Bonjour!
Como você está? Espero que bem.
Hoje quis fazer algo diferente, espero que gostem!
Quanto mais eu sei acerca de um lugar e sua cultura, maior o meu repertório em relação àquele lugar. Logo, consigo me inspirar neste lugar de inúmeras formas, fazendo uma interpretação diferenciada daquele lugar. É importante aguçar a nossa curiosidade acerca de um tema, mas também, é necessário estar aberto e despido de ideias pré-concebidas para deixar que o tema preencha esse espaço da curiosidade. Sendo assim, recebemos essas referências de uma forma muito aberta; sem pré-conceitos estabelecidos a partir da visão de outras pessoas.
A ideia da news de hoje veio do fato de estarmos em um mundo que está cada vez mais homogeneizado. Seja no mundo digital, seja no design, as logos das marcas que estão cada vez mais parecidas são um exemplo disso… e até mesmo nos restaurantes que se inspiram em outros países. Usando este último exemplo, vou citar dois lugares com temas franceses que estão próximos à minha casa. Eles têm o mesmo modelo de cadeira e tocam a mesma playlist, o que, na minha opinião, acaba limitando a experiência de estar ali.
Muitas vezes, a falta de repertório acerca de um tema, acaba levando à criação de lugares caricatos. Ex: Usar sempre a figura de Maria Antonieta, Luis XV ou Napoleão, a escolha de cadeiras medalhão ou peças com um ar bem antigo, as cores da bandeira francesa ou cores muito românticas, sejam elas inspiradas nos macarons ou até mesmo nas vestimentas de Maria Antonieta. A ambientação acaba proporcionando uma experiência bem parecida quando tem as mesmas músicas e a mesma paleta de cores. Então, por isso, resolvi fazer um exercício aqui, e mesmo que você não seja um arquiteto ou designer, é interessante observar para aumentar o repertório e educar o olhar. É um exercício criativo. Eu acredito que ao fazer isso, é possível enriquecer o vocabulário e criar um repertório com novas possibilidades de ideias.
Se eu tivesse que fazer um projeto de um café inspirado em Paris, por exemplo, eu primeiro olharia alguns restaurantes e cafés de Paris. Pensaria em Cafe de la Paix, no brunch do tradicional Carette (onde, recentemente, a designer Géraldine Guyot comemorou seu casamento intimista - e eu amei), o Angelina (famoso pelo chocolate quente), o Café du Trocadéro (o que eu acho mais bonito). Olharia também os restaurantes contemporâneos feitos por designers como Phillipe Stark, responsável pelo Café Costes, seu primeiro projeto de interiores, e aquele bar que foi o maior alvoroço quando inaugurado, o Kong. Isso tudo só p enumerar alguns. Posso ouvir alguns de vocês dizendo: “Ai, Helena, você reclama q é tudo igual, mas a cadeira medalhão está em metade das referências”.
Aí que está, se você só olhar para referências prontas e não introduzir o seu olhar, você vai reproduzir o que todos já fazem. Após ver essas referências, eu ‘olharia’ a arquitetura emblemática, os museus - desde os clássicos edifícios parisienses até as fundações contemporâneas, os designs de Jean Prouvé and Charlotte Perriand, o que já indica que o meu olhar caminha para uma Paris Moderna, mas que não me impede de olhar outros movimentos artísticos, como o art deco, por exemplo. E as obras de arte também, especialmente dos artistas que se estabeleceram em Paris como Picasso, Calder e o escritor Ernest Hemingway. Embora eles não fossem franceses, são pessoas que foram influenciadas por estar ali, e por eu ter uma pesquisa acerca da influência da viagem na vida profissional de artistas, isso seria algo natural para compôr minhas referências. Isso também me revela que estou olhando para uma Paris antes do eixo de produção artística ter saído de lá e ido para os Estados Unidos.
Nosso olhar carrega nossas experiências anteriores, então é importante entender o olhar de outras pessoas também, mas não podemos deixar de olhar o mais importante: as pessoas! A sensibilidade da cineasta Agnès Varda (Aliás, você já viu o documentário Janela da Alma? Ela falando do filme que fez do marido sempre me emociona ), Chanel e seus clássicos num momento de inflexão da moda, os movimentos de Josphine Baker - dançarina e espiã do governo francês. Não excluindo, claro, os personagens contemporâneos, como Ines de la Fressange e sua elegância, e até mesmo algo que esteja em voga no Pinterest em relação à decoração contemporânea, como o “french-girl apartment aesthetic” - que nos revela como as francesas tem decorado seus apartamentos atualmente (para conhecer um pouquinho deste universo, clique aqui).
Quando eu penso em Paris, eu penso na cadeira Thonet. Ela é simples, sofisticada e elegante. Apesar de ter sido criado por um alemão para atender o pedido de um bistrô na Austria, esta seria uma possível escolha. Ela têm esse “je ne sais quoi” que me faz lembrar as cadeiras dos bristôs nas calçadas. É simples mas carrega em si algo de tradicional. Originalmente, ela tinha o assento em palha, para evitar o acúmulo de café. Aliás, foi uma cadeira com trama cannage que inspirou a costura das bolsas da Dior. Pelo que li, Christian Dior se inspirou na trama da cadeira Napoleon III, que ele ele havia comprado para compor a decoração da Maison na década de 40.
Em relação à louça, algo simples e não elaborado (sim, eu reparo até nisso) e os tradicionais guardanapos de tecido. Dada a referência do Nouvelle Vague, o movimento em cinema aqui representado por Varda, eu escolheria branco, preto e cinza como cores, somado ao bege da palha. A própria trama da palha e as listras das camisas de marinheiro usadas por Chanel entrariam para esse quadro de referências.
Eu peguei um tema e, a partir do meu olhar, o transformei num quadro de inspirações que traduzem minhas referências acerca de um local. Eu não limitei ao que sabia, pesquisei e construí assim várias referências. O mundo é plural, saiba valorizar o seu olhar que é único e só você tem. Afinal, ninguém pode viver suas experiências por você e elas que constroem o seu repertório. Seja curioso!
Ps: Montei uma trilha sonora bem eclética no Spotify para a news de hj! Espero q goste!
Ps2: e por falar em Chanel, um livro que gostei muito foi o “Do nosso jeito”, da ex-ceo da Maison Maureen Chiquet.
Ps3: Apesar de Picasso e Calder terem vivido em Paris na mesma época, e apesar de terem alguns amigos em comum, os dois nunca foram amigos. EM 2019 foi feita uma exposição para exibir o trabalho dos dois. Acerca desta exposição li esta entrevista com os netos dos artistas, coloquei o link aqui.
Ps4: Josephine Baker era uma dançarina franco-americana. Foi no Rio de Janeiro que arquiteto franco-suíço Le Corbusier teve a chance de conhecê-la pessoalmente e ficar encantado. A documentação deste encontro virou exposição no MAR - Museu de Arte do Rio em 2014. Aqui tem um vídeocontando um pouquinho acerca da exposição.