Estou participando de um grupo, tipo um clube do livro, que se reúne todas as quintas-feiras, para debater o livro “Comunicação não violenta“ de Marshall Rosenberg. Segundo o autor, a criatividade é uma das necessidades básicas do ser humano, uma das que todos nós compartilhamos e precisamos atender.
Uma vez fui à uma aula inaugural de um curso de Design Thinking que a Fundação Getúlio Vargas estava abrindo aqui em campinas. A palestrante era a empreendedora Camila Farani. Logo na abertura da aula ela perguntou: “Quem aqui se considera criativo?”. Na mesma hora, levantei minha mão. Curiosa que sou, olhei para todo o auditório e vi que eu estava sozinha. Em meio a um mar de pessoas, eu era a única que tinha levantado a mão.
Veja bem, eu sou arquiteta… um dos maiores atributos dos arquitetos é que eles são - por definição - criativos. Recentemente, uns 5 anos depois desta aula, resolvi fazer a mesma pergunta no meu instagram. A resposta me surpreendeu. 50% das pessoas que responderam, disseram que se consideravam pessoas criativas. E eu sou uma pessoa que não convive apenas com profissionais criativos, tenho um rol de amigos nas mais variadas profissões. Fiquei feliz com o resultado e, mais ainda, ao ver amigos engenheiros, administradores, médicos, respondendo que se consideravam criativos. Eu acredito que a criatividade é um atributo que deve ser explorado e renovado sempre.
Há quem ache que nós, profissionais criativos, somos uma fonte inesgotável de criatividade e na verdade, não é bem assim. Lembro-me que ao escrever a minha tese, as vezes acontecia de escrever várias páginas em um dia, um parágrafo no outro, e também passar dias com bloqueio criativo. DIAS sem escrever. Com projeto também. Já aconteceu de fazer em um dia um projeto inteiro, e ficar dias sem entender como conceber a décor de uma sala. Isso é mais do que normal.
A pauta de news de hoje estava prevista há muito tempo, mas adormeceu com o tempo. Imagina, eu tinha uma resistência em falar sobre isso. Mas, esta semana, vi pelo menos 5 amigos comentando acerca do bloqueio criativo. Não só arquitetos, mas de diferentes áreas.
Reuni aqui então algumas dicas de coisas que eu faço quando o bloqueio aparece:
“Soltar a mão”
Ainda na faculdade, um professor falou que eu precisava “soltar a mão”, ou seja, que eu precisava me permitir ser mais criativa, e expandir meus desenhos, ser mais livre. Eu adorava recuperar um exercício que aprendi nas aulas de linguagem arquitetônica quando ainda estava me preparando para o vestibular: Pregava uma folha A3 atrás da porta, e ficava desenhando linhas (Verticais, horizontais, diagonais). Pode parecer uma atividade boba, mas me distraia, melhorava meu traço e ainda me fazia dar umas risadas.
Ter trabalhado com cenografia e a composição de espaços lúdicos me ajudou muito. Eu pude exprimir toda a minha criatividade. Foi construído espaços assim que eu reafirmei minha escolha pelo branco, pelos neutros, por uma simplicidade (sem excessos, lembra?) e isso não me torna uma pessoa limitada ou com a mão presa, apenas me sinalizou um caminho pelo qual eu queria percorrer.
Para ver: O documentário “Le mystère Picasso” que mostra a evolução do processo criativo do pintor.
Criar um painel visual (ou moodboard)
Meu antigo psicólogo que me ensinou a colocar em imagens aquilo que eu não conseguia colocar em palavras. Pode parecer bobo, mas a atividade manual de recorte de imagens distrai.
Não vale usar o Pinterest, hein!
A questão é justamente exercitar a atenção plena e o olhar.
Escrita livre
Na minha opinião, acho que não há bloqueio pior do que o da escrita. No meu último intercâmbio, conheci a técnica de freewriting por meio de um material feito pela psicóloga Sheila M. Reindl.
Reindl propõe uma escrita-livre de forma direcionada por meio de 30 questões, veja alguns exemplos abaixo.
Exemplo: Quero escrever um artigo sobre criatividade.
Quando comecei este artigo, eu estava realmente interessada em …
O que eu quero comunicar à minha audiência é …
Estou com um bloqueio de escrita porque eu não consigo explicar/entender …
Nunca um processo me ajudou tanto! Ele é certeiro!
Para Ler: Sheila M. Reindl é co-autora do livro Anthology for Strategic Reader (atualmente você só o encontra em sebos como o Abebooks) o curso de Harvard de estratégias de leituras e estudo.
Agora, se você quiser escrever uma narrativa, aqui você encontra alguns prompts de escrita-livre que são interessantes.
Caminhar
Pra mim essa é a campeã. Quando estou me sentindo presa, especialmente quando quero buscar temas para postagens aqui, uma leve caminhada pelo bairro é transformadora. Já foi provado que caminhar ajuda a desbloquear a criatividade. Segundo o pesquisador Oppezzo, neste artigo de 2014, “We’re not saying walking can turn you into Michelangelo (…) But it could help you at the beginning stages of creativity.”
Caminhar aumenta nossas respostas criativas, sendo muito mais produtivo para a criatividade do que sentar e se esforçar. Você não tem o pensamento focado em algo e, com isso, é como se houvesse uma leveza. Ao se distrair, você estabelece melhores conexões. Já reparou que o mesmo acontece no banho ou em sonhos? Parece até conselho de quem pratica lei da atração: quando você deixa de focar naquilo, aquilo vem até você.
Para Ouvir: Existe um podcast da universidade de Stanford com pesquisadores comentando o fato. Você pode ouví-lo aqui.
Não buscar referências
Eu me sinto sobrecarregada quando busco por referências em meio a um bloqueio criativo. O que me ajuda muito é ver referências de profissionais cuja linguagem não tem afinidade com a minha. Ver o diferente, o oposto, estimula meu pensamento crítico, mas também pode ser fonte de inspiração inusitada.
Sei como o bloqueio criativo nos afeta e pode, também, nos deixar estressados. De acordo com a Mindlab International, há músicas que são capazes de reduzir a ansiedade pós um dia estressante. Há também um outro estudo feito pela agência que constatou que ouvir música clássica ao estudar acarreta uma melhora em nosso desempenho. “Segundo os pesquisadores, músicas que tenham entre 60 e 70 batidas por minuto, como as clássicas, nos fazem entrar em um estado de relaxamento diferente, em que apesar de calma, a mente se mantém mais alerta. O número de batidas por minuto está ligado à ativação de regiões específicas do cérebro conectadas à criatividade, relaxamento e bem-estar.” - leia o artigo na íntegra aqui no site da sociedade artística brasileira. Sempre comento o papel da música clássica nos meus estudos e, especialmente, no meu processo de redação. Sempre que preciso redigir, dou preferência à ouvir música clássica. Um outro estudo sobre músicas e a mente, feito pelo Arts and Mind Lab em parceria com o Johns Hopkins pode ser lido aqui: Sound Health: Music and the Mind
Espero que esta news possa ajudar você de alguma forma.
Até breve!
amei <3 uma das minhas favoritas até agora! salvando todas as dicas