Em Casa #04
Antes da edição de hoje, queria comentar que tivemos um novo episódio do videocast no ar, com um tema importantíssimo: A casa e o impacto que ela tem em nosso bem-estar. Clique aqui para o post que com os links para acessar o episódio no YouTube e no Spotify.
O que maçãs, bananas e laranjas podem nos ensinar sobre negociações?
Algumas lembranças que carregamos conosco ao longo da vida ajudam a nos moldar como pessoas. Afinal, a nossa, forma de olhar o mundo é baseada no “caderninho de experiências” que temos dentro de nós. Ontem, meu caderninho ganhou uma memória que vai ficar cristalizada como tal. Comer biscoitinho de araruta na fazenda, por exemplo, é mais uma memória que ficará nos capítulos iniciais lá trás.
Outra memória que tenho da infância é de sempre falar para a minha mãe que eu queria comer “a maçã da Branca de Neve”. E minha mãe não entendia o porquê do pedido, já que para ela, naquela cidade provinciana que só tinha dois tipos de maçã - a nacional e a argentina - uma era saborosa e a outra tinha gosto de papelão. O que minha mãe não sabia, naquela época, é que a beleza da maçã, pra mim, importava. Nascia uma esteta. Minha avó, minha madrinha e a minha tia, a que sempre tinham rosquinha de araruta em casa, foram pessoas que souberam identificar e incentivar esse lado, enquanto minha mãe, muito contrariada, tentava me dar liberdade criativa - especialmente depois que alguém na escola disse a ela sobre a mãe do Spilberg e ela me contou como aquela conversa a impactou - contei sobre ela aqui.
Comentei isso pois, na semana passada, fui ao Harvard Brazil Alumni Summit que este ano foi dedicado ao tema de Inteligência Artificial e o mais interessante foi como este tema perpassou todas as áreas - como negociação, educação, política, medicina, artes e criatividade (esse vamos falar em uma edição mais a frente, já que você conhece o meu interesse no tema).
A palestra de abertura, que mais pareceu uma conversa íntima entre as aproximadamente 200 pessoas que estavam lá (estou chutando) foi dada por um professor da universidade, Daniel Shapiro, reconhecido mundialmente pelo ensino de negociação, e autor de livros como Além da Razão: A força da Emoção na Solução de Conflitos (que comecei a ouvir no mesmo dia) e Negociando o inegociável. Quero muito dividir o que ele me ensinou, pois, além de considerar uma aula maravilhosa, foi um ensinamento tão simples sobre negociação que eu sinceramente pensei: como eu nunca ouvi isso antes?
Professor Shapiro começou sua fala dizendo que negociamos o tempo todo. E que atualmente, seu trabalho foca em entender como lidar com emoções e identidade em negociações, como visto no livro Além da razão, em co-autoria com Roger Fischer. Ele então comentou esse exemplo da laranja que eu quero dividir com você. O exemplo que ele deu, e que me fez voltar à infância, e eu vou explicar o porquê, além do motivo de achar que está conectado com muito do que eu já falei aqui, está conectado com laranjas. Já vou me antecipar e deixar o link dos post que se relacionam com este tema.
O exemplo foi simples: você tem duas crianças em casas e apenas uma laranja. As duas crianças querem a laranja, o que você faz? A minha resposta foi imediata: eu corto a laranja e ofereço metade pra cada uma delas. Grande parte da plateia também disse o mesmo. “Ele então falou o que mais poderíamos fazer neste caso?” - ele perguntou - “talvez tenhamos outras frutas em casa, poderíamos tentar negociar se alguém gostaria de uma banana? Ou outra coisa?” - e a plateia novamente concordou. Até que o professor comentou: “existe uma simples pergunta que deveria ser feita aqui: Por quê você quer a laranja?”. Precisamos estar atentos ao que está por trás do interesse de alguém em algo. (E isso vale pra tudo na vida).