Bom, acho que não posso mais falar que não farei posts temáticos. Eis aqui mais um. (risos)
Desde que comecei a ver “Succession”, o filme “Meet Joe Black” (“Encontro Marcado” em português - trailer aqui) me vinha à cabeça. É um filme longo, tem cerca de 3h. Mas, é o tipo do filme que quando está passando na TV eu paro para ver, não importa a cena. Talvez pelas coincidências em relação à William “Bill” Parish e Logan Roy como magnatas da comunicação e com o mesmo gosto por pisos, escadas e estampa príncipe de gales. A diferença é que enquanto Roy tem um perfil aparentemente mais conservador, Bill busca por inovação, a exemplo da contratação de Drew, e acho que isso também fica claro por meio de seu apreço por arte moderna, que faz seu apartamento parecer uma galeria particular - algo quase que invejável.
Há muito tempo eu não revia este filme. Esses dias ele apareceu como sugestão no Netflix, uma vez que vai sair de cartaz no dia 15 de Novembro. Resolvi ver. Quando me deparei com o Rothko no corredor eu tive certeza que teria de trazer este filme para cá. Resolvi então abordá-lo como inspirações para os sentidos.
Amo este formato de posts porque acho que é uma chance de educarmos nosso olhar para perceber a atmosfera ali criada. O fato de observarmos com atenção, e nos desgrudamos do celular enquanto assistimos um filme, é importante para captarmos esses detalhes. Você não precisa saber tudo (como as obras ou o cheiro de algo), mas se permitir estar curioso em relação à algo é uma forma de se abrir para o novo. A curiosidade promove coisas maravilhosas! Me contem nos comentários o que tem achado de posts assim!
A autoria do design deste set é de Dante Ferretti. Segundo li neste post, as externas da cobertura foram filmadas em uma cobertura existente, no entanto, os interiores foram construídos para o filme - se procurarmos na internet, é possível encontrar até as fotos da construção da piscina. Destaquei abaixo algumas obras que mais chamaram (a minha) atenção no filme.
Visão
Começamos com “Bonheur d'aimer ma brune” (1925), de Miró (leiloado em 2013 pela Sotheby’s)- é uma das primeiras obras que vemos numa cena que parece explorar esta coleção de obras selecionada para o filme.
Blue, orange, red (1961) de Mark Rothko vem depois. Percebam como ele está centralizado na boiserie. A coleção de arte de Parish se destacada pela produção após 1910, que vemos em exibição no set. Vale a pena ver essa cena (e o filme todo) com calma. Salvo engano - esta cena é no minuto 46.
Pesquisando pela cena, encontrei um artigo que expressava que obras de arte modernas combinavam com ambientes “tradicionais”. Bom, eu prefiro obras de arte moderna (fauvista e cubista também) em ambientes modernos/contemporâneos - inegável que elas deixam ambientes neo-clássicos mais interessantes, é uma forma de imprimir a personalidade do morador em uma residência que carrega esse estilo arquitetônico. Um exemplo disso é a estética “french girl’s apartament” tal como encontrada no Pinterest; na qual encontramos muitos exemplares de mobiliário moderno em apartamentos de edifícios históricos parisienses.Rothko rouba a cena e os olhares. Acredito que até a escolha da roupa de Pitt tenha sido proposital; quase uma mimese da décor. Já comentei em alguma news que set designers conseguem permissão para fazer réplicas de obras. Na imagem abaixo vemos Bill Parish (Anthony Hopkins) e Joe Black (Brad Pitt) na sala de reuniões da empresa de Parish, em frente ao que parece ser uma ampliação da obra Egg Beater no. 4 (1928), de Stuart Davis (pertencente à Phillips Collection). A pintura original tem 73.34cmx101,28cm. A New Yorker fez um artigo a respeito do pintor, para ler clique aqui.
Já no escritório, na cena do sanduíche de cordeiro, Pitt está a frente de uma obra de Georges Braque (c. 1913), que aparentemente integra o acervo de um museu em Basel. Braque foi um pintor contemporâneo à Picasso e Juan Gris
Não posso deixar passar o Composition IV(1911) de kandinsky. Comentei um pouco sobre o pintor neste post.
Audição
Olfato
Alisson, filha de Bill está a mil planejando a festa de aniversário de 65 anos do pai. Em uma cena, ela fala “Freesia, freesia - Daddy loves freesia”. Logo, podemos ter a ideia do odor mais crítico que vai perfumar a festa na residência de Poughkeepsie. Sou suspeita, tenho um perfume com frésia que adoro!
Vale reparar no arranjo na mesa do 1o. jantar que aprece incluir uma protea em meio à um mix de flores mais tradicionais e frutas. E também no delicado bouquet que Joe leva para Susan no hospital, com minirosas e tulipas.Tato
Acho que na questão do tato poderíamos comentar muitas coisas neste filme… No entanto, como excluir a piscina? impossível! A piscina foi construída, assim como todo o set. E acho curiosa a cena na qual o personagem Joe está por lá vagando, tocando a água, de forma curiosa.
Paladar
No filme, Brad Pitt com aquele charme único da década de 1990, encarna a morte. O filme é basicamente uma humanização da morte, que encarna no corpo de Pitt com os desejos de ter uma experiência humana ao lado de Parish. E, nesta “fábula” - se assim podemos dizer, encontramos a morte tão forte e tão ingênua, conhecendo os pequenos prazeres da vida como, por exemplo, comer pasta de amendoim de colherada, beijar pela primeira vez… não saber lidar com algumas palavras.
Para finalizar essa news de hoje, por que não um clássico americano?! Sanduíche de pasta de amendoim com geleia! Eu AMO!