Eu amo café. Eu tomo café todos os dias em diferentes horários, mas eu nunca fui muito curiosa sobre café. Não é como o chá ou o vinho, era apenas algo que fazia parte da minha rotina diária, mas que eu não conhecia muita além do que eu considerava básico.
Em 2020 minha cafeteira elétrica estragou em plena pandemia e eu comecei a procurar por alguma que pudesse substituí-la.
À princípio pensei que uma Cafeteira Single ou até mesmo o modelo de Cafeteira “to go” seriam uma boa opção: simples e funcionais, em uma delas até cabe meu copo, posso fazer o café e sair. Mas, em tempos de pandemia não fazia sentido, afinal eu não podia sair de casa.
Cafeteira com programação era a número um em meus pensamentos (imagina acordar com o cheirinho de café?), até começar a ler as mil e uma reviews sobre todos os modelos possíveis. Cafeteira elétrica normal? Seria muito simples, eu pensava. Ver na internet é uma coisa… mas quando eu via pessoalmente os modelos entendia que eles não atendiam minhas necessidades. Eram grandes demais, ou tinha necessidades específicas demais quanto à moagem dos grãos, filtros e etc … Eu só queria fazer um cafezinho de manhã e outro a tarde para uma pessoa, eu gosto de café fresco e não que fica guardado na garrafa térmica. Ah, tinha até um modelo de cafeteira que fazia direto na garrafa térmica e outro que parecia um filtro de água, ou seja, ele guardava o café dentro da cafeteira e você só apertava o botão para ter seu café. E tinha uma que era simples e funcional mas com design minimal que eu amei também…
Eu me perdia com tantas escolhas e a minha lista de prós e contras começou a não fazer sentido algum…
Sempre tem a solução mais imediatista, né? Aquela: “vou terminar logo com isso e resolver o assunto”. A minha opção para isso era sempre a Nespresso com aeroccino, mas ela gera muito lixo, tem que ficar comprando cápsulas, a cápsula reutilizável tem muitas reclamações, e o principal: eu nem gosto de espresso - me dá uma energia inexplicável e eu acabo adoçando o café. Toda manhã eu pensava: Eu gosto de lattes, será que compensa comprar um aerador? Eu tenho um, mas não funciona direito com leite desnatado.
Continuei fazendo meu café do modo mais convencional possível: com coador e filtro mellita. Não me dava trabalho e eu adorava o processo de passar o café todas as manhãs, me questionando se de fato a cafeteira seria necessária.
Fiz um post no Instagram pedindo recomendações de boas cafeteiras. E “Que tal uma Bialetti?” foi a pergunta que mais recebi. Uma das minhas melhores amigas, que me conhece, foi logo comentando “compra um V60”, fiquei com preguiça só de pensar na balança, no filtro de papel, no coador, na chaleira bico de ganso (que acho linda) e no recipiente. Uma outra perguntou o que eu achava da Prensa Francesa, falei que só de pensar na bagunça que era limpá-la depois de usar, eu desistia.
Até que um amigo, que me conhece bem, fez a fatídica pergunta: “Helena, que tipo de café você prefere?”.
E eu me senti a Maggie (Julia Robberts) em Noiva em Fuga quando ela tem que responder qual é seu tipo preferido de ovo.

Bom, de imediato eu soube responder “não gosto de espresso nem de cafeteira italiana, gosto de café coado”, mas isso não era o suficiente. Veja, eu amo chás, eu sei especificar com precisão o tipo de chá que eu gosto; eu tenho pelo menos 5 jogos de chás e mais alguns de servir café. Trouxe cada um deles na mala em inúmeras situações. Na China me aventurei em uma casa de chá aprendendo o ritual para fazer cada um deles. Eu tenho essa relação super especial com chás. Mas e o café?
Já tive diferentes experiências com café. Do vietinamita ao cubano, já tomei vários mas nunca desenvolvi um apego com a bebida para além do funcional. Bom, eu gosto de variedade de grãos, já cheguei a ter mais de 7 tipos diferentes de pó de café. Por muito tempo só usamos café colombiano em casa. Retirei minha prensa francesa do armário e a coloquei em uso. Percebi que precisaria mudar o pó de café que eu usava, uma vez que ele não era adequado para o método. Por um minuto pensei em comprar uma cafeteira mais completa e até mesmo um moedor de grãos. Comecei a investigar, assim como a Maggie faz com os ovos no filme. Experimentei fazer uso do drip coffee (amei este da Orfeu) como uma alternativa diária, aprendi a usar a prensa francesa como aerador, o que me permitiu tomar lattes todas as manhãs ao acordar. Entendi o tipo de grão que eu gostava. Entendi que eu não tenho a paciência de um barista para usar um V60, mas que tenho um fraco pela beleza de um Chemex desde os tempos de Friends.
Cheguei à uma conclusão: Eu gosto de espressos, desde que seja como conhecemos como “americano”, também gosto do café ao estilo americano, que muitos brasileiros odeiam. Não vivo sem lattes, e gosto de autênticos cappuccinos italianos e no calor troco todos eles por um Cold brew ou um Iced Coffee ou Iced Mocha. Mas o meu preferido ainda é o tradicional, o simples, o café coado coado bem feito - que eu sempre tomo mesmo que esteja fazendo 40 graus lá fora.
Após repensar minhas preferências e todos os modelos já vistos, pensei em investir e comprar uma Breville, mas acabei desistindo pela falta de um espaço adequado para ela na minha bancada e pelo alto investimento. Um dia, passando o café pela manhã, tive um pequeno acidente doméstico: o coador caiu, e com o susto, acabei espalhando café e água por toda a cozinha, inclusive em mim. Foi nesse dia que entendi que eu deveria comprar algo que à princípio fosse mais seguro e mais adequado para minha necessidade. Em Dezembro, por acaso, acabei vendo diferentes modelos de Chemex e me apaixonei por um deles: um modelo bem minimalista com alça (parecido com este aqui) - com capacidade de até 400ml, quantidade ideal pra mim, feito em Borosilicato, um vidro mais resistente à altas temperaturas, e com coador inox - ou seja, sem precisar do coador de café de papel.
Demorou quase um ano e meio até eu tomar minha decisão, mas não era algo que eu necessitava imediatamente (e também foi sendo postergado pelo fato de estar em casa durante a pandemia), e eu quis me propor esse exercício de ver o que realmente era o melhor para mim e minha necessidade. Ah, e o que melhor se adequasse à linguagem dos itens que eu já tinha em casa.
Essa história que contei da cafeteira parece boba e simples mas, muitas vezes, vejo pessoas se precipitando em comprar itens para suas casas (e aqui vale de sofá à décor) para “resolver logo o assunto”, não levando em consideração seu gosto pessoal e a linguagem de sua casa. Sendo assim, resolvem o assunto de forma simplista e se arrependem depois. Quando eu comecei a falar que fazia SLOW décor, eu não me referia ao movimento em si e sim ao falto de ter um processo de tomada de decisão mais longo e participativo, no qual o cliente tinha alguns dias para entender/assimilar algumas mudanças e escolhas em seu projeto.
Sempre cometo o caso de uma cliente que queria um sofá verde escuro. Propus à ela que ao invés do sofá, escolhêssemos cadeiras verdes e poderíamos colocar a tinta erva-doce (um verde clarinho) na parede principal do cômodo, atrás das cadeiras, mas que o sofá deveria ser de linho rústico em algum tom mais pro creme/cru/bege. Ela não gostou muito da ideia das cadeiras, pediu outras opções. Investigamos então algumas cadeiras de palhinha com madeira. Dias depois ela disse, acho que agora entendi o porquê da cadeira verde, realmente vai ficar melhor. Esse processo demorou algumas semanas, mas fez sentido para ela e ela ficou muito feliz com suas cadeiras verdes, a parede erva-doce e o sofá cru com um painel freijó cobrindo as paredes principais do cômodo. O que quero dizer é que as vezes criamos algumas expectativas quanto à uma ideia ou à um item de décor/mobiliário, sem saber de fato o que é o melhor para o espaço. E o arquiteto vem e muda tudo e entrega o projeto em 15 dias e puff! Mal temos tempo de assimilar essa troca entre expectativa e proposta. Temos que ficar bem no espaço que habitamos, pois ele vai abrigar as memórias que desejamos criar. Por isso, tudo bem demorarmos um pouquinho para tomarmos uma ou outra decisão (não um ano e meio, por favor rs) pois algumas decisões são vitais; elas dialogam diretamente com nossas expectativas e sonhos.
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