Em 2013, eu fui fazer voluntariado na Índia. Meu grupo de trabalho era formado por 5 mulheres de diferentes nacionalidades, e dentre as diferentes atividades que exercermos, uma delas era dar workshops numa escola, com os temas: Intercultural Communication e Global Mindset. Costumo brincar que minha pesquisa de doutorado nasceu aí, afinal, estudei diálogos transnacionais e a influência da experiência da viagem na vida de alguns profissionais. Enfim, como parte do grupo que lidava com Global Mindset, minha parte preferida do workshop era um slide com a frase “sejam curiosos”!
Eu acho que a curiosidade tem um papel fundamental no nosso crescimento pessoal e profissional. Eu já considerei isso um defeito em mim, hoje em dia, acho que é uma forma de não me manter estática e estar sempre em movimento. A curiosidade me faz crescer.
Semana passada, comentei no post do Airbnb que a pesquisa começou antes mesmo da apresentação do orçamento, e é verdade. Eu precisava ter mais detalhes acerca do airbnb a fim de estruturar a consultoria de decoração. Como eu mencionei, é a criação de uma experiência, logo, não basta propôr apenas a elaboração de um espaço, é preciso atenção aos detalhes, que iam da colher à escolha gravura.
Veja bem, normalmente, iniciamos uma pesquisa por curiosidade, quando queremos saber mais sobre um determinado tema, para aprofundamento, ou para confirmação (ou não) de uma hipótese - no caso de uma tese.
Quando eu comecei a minha pesquisa do doutorado, eu sabia que eu queria estudar a paisagem do Rio de Janeiro, mas qual recorte da paisagem eu escolheria? (1) Primeiro eu fiz uma leitura de diferentes relatos de viajantes do século XVI até o meio do século XX. (2) Depois eu fiz uma análise de pinturas e fotografias. Lembro até hoje das horas que fiquei na biblioteca analisando livros e mais livros, ou nas horas que passei em frente ao computador, analisando bancos de dados de viajantes…
O que eu descobri foi que alguns relatos, fotografias e pinturas convergiam para um mesmo local: o bairro da Glória. Então, após fazer um breve levantamento do bairro, eu consegui fazer um recorte temporal que eu gostaria de estudar: a transformação da paisagem com a construção do aterro do flamengo.
Essa era uma pesquisa muito longa, demorou anos, mas o que eu quero mostrar é que a pesquisa sempre nos mostra qual o caminho seguir.. E, se pararmos para observar bem, vamos ver que as escolhas que fazemos refletem um pouco de quem somos. No meu caso, escolhi estudar viajantes, e como eles foram influenciados por suas experiências fora do país. Lembram que eu contei da Índia?
Pois bem, eu tive a oportunidade de fazer intercâmbios em diferentes lugares. E trouxe um pouquinho de cada um deles comigo. Ao começar esta consultoria do Airbnb (que ainda está em andamento) eu me peguei pensando em como prover uma experiência de conforto e aconchego para quem estivesse longe de casa e, ao mesmo tempo, pudesse ter um pouquinho da cidade exposta ali, seja sob a forma de livros de arquitetura, ou itens de décor, ou nos acabamentos e escolhas de mobiliário.
Na primeira vez que eu viajei à Cuba, em 2013, eu aluguei um quarto na casa de uma senhora (isso é comum no país), e eu lembro que todos os dias de manhã, ela me oferecia um café preto numa xícara estampada com a obra de arte de um artista moderno cubano. Aquilo me marcou tanto que quando eu vi o mesmo jogo de xícaras no aeroporto, eu comprei um pra mim - logo eu, que não uso estampa em nada, absolutamente nada, comprei um jogo de xícaras estampado com uma obra de arte - coisa que eu jurei nunca fazer. Veja bem o impacto positivo que a experiência teve em mim a ponto de querer trazer a xícara comigo.
Já em outras ocasiões, o impacto da experiência não foi material, mas acabou imprimindo um novo hábito ou algo do tipo, como apreciar o ato de tomar chá, por exemplo, após uma visita à uma casa de chá na China. Para construir o Airbnb, eu me perguntei: que experiências e momentos esta pessoa pode criar neste ambiente? Como ela gostaria de dormir depois de um dia cansativo? O que poderia ser proporcionado à ela se ela precisar fazer um café num momento home office? A exemplo disso, a proposição da prensa francesa, que pede uma pausa para que o café seja feito. Veja bem, não é uma simples antecipação de necessidades, é ver como uma experiência pode ser diferenciada. É trocar o automático da máquina de café espresso pelo artesanal da prensa francesa (lembra do post dos métodos de café do começo do ano? Leia-o aqui). Foi propor a sala como um espaço de convivência e não como espaço no qual a tv tem lugar principal. Foram essas situações que me guiaram pelo processo de elaboração da primeira fase desta consultoria, que ainda não foi finalizada, mas estou empolgada para dividí-la em breve.
Eu acho que estas etapas e processos, inerentes à tantos trabalhos criativos, muitas vezes passam despercebidas pelo olhar de tantas pessoas, que acabam por focar apenas no produto, neste caso, o espaço já pronto. É como o poema do poeta grego Constantine Cavafy, Ithaca, que nos fala sobre as experiências que adquirimos durante a jornada, e não o destino. Ou seja, há muito mais por trás de um produto, seja ele um item, um projeto, um espaço ou até mesmo um livro. Há um processo enriquecedor e transformador.
Se você gostou do post do Airbnb, uma sequência sobre Praia e Campo foi ao ar esta semana. Clique aqui para ler!
Até breve!