Hello!
Hoje eu serei breve, espero. Primeiro gostaria de convidá-la/o a assistir a este TED da Ngaire Blankenberg, recém-eleita diretora do Smithsonian’s National Museum of African Art. O título do Ted é: “How you can activate the soft power of your museums”. Soft Power é um termo no campo das relações internacionais, cunhado em Harvard pelo economista Joseph Nye, em oposição ao Hard Power, ou seja, uma forma de atrair investimentos sem conflitos,inclusive por meio da cultura. O foco da indicação não é esse e sim como ela fala da evolução do papel do museu - o que ele já foi, o que ele é e o que ainda pode ser.
Conheci o trabalho de Ngaire em 2016, por meio do livro: Cities, Museums and Soft Power que inclusive tem um capítulo dedicado ao Brasil (Museums in the Age of Brazilian Soft Power). À época do lançamento do livro, ela ainda estava trabalhando numa consultoria que prestava serviços para museus como o Design Museum, em Londres (que fala desde design gráfico até mobiliário, passando por Moda, inclusive - abordei Moda no Museu semana passada aqui) e o Guggenheim Bilbao, na Espanha.
Acerca do museu espanhol, já ouvi de especialistas fazerem críticas em relação à arquitetura feita pelo “starchitect” Frank Ghery, que não parece ser adequada para acondicionar seu acervo. Talvez por isso ele seja primeiro arquiteto-porquinho a ter sua casa destruída no releitura do clássico “Os três porquinhos” (risos) escrito por Steven Guarnaccia, professor da Parsons School of design, cujos livros infantis são capazes de encantar adultos e que eu indiquei neste post junto de outros títulos acerca de arte para crianças. Outra ressalva, em relação ao museu de Bilbao, é o acervo que conta com artistas que não me encantam. A exemplo de Damien Hirst, que está em exposição na Fondation Cartier (na qual ele comparou sua obra à de Pollock - “Like Jackson Pollock twisted by love”) e Jeff Koons, que recentemente deu esta entrevista ao Design Boom.
Na entrevista, Koons comentou sobre a possibilidade de fazer NFT, uma arte digital, no futuro. Não sabe ainda o que são NFT’s ou quer saber mais? Separei este link aqui da Zipper Galeria que explica direito a respeito desta modalidade. Aliás, a Zipper vai expor na SP-Arte uma série de NFT’s dos artistas representados pela galeria.
Quem também está muito interessado em NFT’s é o príncipe da Bohemia, William Rudolf Lobkowicz (27) natural de Boston mas criado na República Tcheca. O jovem, que já organizou tours virtuais e aulas de Yoga virtuais em áreas históricas do castelo, pretende angariar fundos com a venda das NFT’s para restaurar o castelo e obras de arte da família, segundo artigo publicado hoje pela Bloomberg.
Lobkowicz, whose title is director of digital media and innovation, says they are trying to gin up interest and stay relevant, exploring a new type of fundraising. “That’s how we are going to stay around for another 600 years,” he said in an interview. “I can see NFTs as a new frontier.” (Olga Kharif para Bloomberg)
O príncipe, que se formou em história em Harvard, também disse que “It’s a way to connect younger audiences to collection”. A família, apesar de ter perdido muitas posses durante a segunda guerra, tem em sua coleção de arte - exposta no museu do palácio - quadros célebres que você já deve ter visto, como Margarita Teresa: Infanta of Spain, Diego Velázquez, c. 1655 e Madonna at Prayer de Giovanni Battista Salvi da Sassoferrato’s, c. 1660. Outros quadros e, em especial, a coleção de música podem ser acessadas no site Casa de Lobkowicz. Vale lembrar que o palácio é um monumento considerado Patrimônio Mundial pela UNESCO. Nossa, com essa história, esse currículo e interesse por arte - será que a gente encontra este príncipe no Tinder?
Bom, isso eu não sei, mas, recentemente, um museu alemão se inspirou no Tinder para promover uma melhor experiência entre seus visitantes e suas exposições. Não foi a primeira vez que o Badisches Landesmuseum (State Museum of Baden) usou tecnologia para entreter seus usuários. Na exposição: Archaeology in Baden, eles adotaram o uso de Realidade Virtual para recriar cenários em torno de objetos em exibição. Segundo a diretora do museu, no artigo Culture Meets Tinder With German Museum App, “My Object” é como o Tinder só que para itens no museu. O app, que pode ser baixado pelo visitante ao adentrar a instituição, exibe imagens de 80 itens da coleção para que a pessoa “arraste para o lado” selecionando os que mais a interessam. Só que, assim como no Tinder (e a aparência é inspirada na do app), o item em questão tem que dar o like também para que aconteça o “match”, o possibilita uma interação entre o visitante e o artefacto a ser visitado despertando a curiosidade da pessoa em conhecê-lo. Estranho ou divertido? Isso não é algo tão inédito. Em 2017 um museu resolveu colocar um T-Rex no Tinder, interagindo com seus “matches”, com o intuito de promover uma festa.
Ainda falando sobre “matches” e “apps”: Michael Darling, um curador com passagem pelo Museum of Contemporary Art Chicago, lançou em março deste ano, após seis meses de testes, uma plataforma com o objetivo de “streamlining, updating, and democratizing the way museums collect”. A Museum Exchange é uma startup das artes que visa facilitar a doação de Obras de Arte à Museus da América do Norte. O colecionador acessa o site e disponibiliza a obra que tem para doar. A plataforma então se encarrega de fazer o “match” entre o doador e o museu que está a procura dela. Segundo seu idealizado é uma forma de fazer filantropia por meio da arte. Segundo artigo encontrado no portal Art Net, Darling disse: “There is still a lot of redundancy in local collections (…) You might have a bunch of one artist or one particular kind of school of art. Those artworks could be redistributed and have a bigger impact elsewhere.” Os sócios de Darling são o David Moos, consultor de colecionadores e ex-curador, e o sócio de Moos, Robert Wainstein, também ex-curador.
Para fechar a news bem-humorada de hoje, o que você faria se fosse um museu, tivesse emprestado dinheiro (aproximadamente 84 mil dólares) para que um artista comissionado reproduzisse duas de suas obras e recebesse duas telas em branco?
Pois é, foi o que aconteceu no Kunsten Museum of Modern Art na Dinamarca. Quando minha amiga Betina me mandou essa história hoje, rimos ‘de nervoso’. O museu emprestou o dinheiro para que o artista Jens Haanings (conheça o trabalho dele aqui), recriasse duas de suas obras “An Average Danish Annual Income” (2007), com notas de coroas fixadas em telas, representando o salário médio anual da Dinamarca à época, e um outro trabalho parecido de 2011 acerca de salários austríacos feitos com notas de euro (veja aqui, parte desta exposição). Nesta nova versão ele fixaria em duas molduras de vidro 534.000 coroas (equivalente à 84 mil dólares - o que me lembra visualmente a série Dollar Bills de Andy Warhol - só que a dele não era com notas reais). O artista alegou más condições de trabalho e baixa remuneração por parte do museu e, por isso, entregou as telas em branco, sob o título: “Take the Money and Run“. O diretor do museu riu, mas alegou que ao fim da exposição, em janeiro de 2022, vai pedir ou o dinheiro de volta ou o cumprimento do contrato. O New York Post fez piada lembrando da banana à venda na Art Basel em Miami por 120 mil dólares (e que alguém acabou comendo depois). Não lembra? Veja aqui. Impossível não falar da banana e não lembrar de quando um abacaxi “esquecido” foi promovido à arte na Escócia - veja aqui.
Espero que você possa ter se divertido com a news hoje!
Até breve!