Modern Love: objetos e memórias
Foto: Minnie Driver, em Modern Love, representando a médica que estabeleceu uma relação afetuosa com seu carro esportivo, um modelo stag. Fonte: Amazon Studios
Estava passando pelo meu Instagram e me deparei com uma frase ótima que a @thaidemelobufrem postou em seu Instagram ao fazer a foto de sua leitura atual. Infelizmente não sei qual o livro, mas a frase diz o seguinte: “Se a vida fosse uma linha, seria possível planejá-la. Mas nossa vida é apenas uma série de pontos. Uma vida bem planejada não é algo a ser tratado como necessário ou desnecessário - ela é simplesmente impossível” .
Eu planejei todo o conteúdo que escreveria diariamente aqui ao longo do primeiro mês, no entanto, percebo que tal como a vida, o conteúdo é impossível quando se tem na mente uma efervescência que faz com que eu queira comentar assuntos diversos e diferentes, especialmente quando evocam associações com algo diferente.
Vocês assistem Modern Love no Prime? A série, inspirada na coluna homônima do New York Times nos emociona com histórias reais e, ao mesmo tempo, nos cativa com sua liberdade poética advinda dos roteiros de filmes.
Confesso que vi apenas os três primeiros episódios desta nova temporada. Contive o impulso de assistir tudo de uma vez, como fiz com a temporada anterior, e estou vendo apenas um por dia. Ontem, quis rever o primeiro episódio da temporada atual. (Suspiro) que lindo!
As falas proferidas pelo marido de Minnie Driver compõe a minha cena preferida do episódio. Cenas assim, na qual há ‘quase um monólogo’ por parte de um dos personagens me encantam. Parecem leituras de cartas, de tão sentimentais. A meu ver temos mais cuidado com as palavras e frases ao escrevê-las do que ao proferí-las num diálogo em construção, como costumamos ter na ‘vida real‘. Me lembrou um pouco a cena de Call me by your name, acho que se complementam ao falar sobre sentimentos.
Estou fazendo meu máximo para não dar “spoilers”, mas, acho que a beleza do episódio é mostrar como nós significamos tanto objetos, conferindo-lhes o poder não somente de abrigar memórias, mas também, de alguma forma, dar vidas à elas. Na cena que mencionei, na qual o casal conversa, o marido menciona uma xícara lascada que guarda em seu escritório. Enquanto na cultura chinesa, muito exemplificado no Feng Shui (lê-se “fan shuêi”), existe a crença de que um objeto quebrado tem o poder de atrair negatividade por estar quebrado, na cultura japonesa eles reparam o dano, preenchendo a fissura ou a área danificada com ouro, o chamado “Kintsugi”. Acho que o episódio é quase uma metáfora à esse gesto japonês que virou uma filosofia de vida, reparar algo que preserva uma memória e que mesmo imperfeito é valioso pois compõe a identidade de alguém.
E você, ainda guarda algum objeto especial que o/a faz lembrar de alguém?
Compartilhe comigo suas reflexões e ideias acerca da série nos comentários.
ps: Em tempo, enquanto escrevia este post, me deparei com este artigo acerca do Kintsugi, acho válida a leitura.
ps1: Já vi no Brasil algumas pessoas ensinando Feng Shui e Vastu Shastra ( a “ciência da arquitetura“uma técnica hindu para harmonização dos fluídos da casa, similar à técnica chinesa) sem fazer a adequação correta do baguá e dos pontos cardeais. Vale lembrar que por serem técnicas concebidas no hemisfério norte, as condições geográficas são diferenciadas, por isso, a correção das ferramentas para aplicação das técnicas se faz necessária.