Segundo o psicólogo Adam Grant, foi verificado em uma pesquisa que o que difere um vencedor do prêmio Nobel de seus semelhantes é a probabilidade deles terem hobbies criativos. Em uma entrevista em seu podcast, em Dezembro de 2023,1 o psicólogo e professor entrevistou Ivy Ross2 e Susan Magsamen3, autoras de “Your Brain on Art: How the Arts Transform Us”, bestseller do New York Times que fala do impacto da arte na mente e no corpo.
No episódio, elas mencionam não apenas a experimentação da arte como também a expressão por meio da arte e atividades artísticas/criativas pode transformar nossa saúde. Um detalhe que me chamou a atenção ao pesquisar o livro é que há a menção de que médicos estão prescrevendo idas a museus como uma forma de minimizar a solidão e, segundo as autoras, uma atividade ou interação artística por mês, independentemente do nível de aptidão da pessoa, teria o potencial de prolongar a vida por dez anos. Além disso, essas atividades contribuem para a criação de comunidades.
E, por falar em solidão e na fragilidade de comunidades, fiquei curiosa para ler: O século da solidão: Reestabelecer conexões em um mundo fragmentado, da economista Noreena Hertz. O livro foi indicado pela Ale Levy, e menciona como as relações humanas (e até mesmo a serendipidade) foram impactadas pela revolução tecnológica, a globalização e o urbanismo, propondo soluções que passam desde um novo uso da cidade e da IA até reconciliação de diferenças. Já adicionei à minha biblioteca do Audible.
Um coisa que me chamou a atenção nesta entrevista foi a fala de Ivy Ross sobre Design Thinking x Design feelings4. Segundo ela, após a revolução industrial, com o foco em produtividade e eficiência, a natureza sensorial do design foi sendo deixada de lado, e agora percebemos os efeitos disto e como isto tem feito falta. A questão que devemos observar então é a atenção ao sensorial no design dos produtos.
Um parênteses: Abaixo, relembro uma edição na qual falamos sobre design e sentimentos.
Na próxima edição vamos falar um pouco sobre como a tecnologia tem afetado também o design de produtos e relembrar como o minimizar de gestos tem um impacto no cérebro.
Grant comenta que após ler o livro, ele sentiu que as autoras colocaram o “A” (de artes) em STEM (sigla para o grupo das Ciências, Tecnologias, Engenharias e Matemática), pois, segundo sua visão o STEM fica incompleto sem as artes. Essa frase tem um impacto tão grande e tão significativo, que eu até me emocionei. Em tempos nos quais o STEM é supervalorizado perante as matérias de humanas, ver um psicologo organizacional falar isso é quase como ter um selo de aprovação para que as pessoas entendam o “peso” da arte em suas vidas.
Magsamen mencionou que um dos benefícios da interação com as artes é maior colaboração, mais criatividade e também a promoção de conexão entre pessoas. Veja bem, não é produzir arte e sim ter uma interação com as artes; independente de qual for, sendo que pelo que eu entendi, elas entendem como arte qualquer manifestação de atividade criativa. Ela até menciona algo que já comentamos aqui na newsletter: o descanso criativo e como ele é fundamental para a criação de novas invenções. Ela então bate numa tecla já conhecida, mas que é sempre bom repetir: “a criatividade é fundamental para a resolução de problemas”.5
Ivy Ross então completa que experiências artísticas tendem a ser experiências notáveis/emblemáticas que literalmente criam novas sinapses no cérebro o que corrobora com a criação de novos momentos de ruptura/importantes descobertas.6 As autoras ainda mencionam que não tivemos uma educação acerca dos sentidos e do cérebro e que isso deveria ser fundamental para entendermos aquilo que é importante para nossa edificação e crescimento pessoal.
Adam Grant reforça uma mensagem simples e muito importante: “é preciso ter curiosidade e abertura para novas experiências”, já comentei isso aqui, e ainda reforcei com uma passagem do livro de Shelley Carson, PhD, que menciona que isso é essencial para um cérebro criativo. O psicólogo concluiu então o episódio mencionando que deveríamos ter “arte como prioridade não porquê é algo prazeroso e sim porquê expande nossas mentes”.
Sábado passado, 6 de Abril, tive a oportunidade de visitar a SP-Arte. Fiz um post com notas (sinceras) sobre a minha ida à feira. Como ele ficaria muito grande para ser incluído no corpo do texto, fiz um post a parte e incluo o link para acesso abaixo.
Por hoje é isso.
Até breve!
Ps: A imagem de capa hoje é Accordion, uma obra da artista Gloria García Lorca. A artista é sobrinha do poeta Federico García Lorca. Uma obra da artista, com linguagem semelhante a esta, Windwall, foi instalada no interior da Flagship da Loewe, em Madrid. Fiquei curiosa para conhecer a obra após ler sobre ela aqui: Gloria Garcia Lorca: Poesia em Argila.
Vice Presidente de Design de Produtos de Hardware na Google
Fundadora do International Arts + Mind Lab, Centro de Neuroestética Aplicada da Escola de Medicina da prestigiada Universidade Johns, nos Estados Unidos.
Ive trabalhou em diferentes empresas como Calvin Klein, Mattel e Gap antes de trabalhar na Google com o design de produtos tech. Desde então ela e seu time tiveram o trabalho reconhecido com inúmeros prêmios pela estética ousada e que presa por um “design sensorial”.
Vale lembrar que também já comentamos aqui como a serendipidade pode fomentar ideias inovadoras; tenho visto como esses dois elementos - o descanso criativo e a serendipidade - se entrelaçam em algumas histórias.
Ela usa aqui um termo curioso pra mim: “salient experiences”. Eu ainda não sei se há uma tradução específica para esta expressão, mas eu a traduzi como experiência emblemática/notável. Tem um artigo da Havard Brain Science Initiative que explica isso do ponto de vista da ciência Brain Circuits for Recalling Salient Visual Experiences. Outro artigo interessante que encontrei foi este aqui: Salience: The psychology of an experience you can’t ignore que apresenta os conceitos do tornariam uma experiência marcante.
Eu tenho me dado tanto conta da importância das comunidades, sabia? E o convívio mais próximo com a arte, que o mestrado me deu, me aproximou de muitas pessoas, graças a Deus. Eu acho que não enlouqueci nos últimos dois anos graças ao pouco de arte e gente com quem estive, sabia? Isso de ficar longe de pessoas não é bom…
Lena, seus textos sempre me impressionam com a riquesa de informações! Arte é vida e um respiro pra alma!