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Eu vou confessar algo: embora eu tenha minhas rixas com o algoritmo e tente - a todo custo - enganá-lo, eu gosto muito quando ele acerta e me mostra coisas bonitas. Como o que aconteceu esta semana quando ao procurar por obras de Vanha Lam, uma artista que transita entre Nova York e São Francisco, ele me mostrou uma obra em preto e branco do artista espanhol Manolo Ballesteros (foto abaixo), um pintor mais conhecido por seu trabalho com formas geométricas. Ao ver a obra, o que mais me chamou a atenção não foi apenas a obra em si, mas também o espaço no qual ela estava inserida. Assim que vi aquela foto, pensei: tenho que fazer um post sobre esta casa… e ei-lo aqui!
A moradora e seu trabalho
Ao pesquisar sobre o espaço da foto em questão, não apenas fiquei encantada com o que vi mas também por sua história: o espaço que é hoje uma casa já foi um atelier de artista e também uma biblioteca privada. A casa em questão é da galerista Amélie du Chalard, dona da galeria Amélie, Maison d’art, aberta em 2015, e que hoje conta com endereços em Paris e Nova York. O apartamento/galeria de arte tem 140 m² e é um projeto do escritório francês Batiik Studio em parceria com a própria moradora. Amélie e o escritório trabalharam juntos mais de uma vez. O projeto da casa/galeria é conhecido como Amélie l’Atelier e data de 2019. Em 2018, foi feito o “Amélie Mini-room", um projeto de uma pequena galeria com apenas 40m². E por último, “Amélie, l’Art Room” com 200 m², todos em Paris.
Em entrevista à Gay Gassmann, Amélie comentou que foi o trabalho num banco de investimentos no começo de sua carreira que a possibilitou começar sua coleção de arte, contando também sua preferência por comprar artes e não joias. Ela também comentou que começou a exibir sua coleção em sua casa e com isso, como o entrevistador coloca, ele teve noção da importância para as pessoas de visualizarem obras em um espaço com vida, o que a motivou trocar de carreira e se tornar uma galerista como no conta Phoebe Montoya. Em mais de uma peça que li acerca da galerista, comenta-se sua inovação ao propor projetos como o The Art Room, como mostra este artigo da Abitare, no qual ela expõe obras de arte em num novo conceito de galeria: uma galeria que imita uma casa; um espaço acolhedor em sua informalidade. Para ela, a simplicidade é fundamental para acolher qualquer pessoa, independente de sua relação com a arte.
Segundo a Design and Live, ela recebeu um conselho do avô ainda criança: “sempre que comprasse obras de um artista, deveria comprar duas - uma para manter e outra para vender”. Em entrevista à Elle Decor, a galerista reconhece o ato de investir em design “como uma patrimônio cultural”, uma herança “a ser passada de geração em geração”. Na mesma entrevista, ela foi perguntada acerca de que conselho daria para quem quer investir em arte, ela disse:
“É sempre importante comprar peças que você ama e com mas quais você quer viver, não apenas como um investimento econômico”
Ela acredita muito na conexão das pessoas com a arte e que arte deve ser sim exposta e não permanecer em depósitos como um mero investimento. O trabalho de Amélie vai para além do comércio de arte tendo também um foco pedagógico que busca o incentivo à educação do olhar. Junto de historiadores de arte, ela promove eventos como ciclos de debates como “Aprendendo a ver”, focado nesta educação do olhar, além de visitas guiadas à museus e visitas à studios de artistas com educadores e pessoas especializadas.
Amélie du Chalard
Amélie não concentra suas obras numa faixa de preço única, tendo peças à venda que vão de 500 a 40 mil euros. Ela também diversifica sua oferta por meio de plataformas como o Studio Miracolo que vende gravuras, como de artistas como Louise Hendrix (em alta em diferentes sites de decoração e com uma estética meio “Pinterest”) com valores mais acessíveis - em torno de 100 euros.
Vale a pena ler: Entrevista de Amélie ao site Metcha - nesta entrevista a galerista abre sua casa e comenta como um ambiente propício à arte e a educação do olhar (e um olhar aberto) são fundamentais para o autoconhecimento e a descoberta de seu estilo de arte preferido. Balzac: Um encontro com Amélie du Chalard (em inglês) - nesta entrevista, Amélie comenta acerca de diferentes mulheres que a influenciaram. Amei saber que ela, assim como eu, adoraria passar um dia com Peggy Guggenheim. Recomendo muito a leitura da autobiografia de Peggy: Confessions of an Art Addict.
O modo de vestir
Como já comentamos aqui, nosso olhar vai ser constantemente atraído por similitudes. Não por acaso, encontrei um artigo sobre Amélie no site da De la Espada, marca que eu admiro e que já comentei algumas vezes por aqui - e queridinha de Gabriela Hearst. E essa entrevista que ela deu ao site traz uma informação muito interessante que reflete não apenas a casa mas também seu jeito de vestir. Como o objetivo deste post é sempre observamos as escolhas de cada um e como elas são refletidas em diferentes aspectos (moda, casa e trabalho), fui procurar também como ela se vestia para conseguirmos observar seu olhar.
A primeira vista, podemos pensar que o estilo de Amélie é dotado de simplicidade e sim, ele é mas como diria a consultora de estilo Renata Perlman, “é um básico nada básico”. Ela valoriza sobreposições, detalhes, os brincos sem tem um design diferente, a camisa branca, por exemplo, é ampla, o vestido preto tem sobreposições. O chefies, que poderia ser clássico, é oversized e usado junto de mocassim. Pode parecer básico, mas tem sempre um detalhe, uma informação a mais. E foi isso o que me encantou em sua casa. Quando vi sua casa-galeria, me identifiquei com a linguagem dele, uma vez que é um apartamento no qual toda sua base é neutra para que o mobiliário e as obras se sobressaiam sendo valorizados poderíamos até fazer comentários mais extensos acerca do branco na parede e como museus usam isso, mas vou me deter por aqui, já que esta é uma escolha óbvia e intencional de uma galerista.
Em entrevista à Evoke, ao ser perguntada acerca do significado de elegância, Amélie disse: “Simplicidade mas com um detalhe que faça toda a diferença”, o que vai de encontro a leitura acerca da forma como ela se veste. Mas, mais importante ainda, também tem muito a ver com os mobiliários em exposição em sua casa que ela reforça que presa pelo design e conforto, por isso, tantas peças escandinavas em seu acervo, como ela contou nesta outra entrevista.
A Casa
“Minha casa é um reflexo de mim e da forma como eu quero viver. Por isso ela é repleta de arte e mobiliários que são significativos para mim”
Amélie du Chalard
O espaço é amplo e iluminado. Observe que outro fator aqui também é muito importante: sua escala! Um apartamento com baixo pé direito ou pequeno em termos de área não valorizaria e nem conseguiria abrigar algumas das obras da mesma forma. A galerista coleciona obras desde seus 15 anos, e já comentou à diferentes fontes que esta é uma tradição em sua família - dar obras de arte como presente de aniversário a partir dos 15 anos de idade. Ela cresceu num ambiente propício para a arte. Sua avó amava antiguidades e colecionada pequenas de arte, sua mãe era uma artista e seu pai, um colecionador. Estas raízes e o ambiente no qual ela cresce tem uma clara influência não apenas em seu modo de ser mas também seu olhar, a ponto de fazê-la um renome em termos de inovação no contexto de exposição em galerias de arte.
Amélie du Chalard
Uma coisa que me chamou a atenção é que ela não apenas colaborou com o escritório para fazer o projeto de sua casa como também em cada artigo as fotos expostas mostram diferentes configurações do espaço com novas peças de design e obras de arte. Eu acho que isso é muito legal pois, usualmente, quem é apaixonado por design tem o hábito de querer ter mais coisas e coisas diferentes, o que faz com que essa rotação/troca de mobiliário seja uma parte viva da casa. Observe também como as obras se atém à uma composição e seu tamanho tem uma relação com o espaço no qual estão inseridas de forma a valorizar a sua observação de onde estiver.
Nesta foto disponível no site. do Studio Batiik é possível ver outras cadeiras na ilha poderia ser uma opção de styling mas o caso se repete em outros ambientes. Observe a utilização dos materiais naturais e a simplicidade do design para favorecer a integração das obras de arte com o espaço.
Enquanto na sala principal o espaço parece um cubo branco para a valorização das peças de arte, nos espaços de acolhimento como o quarto e o hall, é possível ver diferentes padrões de piso que, apesar da visualidade, não comprometem a simplicidade do espaço.
Outra coisa que me chamou a atenção neste projeto é a diferença de materiais utilizado na composição do espaço. Tem couro, madeira, trançado.. enfim, há uma diversidade de texturas que também auxilia nesse movimento do olhar pelo espaço.
Eu adorei conhecer as visões de Amélie acerca do olhar, da arte e o modo como ela inovou galerias de arte. Acho que tinha tudo a ver com as discussões e o missão que tenho aqui. Por isso, achei interessante que ela fosse a #7 na coluna Nosso Olhar - Home Work Style e que este fosse um post aberto para todos em virtude da comemoração da newsletter ter ultrapassado a marca de 750 assinantes. E você, o que achou? Me conte nos comentários!
A próxima edição vai ser acerca de um sentido especial, o paladar e deve ser enviada no domingo junto com as informações acerca do nosso Clube do Livro a ser realizado em dois encontros entre o final do mês de Setembro e o a primeira quinzena de Outubro!
Até breve!
Amei!