, todo o processo criativo.
No catálogo da exposição há seção chamada: My people, no qual são apresentadas fotos de Elsa e outras pessoas em diferentes lugares. Em Hong Kong em 1981, Kyoto em 1977 e 1986, em Barcelona, Florença. Eu suponho que essas pessoas sejam fornecedores e amigos. E isso é uma parte importante das viagens. Elas nos colocam em redes nunca antes imaginadas. Nunca é apenas sobre os lugares e as inspirações mas também os encontros que fazemos e como eles podem ser transformadores e nos influenciar.
No catálogo da Exibição a designer comentou acerca de suas inspirações. Ela disse:
“My roots are in Europe. I find it ideal for translating my experiences into my work. But I can hold a cup of sake on a fool moon in Japan and the reflection of the moon in that little cup can make me feel so enthusiastic about beauty. That one good, magical moment can give me enough to create other things.”
Amo que ela coloca a seguinte frase: “traduzir minhas experiências no meu trabalho”. Trabalho este que hoje está ou já foi alvo de debates em acervos de museus no mundo tamanha sua importância. Seja no MET, no MFA de Boston ou no de Houston, no The British Museum e até mesmo no Collecting Guide da tradicional casa de leilões da Christie’s, é possível reconhecer sob a forma de uma jóia, acessório ou item de décor, as experiências que a designer “que se inspirava na Espanha e ‘agia’ em NYC” teve pelo mundo.
Sua trajetória foi laureada com diferentes prêmios ao longo da vida, inclusive o “Leonardo da Vinci” Lifetime Achievement Award 2019, que ela recebeu na Bienal de Florença em 2019, antes de seu falecimento em 2021.
Como um de seus legados, além das coleções maravilhosas que transformaram a joalheria, Elsa deixou a Nando and Elsa Peretti Foundation, em homenagem à seu pai. Uma fundação que atua em diferentes áreas, desde causas sociais e ambientais até a promoção da cultura.
“Her pieces, designed in the seventies, were revolutionary and to this day are still timeless, distinct and modern. They transcend fashion and will still look new a hundred years from now.” Jolain Muller.