Esta é uma edição especial. Em Agosto, ultrapassei a marca dos 750 assinantes da newsletter, o que um grande marco para mim! Gostaria de agradecer o apoio de cada um de vocês. Como temos muitas pessoas novas por aqui, este post é uma edição especial no qual eu partilho não apenas algumas inspirações do mês mas também resgato alguns temas que já comentamos por aqui.
Neste mês, comentei a leitura de “O guarda-roupa modernista” e como a moda foi usada como importante aliado na construção de identidade e de marca do casal de artistas Tarsila do Amaral e Oswald de Andrade. Para complementar este texto, gostaria de mencionar este episódio do podcast Ilustríssima Conversa da Folha de São Paulo, no qual Fernando Pinheiro disserta acerca de como alguns escritores como Clarice Lispector e Paulo coelho forjaram imagens literárias e como os dois, mesmo tendo uma ou outra coisa em comum e muitas oposições, foram vistos sob diferentes óticas em relação à sua imagem. Fernando é autor do livro “O mago, o santo, a esfinge”, o título é uma alusão as imagens de Paulo Coelho, Manuel Bandeira e Clarice Lispector. Nele, o autor debate o tema de forma mais ampla - segundo a editora, “seu foco é indagar como se construiu, em cada uma das trajetórias, a figura de escritor(a), e como cada um(a) lidou com a imagem pública que lhe tocou viver”. Achei interessante e fiquei curiosa. Este ano, eu fui num evento do psicólogo Luiz Contro chamado: "Fernando Pessoa e Clarice Lispector - como podem nos transformar?” e nele, ele comentou tantos fatos sobre Clarice que despertou ainda mais meu interesse pela autora.
Museu - do papel de educador à espaço acolhedor
O Leia - clube de leitura terapêutico que eu participo, está lendo neste semestre: “A liberdade é uma escolha” de autoria da psicóloga Edith Eva Eger. Uma passagem em especial me tocou, quando a autora visita um Museu do Holocausto. Não vou contar mais nada para não dar spoilers, mas gostaria de compartilhar um artigo de um colega de Harvard que disserta acerca do papel dos museus dedicados ao Holocausto, uma leitura interessante. “Safe Space: A Pair of New Holocaust Museums Illustrate a Shift in the Architecture of Atrocity”.
O mobiliário como constante e não o espaço como casa
Daniel Libeskind é reconhecido por projetos de impacto, como o Museu do Holocausto/Museu Judaico em Berlim e o Ground Zero em Nova York (espaço que ocupa onde estavam as Torres Gêmeas), e suas arquiteturas angulares. Além de arquiteto, ele também é músico e, em entrevista ao site The Talks disse algo que tocou:
“A arquitetura não é apenas um exercício intelectual ou de abstração, é uma experiência emocional tal como a música. É muito precisa, não pode ser alterada na metade da vibração porque todos saberiam que não soa bem. Tem que se comunicar com a alma e todos têm que compartilhá-lo de uma forma profundamente emocional. É sempre acerca de uma performance e o que acontece depois dela. Quando você sai de um edifício, é como deixar uma peça musical. Ainda está em você e ainda com você”.
Comecei a me interessar mais pelo trabalho de Liebeskind ainda no começo da faculdade pela teoria por trás de seu trabalho, tanto é que escrevi uma revista acerca de percepção arquitetônica ainda na faculdade, chamada “Senses” na qual dentre os projetos que escolhi comentar, estava o do Museu do Holocausto em Berlim e as sensações que ele apresentava aos frequentadores daquele espaço. Eu já era curiosa pela casa das pessoas naquela época e pesquisei sobre o apartamento dele em Nova York e me surpreendi quando descobri que não foi ele quem fez o projeto de sua casa na cidade (o projeto data de 2004, salvo engano).
Por ter se mudado muitas vezes de países ao longo da vida com sua família por conta do trabalho, pelo que li foram quase 20 mudanças, o arquiteto nunca teve um lar estabelecido - queixa comum dentre pessoas que mudam bastante. Ao regressar à Nova York, um ex-aluno quis lhe mostrar um apartamento. Apesar da planta diferenciada que não agradava em nada sua esposa, ele pediu para sentar na janela por 5 minutos sozinho e disse que gostaria de morar ali pela luz. Achei tão sensível isso. Neste vídeo, o arquiteto comenta como é emotivo morar neste apartamento, estando próximo do Ground Zero, e a integração - a vista que ele tem da paisagem e da vida urbana.
Todas as vezes que vi fotos do apartamento do arquiteto (algumas podem ser vistas aqui no site do arquiteto do projeto e aqui nos stills do vídeo), notei que o layout do apartamento estava diferente das fotos anteriores. E, apesar de serem algumas fotos de publicação - com exceção das do site do arquiteto responsável pelo projeto que contemplam um styling impecável, o espaço nunca deixou transparecer que havia vida ali. O controle da tv sobre livros e dvds, ou papeis sobre a mesa. Outra coisa também que chama a atenção são pequenas estátuas, aparentemente itens trazidos de viagens, que compõe uma pequena coleção na janela. Mostrando que mesmo um starchitect tem uma coleção exposta que revela um pouco de si e de sua história em casa.
Para ler mais: New York Mag: The Architect’s Architect - uma entrevista com Daniel Liebeskind e Alexander Gorlin acerca do projeto do loft. - Eu adoro como ele comenta que tem um couch Mies Van der Rohe que ele ama admirar e uma discussão dos dois arquitetos acerca de uma mesa de mármore que o responsável pelo projeto não gosta e o que o cliente não abre mão pois ela contém inúmeras memórias do tempo da família na Itália. Esses diálogos são tão importantes!
Segundo uma reportagem da AD, após a reforma do apartamento em Tribeca, o arquiteto responsável pelo projeto, Alexander Gorlin, sugeriu que Liebeskind adicionasse alguns mobiliários contemporâneos para tornar uma casa mais chic. Liebeskind, que é aficcionado por design moderno dos anos 1920, disse que preferiria manter os mobiliários que já tem afinal, depois de tantas mudanças, é justamente o mobiliário que fazia parte de sua história, “sendo a única constante que fez todos os espaços que eles moraram parecer como uma casa” - e essa é uma ideia que eu sempre comentei por aqui.. este cuidado com o mobiliário e o investimento em peças que vão habitar não apenas nossa casa, mas nossa história também.
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