Espaço de troca #2
Estariam as cores realmente desaparecendo do mundo?
Olá!
Você também já se rendeu ao TikTok? Confesso que estou quietinha na rede, só observo. Eu entrei para acompanhar uma moça que faz reviews de casamentos e acabei encontrando umas coisas diferentes por lá!
No entanto, a gente tem que ter cuidado com alguns conteúdos que circulam na rede, assim como deveríamos ter com qualquer outra fonte. Tem rolado um ou outro vídeo no qual a pessoa fala que as cores estão desaparecendo do mundo. E acho um barato que minhas amigas tem sempre comentado isso comigo, alguém que não é muito fã de cor.1
Voltando ao foco deste post: Esses TikToks sempre apresentam a imagem abaixo, embora o estudo tenha sido conduzido pelo Science Museum Group - uma rede de museus d Reino Unido, que você pode ler aqui.

As duas vezes que vi TikToks que refletem esse estudo das cores - como o da Emma do eggmcmuffinofficial - “My credentials are that I have eyes. And an arts degree”. Eu confesso que os vi mais de uma vez na sequência. Porque eu não acredito que as cores vão desaparecer, e eu me preocupo com pessoas reagindo à esse gráfico sem ler o estudo. A verdade é que o estudo fez uma análise de objetos encontrados nos acervos dos museus que compõe o grupo que mencionei acima.
“This article analyses a selection of the Science Museum Group Collection. We examined over 7,000 photographs of objects from 21 categories. The categories were selected on the basis that they contained large numbers of everyday or familiar objects. These categories range from photographic technology to time measurement, lighting to printing and writing, and domestic appliances to navigation.¹
The photographs allow us to study the form of objects — their shape, colour and texture. The insights gleaned can be used to enrich a museum’s catalogue and expand the ways of searching through the online collection. More broadly, this analysis shows how a photographic dataset can shed new light on a museum’s collection.”
Ou seja, o que o artigo expõe nada mais é do que uma análise dos acervos deste grupo de museus. E não uma pesquisa sobre cores no mundo em si. Eu acho que este assunto pode fomentar inúmeras discussões, como expões Isabella Segalovich, do interstellar_isabellar. Assim como ela, eu também penso no pós-moderno, na década de 1980, e em diferentes espaços e décor de diferentes épocas marcados por suas cores. Eu acho que se no décor, agora, existe uma opção por tons neutros e simplicidade, é uma resposta à um momento que estamos vivendo após décadas mais coloridas, por assim dizer.
Enfim, eu não sou especialista em cores, mas eu queria compartilhar algumas observações que me vieram à mente quando eu vi este vídeo.
Lembrei da arquiteta Denise Scott Brown falando: "In the 1960s, Robert Venturi and I played a game we called 'I can like something worse than you can like.” - Porque o pós-moderno foi essa reação ao moderno, da simplicidade e da ausência do adorno. Então, pelo menos pra mim é impossível falar em cor e não pensar em Las Vegas. Há tempos eu queria recomendar esta entrevista da arquiteta na qual ela comenta que ainda não aprendemos com Vegas tudo que deveríamos ter aprendido : ‘People have learnt from Las Vegas, but they haven’t learnt the half of it yet’.
Lembro também de um controverso estudo de Rem Koolhaas no qual ele comenta que a “informalidade é prenúncio de futuro”. E, pra mim, a informalidade é colorida, ela não é isenta de cor. Ela tem excesso de informação.

A cor tem também um efeito positivo nas cidades. Um exemplo comumente referenciado em relação ao assunto é o caso da cidade de Tirana, na Albania que teve sua experiência exposta num Ted de Edi Rama, ex-prefeito da cidade.
Deixo alguns artigos sobre cores e interiores:
Efeitos da cor: insights da neuroarquitetura da pesquisadora Andréa de Paiva, referência na área.
Home office: como as cores podem influenciar sua produtividade? - da Casa Cor
Neuroarquitetura e as cores: Eda como nosso cérebro as interpreta. - do Roca NeuroLAB
Ah, e se você gosta de um décor mais colorido e bem diferente, eu acho que a Justina Blakeney é uma referência interessante. Ela tem vários livros acerca do tema, já mencionei seu nome por aqui antes.
Também fico pensando em culturas nas quais a cor é muito presente. Especialmente em países na África e na Ásia. Nesse caso, a cor é parte da identidade, da cultura de um povo, logo, não acho que seria tão fácil que ela desaparecesse mesmo numa questão de Chromofobia (medo da cor), como Isabella expõe. Mas essa é a minha opinião.

E você, qual a sua relação com a cor?
Isso sempre me fez refletir que eu nunca expliquei aqui que na verdade não é que eu não goste de cor, é que eu acho que na arquitetura/interiores especialmente, a verdade material deve sobressair. Isso não me impede de admirar arquiteturas maravilhosamente coloridas pelo mundo. Mas, na minha opinião, e na forma como eu construí ao minha linguagem é melhor ter um móvel de madeira com aparência de madeira do que um móvel colorido. Eu prefiro uma estética mais natural do material, o que não me impede de usar cores em acessórios e tecidos, por exemplo. E está tudo bem. Cada um tem seus gostos e atributos.