Inspirações de Fevereiro
Resolvi antecipar a edição mensal do inspirações deste mês, já que Fevereiro é tão curtinho e na próxima sexta-feira, data da edição, já será Março. Vim aqui dividir o que consumi neste último mês.
Uma receita repetida à exaustão: Estamos na época de figos. Esta salada de figo com burrata e rúcula do chef argentino Francis Mallmann tem sido a minha preferida por aqui. O vídeo, aqui em espanhol, não é super produzido ou bonito, mas a salada… é aquele simples maravilhoso. Hoje, uma amiga me mandou esta receita aqui com figos assados, burrata e mel - e eu pretendo fazer logo.
Uma coisa que me surpreendeu: Fiquei impressionada com a afirmação da design de interiores Rose Tarlow ao descrever que ela escolhe um tom de branco para cada parede de um cômodo de acordo com a iluminação. Pelo que entendi, para alcançar a unidade de cor ano ambiente é preciso entender qual tom deve ir em cada parede para que criem, ao final, uma ilusão de serem o mesmo tom.
Uma experiência: Você já notou como alguns livros tem se transformado em pequenas instalações de arte propondo experiências que transcendem a leitura? Esses dias me deparei com “Agora eu ouço os sabiás” de Valeria Scornaienchi, na
e fiquei encantada como um livro pode ser - ao mesmo tempo - catálogo de exposição, registro de viagem, com desenhos e texto, além de ter caminhos que possibilitem ouvir sons incorporados à escrita. Além disso, a beleza do livro mescla diferentes tipos de papéis e texturas, incluindo vegetal, o que alguns editores considerariam “ousado”, e tipografias, o que o tornam único. Foi para a minha lista de livros a ler. Outro exemplar que também tem essa proposta e que está na minha lista é o PoemaPinturaPerformance: um livro na confluência das vanguardas artísticas do início do século XX, de Gustavo Piqueira, que une pinturas e poema em uma escala diferente.O que eu vi: A máquina fotográfica pode ser aposentada, o olhar não. Esta semana li em diferentes veículos que Sebastião Salgado anunciou sua aposentadoria do trabalho de campo nesta semana. Aparentemente, o fotógrafo e ambientalista decidiu abdicar de viagens e da fotografia para se dedicar ao seu acervo e fazer curadorias para exposições. Vale relembrar que em 2014, algumas de suas viagens foram imortalizadas no documentário de Win Wenders chamado “O Sal da Terra”, atualmente disponível aqui. Conhecido pelo inconfundível trabalho em preto e branco, sua obra já foi impressa em diferentes volumes. Acredito que Gênesis seja o mais conhecido (ou reconhecido) deles.
“Como já disse, a visão é alterada por sentimentos, sentimentos fortes”.
Agnès Varda
Foi só escrever Win Wenders, eu tenho a impressão que ele está em todos os lugares. Já comentamos aqui dele algumas vezes, pelo filme “Asas do Desejo” (1987), o documentário “The Notebook of Cities and Clothes” (1989) sobre o estilista Yohji Yamamoto. Hoje, enquanto escrevia aqui seu nome, logo me lembrei de Agnès Varda no documentário Janela da Alma (2001), que assisti na minha primeira aula de desenho da faculdade em 2009. A memória que tenho da fala dela sobre “guardar as imagens” do marido até hoje me emociona. Pesquisei rapidamente e encontrei o documentário disponível aqui. E qual não foi a minha surpresa ao ver o nome de Win Wenders lá? Eu não me recordava. Nossa, como nosso cérebro faz associações rapidamente, não é mesmo?
Das memórias que nós temos… eu sempre associo Win Wenders a uma amiga. Tivemos uma aula na qual lemos Le Spleen de Paris de Charles Baudelaire e “Paris, Capital of the Nineteenth Century” de Walter Benjamin, na qual o objetivo era falar sobre o Flaneur, e acabamos comentando Asas do Desejo também. Bom, fica a indicação de leitura destes dois textos, sendo que um deles pode ser um ótimo complemento pra quem ler Flaneuse, de Laura Elkin.
O que eu li - Não li muito em Fevereiro, em oposição aos 8 livros lidos em Janeiro mas, finalmente, terminei de ler “Mrs Dalloway” e não gostei tanto quanto eu esperava. Apesar de serem livros curtos, acho que ao ler Virgina Woolf preciso de um tempo para “decantar” e absorver sua escrita, por isso o intervalo de algumas semanas entre a leitura de cada terço do livro. Foi assim com “Um teto todo seu”, e agora com “Mrs Dalloway”. Enquanto me preparo para ler “Ao Farol”, na sequência, que prevejo que vai me tomar alguns meses de leitura também, pretendo assistir “As Horas” filme baseado no livro “Mrs Dalloway” e que me foi tão bem recomendado por uma amiga. Você assistiu?? O que achou? Eu acho que gostei mais de “Um teto todo seu” do que “Mrs. Dalloway”.
Eu ainda quero muito fazer um post com uma passagem que grifei na biografia de Peggy Guggenheim e uma passagem de “Um teto todo seu”. Preciso só me organizar para isso. Em linhas gerais, a escritora e a galerista dialogam em relação ao trabalho artístico feminino e a necessidade de um renda para sua realização. Como cheguei a ler os dois ao mesmo tempo por um período, achei interessante. Aliás, desde que li a autobiografia de de Peggy Guggenheim, também fiquei com vontade de rever o filme Pollock no qual Ed Harris interpreta o pintor, mas não o encontrei em lugar algum. No livro, a colecionadora lamentava ter “dado” 18 Pollocks quando ele era artista comissionado dela. Ela nunca esperou que seus quadros fossem valorizar tanto quando valorizam. Também há comentários acerca da ansiedade de Pollock em relação a bloqueios criativos, sua necessidade de isolamento para criar, e também que ele derrubou uma parede de seu apartamento para pintar uma tela comissionada. Isso que é dedicação ao trabalho.
E por falar em criatividade, abandonei o audiobook de “The creative act” (“O ato criativo”) de Rick Rubin. Não deu para continuar, o que gerou em mim uma frustração muito grande, afinal, como abandonar o que foi considerado “o melhor livro de criatividade já escrito até agora?”. Bom, eu achei o livro um repeteco de muito do que já li sobre criatividade com uma dose de espiritualidade (e quase algo sobre manifestação), sem contar os comentários do inconsciente na produção criativa. Talvez o timing não tenha favorecido a leitura?
Ouvi também no Audible - finalmente- , depois de tanto adiar, “The most powerful woman in the room is you” da ex-leiloeira da Christie’s Lidia Fenet, que hoje também tem um podcast. O que me motivou a ouvir, mesmo sabendo de sua existência há anos, foi quando li um comentário que dizia: 70% livro de memórias, 30% conselhos. E eu, que adoro um bom livro de memórias, não me arrependi… mas eu gostei mais pelos bastidores dos leilões. Acho que forma uma boa leitura combinado com “The gift of asking”, de Kemi Nekvapil.
Resolvi reler “Vidas a Deriva” (que inspirou o filme homônimo), de Tami Oldham Ashcraft, depois de ler Mil Milhas, de Tamara Klink. Foi interessante ler com proximidade dois relatos tão diferentes acerca de viagens náuticas solo. Tami já somava 50 mil milhas quando encontrou um furacão em alto-mar na sua viagem entre o Taiti e o Havaí. Comecei a criar interesse por relatos náuticos depois de minha afilhada, de 13 anos, ter demonstrado interesse pelo oceano. Propus a ela que lêssemos Tamara Klink juntas para expandir o vocábulo acerca deste universo, mas ela pediu que eu lesse este livro para comentar com ela. Achei curioso que o livro comenta um filme que eu amava quando tinha a idade dela, foi um momento nostálgico pra mim. Como somos marcados por algumas obras! Fiquei feliz de ver também como agora temos muito mais romances escritos por brasileiras voltados para o público adolescente. Para terminar, outra pessoa que também narra histórias em alto-mar, mas de uma embarcação diferente, é Nellie Bly em seu “Volta ao mundo em 72 dias”. Considerei abandonar o livro, infelizmente, tenho considerado seus relatos superficiais quando eu esperava por mais detalhes acerca da experiência e dos lugares que visitou.
Ah descobri que agora o Audible tem uma plataforma no Brasil com audiolivros em português! Assinantes Amazon Prime podem experimentar, sem custo, por 3 meses. A experiência é diferente do Audible do exterior, pelo que eu entendi, e inclui vários livros no catálogo pelo valor da assinatura (no exterior você ganha créditos para escolher 1 livro por mês). Ouvi o audiolivro indicado pela minha afilhada por lá. Achei o catálogo interessante e o preço da mensalidade também, custa R$19,90 e com audiolivros mais em conta do que algumas edições impressas (algumas edições chegavam a custa 5x o preço da edição impressa). Ainda não sei se começou, mas parece que o Spotify está com uma proposta de incluir audiolivros na assinatura de assinantes premium também. Estou compartilhando pois muitos me perguntam onde eu ouço audiolivros e sempre respondia com Audible, em inlgês, mas agora temos em português também!
O que ouvi - Ainda inspirada pela cerimônia do Grammy, ouvi Samara Joy em diferentes momentos neste mês. Também resgatei o cd Hunter de Morgan James, a cantora que foi treinada na Julliard para ser cantora de ópera, mas que acabou se enveredando por diferentes gêneros. Eu não a ouvia há tanto tempo! Aliás, o documentário do Netflix “A noite que mudou o pop” foi uma grata surpresa, na minha opinião. Fiquei impressionada com a jovialidade e energia de Bruce Springsteen e a necessidade de privacidade de Bob Dylan. Acho muito legal conhecermos um pouco mais os artistas e seus projetos/criações, inspirações e bloqueios também...
Já comentei aqui que gosto da estética de algumas marcas de fora como The Row, Khaite, Toteme, VB, Gabriela Hearst e afins. Esta semana, este post do BOF me chamou a atenção: The Row’s Margaux: A Birkin in the Making? Nele, há relatos da falta de estoque da bolsa (com modelos entre 4-50mil dólares) em diferentes lojas. Aparentemente, dado ao seu valor, demorou até que a bolsa fosse este “acontecimento fashion”, mas ainda é cedo para afirmar se ela poderia ser tão famosa quanto a bolsa da maison francesa. O que me chamou a atenção ao ler o artigo foi a necessidade de ressaltar a distinguibilidade da marca no instagram - mais como um “moodboard” misturando peças/obras de arte com referências e produtos, assim como seus desfiles, que não se preocupam em ser algo instagramável e sim uma forma de exposição das peças da marca para a imprensa e os compradores. Nós já comentamos sobre a marca aqui, especialmente sobre seu perfil na rede social.
Nosso olhar #6 - Ana Khouri, escultora e designer de joias.
Já comentei aqui que todas as casas que eu seleciono para a coluna nosso olhar, acabam revelando muito do meu olhar, e por isso, muitas delas tem elementos semelhantes. Na escolha de hoje, a beleza e a a leveza do apartamento de Ana Khouri no Upper East Side em Manhattan, que me fez suspirar!
Sempre tão discreta e elegante com outfits bem cortados e monocromáticos para que permitam que suas criações brilhem, Ana Khouri produz peças que atravessam desde fashion weeks (ela já trabalhou com parceria como a marca The Row) à eventos como o Met Gala e o Oscars, além de ter exposto seu trabalho em três grandes casas de leilão: Sotheby’s, Christie’s e Phillips. Suas joias são únicas, algumas quase esculturais.
Pela primeira vez, a designer abriu as portas de seu apartamento para o Financial Times, e nos revelou objetos da arte e do design brasileiro em detalhes. Dos azulejos de Adriana Varejão no banheiro, que me deixaram curiosíssima quanto a escolha da composição, ao quadro de Marina Rheingantz e o mobiliário assinado por nomes como Oscar Niemeyer, Joaquim Tenreiro e Jorge Zalszupin, o apartamento é abrilhantado por uma luz que torna o espaço ainda mais leve e, aparentemente, o que teria conquistado a morados. A união de uma simplicidade arquitetônica, um design de marcenaria limpo - sem adornos ou excessos - faz com que estes elementos cuidadosamente escolhidos se destaquem, assim como as joias de Khouri em um outfit. Essa combinação esbanja elegância e sofisticação, além de deixar claro o apreço da proprietária por clássicos do design do Brasil e do mundo. Além desta coleção de peças habilmente curada, além de esculturas feitas por Khouri, que ao final do artigo revelou ter dois ateliês: um para sua arte e outra para o métier de joalheira. Ela acredita que a energia de cada lugar favorece um tipo de produção.
Seu lar não é feito apenas de peças assinadas por brasileiros. Destacam-se, por exemplo, cadeira e mesas de Jean Prouvé, assim como vimos na casa de Ludivine Poiblanc e Fabien Baron em Nosso Olhar #3 (eu brinco que meu gosto é refletido nas casas que exponho aqui), e também cadeiras de Pierre Jeanneret, só para comentar alguns dos itens que a colecionadora designer de joias nos apresenta em sua casa. Encantador. O artigo completo você pode ler aqui. Abaixo, o post feito pela designer em sua conta no Instagram. Uma aula de elegância e simplicidade, num apartamento onde a luz tem um papel fundamental.
Sempre válido comentar como o espaço e a curadoria de peças de seu studio (fotos aqui) dialoga com as peças e algumas das características já mencionada aqui sobre a construção de seu apartamento, só que com menos pinturas e mais esculturas. Vale a pena ver o vídeo abaixo, feito pela casa de leilão Phillips, no qual é possível ver os detalhes que compõe o studio e saber um pouco mais desta escultura que foi - literalmente - comissionada a transformar suas esculturas em jóias.
Assim como Gabriela Hearst leva para sua loja um pouco de sua casa, foi interessante ver que Khouri também apresenta esta postura em seu studio. O meio influencia o trabalho. Neste mês de março vamos falar um pouco sobre isso também. Por hoje é isso.
Até breve.
Aviso:
Eu gostaria de ter começar o Leia Comigo no meio de Março mas, apesar de ter fechado o plano de leituras, não consegui fechar o plano de assinatura aqui no Substack. Aparentemente, o meio que o Substack usa para cobrar tem algum problema com o meu banco. Então, sendo assim, seguiremos com a newsletter gratuita até eu conseguir fazer isso funcionar, ou encontrar uma alternativa que permita nosso projeto de leitura. Espero de verdade que possamos começar no meio de Março.
Amei a news! Quanta dica boa! Muita inspiração. Já estou com a salada, Wim Wenders e A noite que mudou o pop aqui na lista, só para começar. Arrasou ❤️