Olá!
Estava almoçando com uma amiga esses dias quando comentamos acerca dos diferentes significados das palavras para nós - profissionais de uma área, e para as pessoas que procuram nos procuram como profissionais. Não foi tão difícil como descrever o que é sucesso, mas, mesmo sendo uma conversa corriqueira, me provocou algumas reflexões.
Por exemplo, uma palavra que ela sinalizou foi “elegância”. Eu tentei então eleger o que seria elegante pra mim, em termos de design e arquitetura… logo penso na Farnsworth House (1945), de Mies Van der Rohe, a epítome da elegância em termos de arquitetura - para mim. E, como não posso falar de uma sem citar a outra, a casa de vidro de Lina Bo Bardi (1950) igualmente elegante. Mas, também acho que poderia ser uma residência projetada pelo Richard Neutra (lê-se Noitra), como a Kronish House 1(1954), por exemplo. Em termos de interiores, poderia citar os de Frida Escobedo para Aesop, como o da Coconut Grove, em Miami e da Park Slope, no Brooklyn - me encantam! Em termos de mobiliário, a chaise longue Rio (1978), de Anna Maria e Oscar Niemeyer, além de elegante, considero-a sofisticada. Já em termos de arquitetura, sofisticação pra mim pode ser simbolizada pela a obra de Tadao Ando - qualquer uma.
Percebem que indiquei a data ao lado das obras? Pois bem, pra mim, o maior sinônimo de elegância é estar à prova do tempo. Ser atemporal. Óbvio que considero muitos outros designs elegantes, mas quis destacar aqui alguns exemplos. Cada arquitetura tem seu papel. Algumas são conspícuas, outras disruptivas, umas outras têm a função de resguardar a memória de um povo.
Porque quis abordar esses exemplos, porque no meio da faculdade, em 2012, acho, meu professor de teoria da arquitetura fez uma pergunta muito simples: “O que é arquitetura para você?” e a percorreu a sala indagando cada aluno. Uma colega respondeu que era estética, e na sequência eu falei que para mim, não era assim não, se arquitetura fosse apenas sinônimo de estética, como um cego a perceberia? A arquitetura deveria ser possível de ser percebida pelos sentidos.
Quando eu tinha uns 12 anos eu assisti um filme chamado: At First Sight, baseado no ensaio “To see or not see”, inspirado em uma história real, escrito pelo médico Oliver Sacks. No filme, Amy é uma arquiteta e Virgil, um massagista cego. Em uma das cenas, ele descreve o interior de uma edificação a partir do barulho que a chuva faz, e em contrapartida ela usa a expressão alemã “Einfühlung” para descrever aquele momento. Aquela cena me marcou tanto que quando o meu professor perguntou aquilo, eu já sabia o que nortearia meu projeto final: arquitetura e os sentidos e percepção arquitetônica.
Edit: Recebi como feedback o interesse de algumas pessoas por este tema. Recomendo muito a leitura dos trabalhos do professor finlandês Juhani Pallasmaa. Ele é o responsável por eu ter me apaixonado (ainda mais) por arquitetura. Ele trabalha estes temas de arquitetura e os sentidos e percepção arquitetônica. Seus livros mais conhecidos são: The Eyes of the Skin: Architecture and the Senses e Questions of Perception.
Para ilustrar meu trabalho, no formato de uma revista, escolhi os seguintes projetos: As Termas de Vals (1996), de Peter Zumthor, o Museu Judaico de Berlim, de Daniel Liebeskind e, não apenas 1 mas 3 projetos de Tadao Ando, The Water Temple (1989), a Igreja na Água (1988) e a Igreja da Luz (1999) - acho que de todos, meu projeto preferido, ou não, fico em dúvida quando o assunto é o Tadao. Óbvio que incluí arte também: as esculturas de Richard Serra - já comentamos sobre ele por aqui.
Por que debater dois assuntos num única newsletter? Porque nossa percepção é individual e pessoal. Arquitetura não foi feita apenas para ser apenas vista como elegante, moderna, minimalista ou grandiosa; ela provoca sensações. Mas como trazer isso para a escala da nossa casa? Vejamos um exemplo simples: que imagem sua casa passa? O que você sente quando ela nela? Como você a caracteriza?
Esses dias comprei um livro muito interessante no qual a autora, uma designer de interiores, mostrava sua casa antiga restaurada, e com uma coleção de livros que fez a minha parecer pequena. Eu amei como ela lida com a cor branca, apesar de sua linguagem estética ser diferente da minha, gosto da sua filosofia e aprendi muito com algumas coisas que ela disse. Enquanto eu admirava sua elegância e estilo num contexto diferente dos que estamos acostumados a ver, uma outra pessoa comentou que o livro era ideal para quem gostasse de: “'Hospitais vitorianos, todos brancos”.
Achei indelicado o comentário. Tudo bem não gostar. Mas porquê você não gosta? Você consegue explicar? Isso é fundamental. ‘Saber dar nome’ é essencial para proporcionar um bom diálogo, seja a respeito de arte, de uma arquitetura, ou acerca da sua casa dos sonhos. Talvez você já experimentou uma obra de Serra e ela fez com que você se sentisse enjoado, e isso não tenha causado uma boa impressão. Talvez, por provocar tantas sensações, ela tenha marcado. Cada um tem experiências únicas com o mesmo objeto. Uns amam Niemeyer, outros não. Uns amam o movimento moderno, outros não. Mas enquanto não soubermos dar nome e desenvolver o porquê, não cresceremos como apreciadores. Parece que é questão de escola, o famoso “justifique” - mas não é. É um tipo de exercício que podemos fazer inúmeras vezes e de inúmeras formas.
O que é elegante pra você? O que é sofisticado? O que uma obra de arte ou uma arquitetura provocam em você?
Apesar deste link focar no paisagismo, eu o escolhi pois mostra a revitalização que foi feita no espaço.