Olá!
Como foi sua semana?
Hoje vamos falar sobre uma das minhas paixões: livros! Essa news começa com uma pequena conversa, passa por um sistema de organização e termina com a apresentação de uma artista que transforma livros em obras de arte.
Espero que goste. Ah, e por favor, não deixe de me contar o que você achou desta news!

Recordo-me que, durante a faculdade de arquitetura, um professor me disse uma vez: “Todo arquiteto tinha que ter a chance de desenhar uma biblioteca durante a carreira. Ainda mais uma parede de livros com pé direito duplo”. Discutíamos, naquele momento, uma biblioteca com pé direito duplo que eu havia acabado de propor em um projeto.
Eu e os livros temos uma longa história. Além de uma dissertação de mestrado e uma tese de doutorado, eu escrevi um romance aos 14 anos que foi publicado e vendido. Escrever e ler sempre foram atividades constantes na minha vida. Sou dessas que vai ao encontro de autores, coleciona edições e pede autógrafos (sou apaixonada pelas molduras de documentos e autógrafos no escritório do Charles, editor na série Younger #inspo). Tive o privilégio de conhecer de perto e até conversar com autores que eu muito admiro.
Os livros impulsionaram meu desejo de viajar e conhecer o mundo. Foi por meio de um livro que mãe leu na infância que eu comecei a falar que gostaria de viajar e conhecer o mundo (Pocahontas, in case you are wondering). Foram os livros que ditaram inúmeros dos lugares que visitei, como Londres e Santorini, que por acaso tem uma livraria, a Atlantis Books, que é considerada uma das melhores do mundo. Livros são fontes infinitas de inspiração, nos transportam para realidades diferentes e únicas, nos propõem fantasias, distopias, e também são conhecidos por serem a forma mais fácil de viajar sem sair do lugar.
Recentemente, encontrei esse quadro da revista Marie Claire chamado Shelf Portrait e dos que eu vi até agora (são muitos, ainda não vi todos) um dos que mais me encantou foi o episódio da Alanis Morissette, uma artista que eu conhecia muito pouco. O que me chamou a atenção não foi apenas a biblioteca que ela tem, eu não imaginava que ela fosse tão bookworm1, mas pelas respostas super-honestas também. Inclusive, fui influenciada por ela a ler um livro ou outro. Neste quadro, que já contempla inúmeras participações, uma das perguntas que eu mais gosto é acerca da capa do livro.
Quantas vezes você já foi atraído pela capa de um livro? Assim como o rótulo de um vinho, é o nosso primeiro encontro com o item. Algumas edições são tão belas que passam a ser exibidas como objetos de decoração. Isso não é novidade, sempre vimos isso, em especial com livros de moda, arte e fotografia. No entanto, agora, com mais frequência, tenho visto especialmente os livros de viagem da Assouline. Alguns livros são tão bonitos que já são considerados “coffee table books” no próprio anúncio da venda, ou seja, livros destinados à mesas de centro (as “coffee tables”) e decoração no geral.
Essa newsletter estava prevista como um post na primeira semana de criação deste site. Este é um assunto que nos possibilita abordar inúmeros assuntos, desde o livro até a organização da sua biblioteca, passando pela forma como ela a/o identifica. Livros são uma forma de expressão, e alguns dizem que ao conhecer a biblioteca de uma pessoa é possível conhecer muito sobre ela! Eu concordo. A minha biblioteca tem um sistema de organização que me auxiliou muito, especialmente nos anos de pesquisa acadêmica. Meu método é simples, e tem como objetivo otimizar meu tempo em relação à procurar obras e autores específicos. Além disso, eu tenho várias edições do mesmo livro, seja por pesquisa (é fundamental entendermos a evolução do pensamento do autor e as possíveis correções ou edições que ele fez), ou por conta do meu amor pela obra que me faz comprar em um outro idioma. Abaixo, compartilho um esquema de como organizo minha estante. (tentei fazer um reels inúmeras vezes sobre o assunto, mas ele se perdeu, então, simplifiquei fazendo o esquema assim).

Leigh Haber, editora de livros da O, a revista da Oprah e coordenadora do Clube do livro da Oprah, disse que tem uma tendência à julgar estantes que usam o sistema de cores para sua organização. Ela compara o fato à pessoas que compram livros falsos ou livros com a única finalidade de serem usados em decor. Segundo ela, “livros não são decoração!”. A tendência de organizar a estante em escala de cor também não é recente, no entanto, ganhou popularidade com a propagação do método de organização da empresa The Home Edit, que ganhou um seriado no Netflix com mesmo nome. Algumas pessoas amam e propagam, falando que além de ser esteticamente aprazível, colabora com a decoração da casa, além de ser um sistema de fácil identificação, como pode ser lido neste artigo do site Oprah Daily.
Eu, pessoalmente, não gosto muito do método de organização por cores. Acho que existem exceções, como por exemplo, uma pequena composição com tons próximos e que não precisarão ser manuseados sempre ou alguma composição em local estratégico. Acredito que para que essa composição tenha um efeito atraente e delicado é necessário uma grande quantidade de livros (e proporcionais em cores) para que o efeito seja um resultado agradável, caso contrário pode se tornar um peso visual muito grande, especialmente se for utilizado como fundo em suas reuniões de trabalho, pois as pessoas vão estar mais sucetíveis a olhar os livros do que a sua figura, quando o mais importante deveria ser você.
Assim como Harber, não sou a favor da compra de livros falsos ou comprados com a única finalidade de serem usados como decoração. No entanto, acredito que existem livros que de tão bem feitos acabam se transformando em peças de arte e devem sim ser expostos em lugar de exaltação, como por exemplo, as obras primas de Irma Boom, designer gráfica especialista em livros.
Na abertura da palestra de Boom na GSD, a escola de design de Harvard, o apresentador expressa com ênfase que livros são “objetos culturais e um formato de mídia”. No entanto, há quem diga que o trabalho da designer é transformar livros em esculturas. A designer foi a pessoa mais jovem a receber o prêmio Gutenberg, destinado àqueles que contribuem com a produção artísticas de livros, pelo conjunto de sua obra. Ela foi professora em Yale e tem no currículo clientes como o Museu de Arte Moderna de Nova York, o arquiteto Reem Koolhass, a Ferrari, a Vitra International, a ONU e a minha Maison preferida, a Chanel.
Irma Boom mora em Amsterdam, onde tem um studio que divide espaço com a galeria de seu companheiro, Julius Vermeulen. O local não é apenas um espaço de trabalho, onde ela experimenta e desenvolve a arte de fazer livros a cada dia, mas contempla também sua biblioteca com uma coleção de livros raros que datam dos anos 1500.
“Bookmaking is an ongoing process of study. I just keep on going,” she says. “I always think that the best is yet to come.” - Irma Boom
Eu adoro vê-la falando sobre seus trabalhos. Adoro seu entusiasmo e a forma como ela se coloca com humildade na posição de uma aprendiz que precisa aprender mais acerca de seu ofício. Seu belíssimo trabalho, que já foi exposto no Pompidou e no MoMA e reconhecido com diversos prêmios, carrega consigo uma missão muito bonita a de “manter o livro físico vivo”, segundo as palavras da própria artista.
Segundo artigo no New York Times, seus livros transcendem a função básica de serem meros carregadores de informação. Separei aqui um vídeo no qual ela conta sobre o processo de criação do livro que fez para Chanel. Dentre tantos trabalhos e criações, por que escolher este para expor aqui? Pois, é simples: é livro totalmente branco, sem tinta, cujo objetivo era contar a história do perfume Chanel n.5. Desde as viagens de pesquisa que fez, a convite da Maison francesa, para mergulhar neste universo que envolveu visitas à Grasse, onde estão os campos de flores que são utilizadas na fabricação do perfume, até a visita ao apartamento de Coco Chanel e todo seu método e processo de criação deste livro que deveria evocar sensações e reproduzir um dos odores mais famosos do mundo.
Acho que depois de tanto falar sobre livros, vou ali ler mais um pouquinho.
Até a semana que vem!
Helena
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ps1: se você está com dificuldade para retomar o hábito da leitura, aprendi com meu amigo João uma dica ótima: “O livro do final de semana” - é um livro simples, fino, com um deadline para ser finalizado. Uma forma leve de adicionar ou retomar o hábito.
ps2: Na pasta Exhibiting Books, no meu Pinterest, tem diferentes imagens de referência acerca de livros e estantes, além de dicas de composição. Se já existe materiais bons e disponíveis, porque repetí-los? Acesse e venha fazer parte da minha comunidade por lá.
Adição em 03/11:
Acho que vale a pena recomendar mais esses dois artigos acerca do trabalho de Irma Boom que não foram incluídos anteriormente:
Irma Boom and the Objectification of the Book
Reputations: Irma Boom
Aliás, você sabe o que é bookworm? Além de ser o nome de uma das livrarias mais legais que já visitei, em Pequim, é uma expressão muito utilizada para se referir à “devoradores” de livros, leitores vorazes.