Faz tempo que você não recebe uma newsletter, eu sei. Mas o trabalho acabou acumulando e imprevistos aconteceram na minha vida pessoal, e com isso, a news ficou um pouco prejudicada.
Reescrevi essa news umas 5 vezes, pois ela só crescia com tanto assunto! rs
Durante algumas semanas entre Fevereiro e Março, ajudei minha mãe com um processo de mudança e triagem de itens. A última vez que minha mãe se mudou foi há 26 anos atrás. Lembro de quando viemos visitar o apartamento cuja sala era tão grande que os filhos dos antigos moradores transformaram metade dela em quadra de vôlei. Lembro de todo o processo de preparo do apartamento que nos receberia, da marcenaria sendo montada e de guardar meus brinquedos com muito carinho nas gavetas feitas na altura ideal para que eu tivesse acesso pleno à elas.
O arquiteto Aldo Rossi comentou certa vez que a memória faz parte da construção da cidade. Assim como a cidade, nós também somos construídos por memórias. E foi uma grande experiência reviver esta casa e todas as memórias que estavam guardadas ali. Para ajudar minha mãe com seu processo de mudança, regressei à minha cidade natal por um período mais longo que o habitual. Minha missão, que deveria ser simples, era fazer uma triagem das memórias que estavam armazenadas no quarto que eu habitei dos seis aos 17 anos. O processo levou mais tempo do que eu esperava. Das bonecas ao material do pré-vestibular, tudo que estava devidamente organizado foi revisado. (eu sei, tinha muita coisa guardada, mas eu sempre fui o tipo de pessoa que separa tudo em caixas e coloca papel de seda e amarra com fita de cetim, sabe?).
Recentemente, aprendi que muitas decisões que tomamos ainda na infância tendem a refletir no adulto que somos. Sempre ouvi que eu tinha começado a falar que eu queria ser arquiteta aos 7 anos de idade, mas eu nunca soube o porquê disto e comecei a me questionar há algumas semanas. Encontrei a resposta em uma das caixas de arquivo guardadas no meu quarto. Em 1998, quando eu tinha 6/7 anos, aprendi na escola o que um arquiteto fazia. Estudei e desenhei minha casa repetidas vezes, aprendi a identificar cômodos de uma casa em uma planta. A casa e a cidade foram temas recorrentes nos meus deveres de casa. Tínhamos exercícios sobre o cuidar da casa (esse me impressionou!), sobre o cuidar e o observar a cidade, dentre inúmeros outros . Apesar de não haver de forma explícita a palavra Urbanismo, todas as disciplinas relacionadas ao urbano estavam ali. Aprendi a escrever o meu endereço no envelope, a ver o código postal e enviar uma cartinha. Também aprendi sobre a história da cidade, seus edifícios históricos e seus ciclos econômicos. Fiz um exercício no qual eu tinha que observar a cidade e anotar as melhorias que eu queria sugerir.
Entendi aquele como momento como o momento no qual o meu olhar começou a ser educado em relação a casa e a cidade.
Mas não foi apenas isso… na reta final desse processo de organização dos itens que seriam destinados à minha casa e do descarte do que não fazia mais sentido, encontrei recortes e desenhos de roupas - especialmente vestidos de noiva - todos na mesma linguagem: simples, atemporais e elegantes (perante os meus olhos - já conversamos aqui que palavras podem ter significados diferentes para cada um). Por isso comento que a coluna mensal Nosso Olhar | Home - Work - Style (que já tem o post #1 e o #2) é a que eu mais gosto de fazer, porque revela o nosso olhar em diferentes áreas.
Sempre quando um cliente chega até mim, eu falo que o primeiro passo antes da consultoria de decoração ou do staging é o declutter, ou destralhe como chama a Thaís Godinho, criadora da escola Vida Organizada e autora do livro Casa Organizada. Muitas vezes não precisamos de muita coisa que guardamos, por isso é melhor criar espaço por meio da organização do que por meio de novos móveis. Por isso que o movimento SLOW LIFE (Acrônimo para Sustainable, Local, Organic, Wholesome - Learning, Inspiring, Fun, Experiences) me encanta! - Aliás, isso pode ser pauta em um post ou outra news.
Lidar com memórias pode ser difícil, ainda mais se apresentarmos apego em relação à alguns itens. Eu já comentei aqui no post: Declutter e a casa como espaço de experiências, que sou fã do livro Beautifully Organized de Nikki Boyd, especialmente do organograma dela que nos apresenta um forma simples de fazer o declutter, e que eu acho mais condizente com a nossa cultura.
A minha linguagem do amor é tempo de qualidade, eu repito tanto acerca da importância de criar boas experiências, em especial da importância de criarmos uma casa que vai abrigar essas experiências. A única coisa que carregamos conosco são nossas memórias e não há objeto que substitua um momento feliz, por isso a importância de rever sempre esses itens, para evitar o acúmulo.
Bom, se eu fosse seguir o método da Marie Kondo, por exemplo, eu teria que guardar quase tudo mas, como não tenho tanto espaço no meu apartamento atual, seria inviável. A revisão dos itens me trouxe muita alegria e a minha forma de agradecê-los foi compartilhando alguns deles, seja doando ou apenas enviando uma foto ( no caso de uma cartinha, por exemplo) à pessoas que valorizariam o gesto. No entanto, como aprendi com Thaís, transformei muita coisa em arquivos digitais (recomendo a leitura deste post dela). Revistas e alguns materiais escolares foram direto para a reciclagem; Livros didáticos foram doados para a biblioteca pública. Cartinhas e afins eu selecionei e guardei as mais especiais, já outras junto dos exercícios da escola sobre arquitetura e casa, por exemplo, separei tudo para digitalizar e fazer o descarte adequado posteriormente.
Ao rever os meus brinquedos, me questionei sobre materiais presentes na fabricação destes itens e, em especial, qual seria o descarte apropriado para os brinquedos que não estavam em condições de serem doados. Confesso que dado o estado de conservação de alguns brinquedos, fiquei pensando em como alguns brinquedos vão superar gerações (eu mesma herdei alguns brinquedos da Barbie que datam de 1978 e ainda estão em perfeito estado).
Atualmente, vejo tantos brinquedos de tecido e madeira lindos, a exemplo da Mimoo Toys. Curiosa que sou, resolvi fazer algumas pesquisas acerca do desenvolvimento da criatividade atualmente perante o uso de telas e acabei me deparado com este artigo: Brincar de construir: aprendizado em várias fases do desenvolvimento.
“O que desencadeia o aprendizado é a emoção, e são os seres humanos que produzem essa emoção, não as máquinas. Criatividade é algo essencialmente humano.” Pierre Laurent em artigo do El País - recomendo a leitura.
E por falar em telas, há anos li uma reportagem que mencionava que Steve Jobs não permitia que seus filhos usassem telas, dando preferência à atividades lúdicas para incentivar a criatividade e tempo de qualidade com os filhos (não consegui resgatar este artigo em especial, mas este aqui é bem conhecido: Steve Jobs Was a Low-Tech Parent).
Ainda na temática infância e criatividade, minha mãe conta com carinho sobre um texto que recebeu na reunião de pais acerca de uma mãe que incentivou em todos os sentidos os talentos do filho, mesmo que isso implicasse em recriar explosões na cozinha e catar cerejas nas gavetas. De tanto ouví-la comentar este texto, resolvi procurá-lo e o encontrei no livro O Espírito Criativo de Daniel Goleman, autor do aclamado Inteligência emocional. A história, contada nas páginas 61 e 62 está disponível no google books e versa sobre a mãe de Steven Spielberg, o cineasta que, segundo entrevista à Rolling Stone, tomou a decisão de regravar West Side Story ainda na infância. Aliás, o filme que recebeu o Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante neste domingo, também concorreu à categoria de melhor design de produção (antiga categoria direção de arte) junto à “A Tragédia de Macbeth”, dois filmes que tiveram seus cenários comentados aqui no blog.
Poderia passar o dia aqui escrevendo, mas nos veremos em breve!
| Acerca do descarte e doação de brinquedos |
Você provavelmente já deve ter ouvido sobre os Hospitais de bonecas e brinquedos, que consertam e renovam estes itens, mas na impossibilidade de guardar todos, busquei por alternativas de descarte de brinquedos impróprios para a doação e encontrei algumas alternativas: O programa Programa Nacional de Reciclagem de Brinquedos e suas Embalagens da Hasbro, no qual você envia os brinquedos sem condições de uso para a empresa e eles são transformados em novos itens. Iniciativa semelhante é o programa Play Back da Mattel (por enquanto apenas nos EUA, Canadá e Europa). Aliás, ano passado a Mattel anunciou uma Barbie feita com plástico retirado do oceano, a Barbie Loves the Ocean. Já o Grupo Iô-Iô Projetos Sociais aceita inclusive brinquedos quebrados que são consertados e destinados à doação. A Estrela ainda não tem nenhuma iniciativa do gênero, pelo que eu pesquisei, mas têm apresentado “ecojogos” como, por exemplo, o Banco Imobiliário Sustentável que virou até objeto de estudo de artigo acadêmico, leia-o aqui.