Primeiro post do ano e eu resolvi falar sobre os meus itens preferidos: chaises, poltronas e cadeiras.
Bom, se você acompanha as trends de decoração, já percebeu que o rattan, especialmente na trama cannage está em alta. Tão em alta que até a gigante H&M tem desde 2019 uma coleção de itens de rattan em seu catálogo - de cestos a cabides; até sua própria cadeira de madeira e palhinha.
Se você é da turma do Pinterest, provavelmente viu seu feed ser inundado nos últimos anos (a partir de 2016/2017 talvez), uma chuva de referências que incluem a cadeira Chandigarh, de autoria do arquiteto Pierre Jeanneret. Cadeira esta que é, inclusive, destaque na imagem de capa do livro Live Beautiful (2020), de Athena Calderone - uma interior designer que eu adoro. Nas páginas do livro, a mesma cadeira aparece em diferentes lares e configurações. É a típica cadeira que faz brilhar os olhos de quem gosta de design. Se você ainda não fez a associação, o arquiteto Pierre Jeanneret é primo de Charles-Édouard Jeanneret a.k.a Le Corbusier - o resto desta história você já sabe.

Esta cadeira data de 1955-1956 e foi feita para compor o projeto de Chandigarh, feita por Le Corbusier. Chandigarh é uma cidade na Índia que foi projetada pelo arquiteto na década de 1950 e hoje é reconhecida como Patrimônio Mundial da Humanidade pela UNESCO. (Vou colocar aqui o site da Fondation Le Corbusier que fala sobre o projeto) De seu projeto original até o Pinterest (especialmente as buscas que incluem a temática French Girl Apartament) e a sala de jantar de alguma das Kardashians em 2016, a cadeira percorreu um longo caminho, como comenta este artigo da AD. Seu desenho simples e suas variações mostram as experimentações feitas por seu autor. Este modelo, com o encosto apoiado nos braços, certamente tem uma leveza muito mais do que seu design original. Veja outros itens projetados pelo arquiteto aqui. Confesso que gostaria de ver mais destas aqui por aí..

Pois bem, quis ilustrar com esta cadeira que tem chamado a atenção recentemente (você pode encontrá-la um modelo similar a venda aqui no Brasil pela BooBam), e vemos um resgate não apenas de mobiliário desta época, como também do uso dessa trama em rattan que conhecemos tradicionalmente como palha indiana. Há diferentes tipos de trama que podem receber nomes como Mesh ou Grille style, apesar de incomum já a vi ser nomeada assim, mas o mais visto continua sendo o Cannage (foto abaixo). Já comentei aqui que o desenho cannage em uma cadeira serviu de inspiração para Christian Dior fazer a estampa das bolas Lady Dior e, posteriormente, da marca como vemos até na edificação Dior Ginza, de autoria do Inui Architects.
Apesar de ser considerada um estilo atemporal, a “palhinha” voltou em meados de 2019 e se mantém como trend nos anos 2021-22. Sendo essa artesania algo secular advindo da Ásia, vale lembrar que a palhinha também teve seu momento durante o movimento moderno. Apesar de muitos relatarem sua força na décor nos anos 1950 (alguns falam 1940/50 outros 1950/60 - em 1970 o rattan já é usado de outra forma no design mobiliário) vale lembrar que ela chega na Europa antes disso. Resolvi então destacar aqui algumas das minhas cadeiras e poltronas preferidos que incluem rattan em seu desenho.
Cadeira Cesca, de Marcel Breuer
Vou começar com aquela que é, pra mim, uma das cadeiras mais bonitas do mundo: a Cesca, projetada por Marcel Breuer em 1928, e nomeada assim em homenagem à sua filha Francesca. Em madeira com estrutura tubular e o padrão Cannage, o encontro da artesania com a produção industrial - eu confesso que eu ainda suspiro toda vez que olho esta cadeira. Um exemplar original da cadeira, no Brasil, custa em média 5.500,00 reais como este disponível na Casa Teo, já as reproduções custam em média 3 mil reais.
Cadeira de balanço Rio, de Anna Maria e Oscar Niemeyer
Também no rol das minhas preferidas (sonho máximo de consumo em termos de mobiliário, ouso dizer), a cadeira de balanço Rio, de Oscar e Ana Maria Niemeyer é o design que faz jus à frase: “Niemeyer tem as curvas dos Rio nos olhos”. Feita em madeira, rattan e couro, data dos anos 1970, tendo sido re-editada pela Etel Design em 2013. A cadeira não é facilmente encontrada. Seu preço médio em antiquários no Brasil é de 30 mil reais, nos Estados Unidos o valor chega a 35 mil dólares. Pessoalmente é ainda mais bonita e elegante.
Anterior à poltrona, vale a pena conhecer o banco Marquesa, também em madeira e palha. Não é uma das minhas preferidas, mas sua beleza é inegável. Uma obra cuja simplicidade do desejo chama a atenção, atraindo todos os olhares do cômodo onde ela estiver posicionada.
Poltrona Oscar, de Sérgio Rodrigues
Outro clássico do design brasileiro, que figura na lista dos meus preferidos, é a poltrona Oscar, de Sérgio Rodrigues, que data de 1956. Em madeira e palha, a poltrona foi concebida para compor o Jockey Clube do Rio de Janeiro, sendo nomeada assim em homenagem ao arquiteto. Essa não é a única versão da poltrona, que pode ser encontrada com assento em couro também. Quem revende o modelo é a Dpot, embora ela também possa ser encontrada em diferentes antiquários no Brasil.
Cadeira No. B29, de Michael Thonet
Engana-se quem acha que foi apenas nesses períodos que a “palhinha” brilhou. Na Áustria, no final do século 19, o material, que ainda não era tão conhecido, passou pelas mãos de Thonet, que começou a confeccionar o assento de alguns modelos de cadeiras com ela. O modelo B29, utilizado por Le Corbusier nos anos 1920, e, inclusive, considerado “notável” pelo arquiteto - como aponta a sua descrição no site - é um dos modelos que eu fiz questão de colocar nesta lista. Apesar de se diferenciar um pouco das outras já apresentadas, adoro a elegância que suas curvas trazem aliada à simplicidade de seu traço. Mas, confesso que tenho uma queda por alguns modelos de cadeira Thonet.

No. 811 Hoffman, de Joseff Hoffman e Josef Frank
Concebida entre as décadas de 1920-30, a cadeira No. 811 Hoffman, produzida pela Thonet, e suas variações também têm seu charme.
Dicas de Styling:
Eu prefiro usar cadeiras de palhinha com médio ou alto constraste, ou seja, com a madeira em sua cor natural mais escura ou tingida de preto.
Para um ambiente mais “natural”, ou seja com o uso de folhagens; tecidos naturais e cores neutras, prefira as cadeiras com baixo contraste entre madeira e assento, como por exemplo a 811 Hoffman em Walnut ou Natural. Perceba que a versão sem braço assume um papel mais natural, enquanto a com braços fica até mais “romântica” no ambiente. Já as em carvalho ou tingidas de preto, assumem um papel diferente, se destacando mais no ambiente.
Amo a combinação de Poltronas Oscar num ambiente branco, acho que fica com uma brasilidade, uma bossa “bem nossa”. Um cuidado: já as vi utilizadas em uma mesa de jantar e a ideia não me agrada muito. Prefiro quando usadas como poltronas.
Menos é mais: Com algumas exceções, é melhor ter uma, no máximo duas cadeiras desta num ambiente, do que várias. Acredito que assim elas ganham posição de destaque; o ambiente fica com mais cara de ter passado por uma curadoria e seleção meticulosa.