Livros e um desabafo
Nas últimas semanas, eu me cansei das redes sociais. Quis desistir do substack, do meu insta, pensei até no porquê de publicar artigos (sim, existe uma rede social só para acadêmicos - a Academia). Eu vi um Embaixador da Boa Vontade da Unesco empregar o termo cultura de forma errada1 e usar caipira de forma pejorativa, ignorando toda riqueza cultural deste povo. Eu vi uma pessoa falar que a poltrona Barcelona, de Mies van der Rohe, foi feita para a realeza, e ignorando o fato dela ter sido feita para o pavilhão alemão em Barcelona, e a mesma pessoa falar - pela segunda vez - que a cadeira de escritório Eames, que é assim nomeada por conta de seus autores, ser de autoria de Herman Miller, nome da fabricante de mobiliário (conheça a história da fabrica e o porquê de seu nome aqui!).
Eu não vejo mal em errar, pelo contrário, acho que todos nós erramos (eu mesma já errei tantas vezes!), mas eu me preocupo com a influência que essas pessoas têm. E, sinceramente, me preocupei com o erro que uma pessoa ligada à UNESCO, o “braço” de cultura da ONU, cometeu. Eu sei que ele entregou sua mensagem e eu concordo, em parte, com ela, mas acho que os erros tiveram um peso grande na minha leitura - meu olhar já modificado pela academia não aceita certas coisas, ele avalia com cuidado o emprego das palavras.
Citei estas duas situações para mostrar que foi assim que eu percebi como eu me contenho em falar algo ou me expor pela minha exigência comigo mesma. E reconheço que talvez eu possa contribuir com algo, tanto é que criei esse canal durante a pandemia. As vezes eu demoro a enviar uma news, por medo de não ter conferido alguma informação. Ou então eu envio e fico me perguntando: será que eu falei demais? Me expus demais? Critiquei demais? Fui chata? Será que eu fui relevante?
Estou lendo vários livros ultimamente para trabalhar estas questões em mim - alguns deles por recomendação da minha psico, e sei que eles têm alguns pontos em comum. Senti então a vontade de compartilhar a pequena lista com vocês, os criativos que aqui me acompanham (e, mesmo que você não se considere um criativo, acredite, você é!).
Vergonha e Exposição
A começar pelo livro: “A Coragem de ser Imperfeito”, de Brené Brown. Acompanho o trabalho da pesquisadora, mas este livro eu confesso que já tinha iniciado algumas vezes e não continuei, até que minha psico me recomendou lê-lo especialmente pelo que ela fala sobre a vergonha. (Acredito que existe timing até para leitura) Estou “lendo e estudando” este livro com calma, o que pode significar ler um capítulo, grifar e anotar, reler, e só retomar a leitura depois de alguns dias. Não, não é um livro para ler com pressa. Até agora eu já aprendi que eu não sou uma pessoa plena, e que o que ela mais critica na academia foi um dos primeiros conselhos que eu recebi, aliás, eu bombardeada pq eu não sabia me distanciar do meu objetivo de pesquisa. Escrevi até um artigo que envolve um pouco esta temática. Parece que só somos capazes de analisar algo se formos distantes, e eu comecei a questionar um pouco isso.
Uma outra recomendação de livro que recebi foi “Limites Internos” de Steven Pressfield, anteriormente publicado como “A Guerra Da Arte: Supere os bloqueios e vença suas batalhas interiores de criatividade” (confesso que prefiro o título original rs). Quem me recomendou foi a Thai Bufrem, que publicou uma página e uma série de comentários que me instigaram muito a ler o livro, e eu não resisti en perguntar qual era. Lembro de tê-lo comprado assim que ela indicou e ter terminado de ler em poucas horas depois. O livro é daqueles que você senta e lê rapidinho. Nele, o autor fala sobre procrastinação, criatividade e o medo que as pessoas têm de expôr seus trabalhos. O autor fala bastante sobre a nossa vontade de dividir um talento com os outros e a resistência que existe entre o querer e o fazer.
Criatividade
Um conselho que recebi na vida e nunca mais esqueci foi: “Cada vez que lemos um livro, fazemos uma nova leitura, pois as nossas experiências não nos permite ler a mesma coisa”. Quem me disse isso foi um livreiro sul-africano cujo sebo eu visitei inúmeras vezes enquanto aluna do ensino médio. Ele falava sobre a importância de reler alguns livros ao longo da vida, para ver como nosso olhar, transformado pelas experiências, é capaz de encontrar novos detalhes e novas histórias.
Sendo assim, ano passado “reli” (na verdade, ouvi o audiobook) “Grande Magia” de Elizabeth Gilbert. QUE LIVRO - eu tinha me esquecido o quão bom ele era! Ela fala sobre o timing das ideias, sobre exposição e sucesso - aliás, depois da quantidade de elogios que eu recebi da news de bloqueio criativo, eu achei que eu seria incapaz de superar aquele conteúdo haha. Este é um livro que eu coloquei na minha lista para reler sempre. A experiência de ouvir o audiobook foi maravilhosa, recomendo.
Na sequência, eu ouvi o audiobook de: “O ano em que disse sim“ de Shonda Rhimes. Ler Shonda na sequência de Liz Gilbert me fez entender como estes dois livros podem ser uma dupla poderosa. Apesar de o livro falar muito sobre o “sim”, a parte que eu mais gostei foi de quando ela aprendeu a dizer não. Uma vez me ensinaram uma fórmula para dizer não, era assim: “Não + Explicação + Sim” futuro, o que lembra um exemplo que Marshall comenta no livro da CNV.
Comunicação
Uma das experiências mais fantásticas das quais já participei, e digo em termos de transformação pessoal mesmo, foi ler em grupo o livro: “Comunicação não violenta”, de Marshall Rosenberg. [No L.E.I.A - Lendo e estudando com Isa Andrade - Isa é minha psicóloga e contribui para o aumento da minha biblioteca]. Eu aprendi a identificar sentimentos, necessidades, fazer pedidos e o mais importante: a diferença entre julgar e avaliar. Essa experiência me proporcionou um crescimento maravilhoso. A gente acha que a gente sabe se comunicar e fazer tudo isso, a verdade é que nem todos sabem, e este livro nos ensina como. É um exercício diário e contínuo. E melhorou muito a minha forma de ouvir e falar, especialmente com clientes.
Ainda a respeito de comunicação, o livro “Arquitetura no divã” é uma excelente dica para os que começam a caminhar na arquitetura. A nossa casa reflete muito como estamos por dentro. As vezes não conseguimos colocar em palavras as sensações e o que estamos experimentando, então fazemos o que? Mudamos a casa. Quem nunca teve um cliente que se separou enquanto construía a casa dos sonhos? Ou quem passou por um luto e resolveu mudar tudo tentando modificar as memórias e lembranças? Pois bem, o que a autora faz é reunir diferentes exemplos e apresentar conceitos da psicologia para explicar estes casos que muitos de nós, arquitetos, experimentamos enquanto profissionais. Por isso eu o coloco junto da comunicação não violenta, é uma dupla pra ser lida juntinha rs. Observação: a própria autora comenta que alguns podem considerar o livro raso. Se você já tem contato com alguns termos da psicologia, talvez você não o valorize tanto, mas eu achei que mesmo assim valia a pena indicar.
Sabe, as vezes eu perco o timing das coisas aqui. Eu sei que eu não sou a pessoa que vai trazer tudo comentado no exato momento que acontecer, até mesmo porque este não é o meu trabalho. Eu nunca comecei o The Mid achando que eu teria 1 milhão de seguidores. Eu sempre achei que aos poucos eu construiria o meu espaço, despertaria a curiosidade de uma ou outra pessoa e compartilharia coisas diferentes sob o meu olhar. Hoje, somos mais de 100 pessoas nesta comunidade e eu me orgulho muito da forma como ela tem aumentado. Eu acredito que a curiosidade nos faz crescer, é algo super importante em nossas vidas, ajuda a aumentar nosso repertório cada vez mais e é essa a contribuição que eu sempre quis fazer com o The Mid. Por mais simples que for o objeto/assunto em questão, se ele nos provocar uma curiosidade, já terá valido a pena.
Sejam curiosos, sempre!
Até breve,
Helena
PS: Aliás, lembrei de um último livro “Jackie Editora” - pode soar como uma indicação estranha, mas eu amei conhecer a leveza com a qual Jackie O. editou alguns livros. Como ela fazia com que as pessoas acreditassem que seus temas pudessem virar livros, que eles mereciam ser divididos. O respeito para com a escrita do outro. Seu repertório. E o cuidado e atenção com estes itens tão maravilhosos que ela chamava de “amigos”. Eu amei! Não é segredo algum que eu admiro Jackie. Depois de ler este livro, fiquei ainda mais encantada pela sua pessoa.
Helena, super te entendo. Tenhas essas limitações e minha exigência me faz adiar posicionamentos e até iniciar projetos. Um livro que me resgatou em Maio foi o Mais forte que nunca, da Brené Brown. É sobre a volta por cima. É tão bonito como as palavras, seja nos livros ou aqui, nos fazem enxergar a nós mesmos, né? Assim como a casa. :)