Nosso Olhar #1 | Home - Work - Style
Como revelamos nosso olhar por meio de nossas escolhas
Este post é um experimento. Quero tentar mostrar de forma sucinta (que desafio!) como nosso olhar é refletido por meio de nossas escolhas. Sendo assim, vou pegar studycases nos quais podemos ver esse diálogo existente entre trabalho, casa e estilo. Poderemos eventualmente incluir também referências, por exemplo, para mostrar como as absorvermos.
Nosso olhar é influenciado por nossa história, nossa cultura, nossas memórias e toda a “bagagem” que acumulamos ao longo do vida.
Nosso olhar e nossa história são indissociáveis.
Para começar, quis pegar um exemplo de alguém cujo design eu admiro, e já comentamos por aqui, a estilista Gabriela Hearst (45)1. Uruguaia radicada nos Estados Unidos, que leva muito de suas raízes para a passarela em sua marca homônima, que foi comparada à americana The Row - das gêmeas Olsen2 - e vista como uma versão americana da Hermès3, segundo a Harper’s Bazaar.
“Hearst is one of New York’s most influential designers, famed for her quietly elegant collections that focus on sustainability. Since first launching in 2014, her luxury label been compared to The Row and to an American version of Hermès thanks to her refined, elevated aesthetic and emphasis on craftsmanship.” (Ella Alexander para Harper’s Bazaar)
Com seu desenho refinado que compõe linhas de elegância discreta, tal como descrito acima, a uruguaia fundou sua primeira marca, a Candela, em 2004, 11 anos antes de ter sua marca homônima. Em 2017, ela foi adicionada à Business of Fashion BOF500. Além de ser uma fashion designer, ela ainda administra o rancho de sua família no Uruguai.
Quando pensei em escrever essa série de posts, logo pensei nela! O trabalho de Hearst (e seu estilo discreto) me encanta. A estilista tem um olhar refinado - e único - que se destacam cada vez mais, e coleções que me fazem suspirar devido à elegância e beleza. Eu passei a querer conhecer mais sobre ela quando conheci sua Nina bag, batizada assim em homenagem à cantora Nina Simone.
![Gabriela Hearst — the woman behind fashion's most wanted bag | Financial Times Gabriela Hearst — the woman behind fashion's most wanted bag | Financial Times](https://substackcdn.com/image/fetch/w_1456,c_limit,f_auto,q_auto:good,fl_progressive:steep/https%3A%2F%2Fbucketeer-e05bbc84-baa3-437e-9518-adb32be77984.s3.amazonaws.com%2Fpublic%2Fimages%2F0dada9e7-4ca4-4c56-ae48-7383ff22b9ae_700x475.jpeg)
O fato dela criar modelos baseado em suas raízes também chama a atenção. A forma como ela usa o couro e outros materiais propondo novas estruturas e até mesmo quando sua equipe repõe o uso de materiais sobressalentes4 é única. Vale lembrar que um dos pilares do trabalho de Hearst é a sustentabilidade que tem, inclusive, ações catalogadas em seu site.
Esse post tem 4 momentos: (1) Seu estilo pessoal (2) Sua casa em Manhattan (3) Sua casa no Uruguay, que na verdade era a casa de seu pai e (4) Suas criações. Sendo assim, conseguimos observar como seu olhar se reflete nestes ambientes e criações.
Estilo Pessoal
Eu não sou da moda para fazer afirmações precisas, mas como este post é um exercício para observamos o olhar, acho válida a tentativa. Navegando pelo seu insta, pude perceber uma preferência por transparências discretas, ponchos (advindos da cultura uruguaia), ternos ou colete e calça, decotes diferenciados, terceira peça, looks com poucas cores ou monocromáticos, diferentes texturas e o combo saia midi + turtle neck + bota (muita muita bota).
A imagem que eu tive ao ver suas fotos é de uma pessoa que carrega consigo sua cultura, independente de onde está, preza pelo conforto e é de elegância discreta e um refinamento máximo. Seu estilo é muito conciso.
![](https://substackcdn.com/image/fetch/w_1456,c_limit,f_auto,q_auto:good,fl_progressive:steep/https%3A%2F%2Fbucketeer-e05bbc84-baa3-437e-9518-adb32be77984.s3.amazonaws.com%2Fpublic%2Fimages%2Fd704d32b-4f44-46d6-b451-c175e6fdbc16_1044x836.png)
Suas casas
Hearst ainda administra o rancho da família no Uruguai. Ele está tal como o pai deixou, ela optou por preservar a casa e a memória. Este artigo da T Magazine conta mais sobre a história dela, sua criação no Uruguay e o orgulho das raízes gaúchas.
Podemos observar que o enquanto o quarto trabalho carrega madeira e estampas, o quarto das filhas - uma adição contemporânea, tem ares vintage. No entanto, aqui sai a madeira e entram mais cores. Observa-se que na foto da estilista no rancho, ela está de poncho e botas.
O que eu mais gosto na casa de Manhattan é a sala. O uso de peças vintage, modernas e contemporâneas se encontram no mesmo lugar. O couro dá espaço ao branco e a madeira, coordenado com o metal (as estantes são em metal e madeira). Objetos vintages se encontram com memórias e arte. A cor está presente assim como as estampas, mas elas não brigam, e nos lembram da artesania presente em seu trabalho.
Sua casa, que no passado pertenceu ao escritor J Baldwin, também foi retratada em outros veículos como Harper's BAZAAR (veja aqui e aqui), a W Magazine.
Já o Financial Times apresentou o refúgio deles no estado de Nova York no artigo: Inside Gabriela Hearst’s upstate New York retreat. É interessante ver como o vintage, as memória, a arte, a madeira e o metal são elementos presentes. A linguagem das duas casas estão conectadas - apesar de terem sim suas diferenças - o “cerne“ é o mesmo.
Sua produção
Por último, se combinarmos as leituras de estilo, memórias e Décor veremos que estão transmitidas em suas coleções. Elementos como o poncho/capa, o couro, a referência ao vintage, a elegância, a sobriedade (intercalada com criatividade), a artesania, estão todos presentes. Os cavalos aparecem como recordação. Ela mesma disse que escolhe precisamente cada peça de sua casa pois só entra ali o que tem memória, uma vez que ela prefere uma casa sem clutter (entulhamento). Percebemos o cavalo na Décor, em alguns itens de sua linha.. é uma forma de trazer sua cultura pro trabalho… Poderia ficar por horas olhando e conectando os pontos. E isso porque temos acesso à um pequeno fragmento deste universo.
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Espero que este post tenha sido um bom exercício para treinarmos o olhar e passar a perceber mais nossas escolhas e a influência de nossa história e referências em nosso trabalho.
Até a próxima.
Na Newsletter #9 mencionei sua loja em Londres com projeto de Sir Norman Foster. Além de ser diretora criativa de sua marca, ela também ocupa a mesma função na Chloé.
Assim como admiro muito a marca de Hearst, também admiro a The Row. Acho que é uma marca muito rica em termos de referências e adoro a linguagem e elegância que existem em suas roupas. Ashley Olsen será a próxima a figurar nesta série nova que começa hoje!
Lê-se com “Hermès“ com s no final mesmo. A marca foi nomeada assim em homenagem ao Deus grego Hermes, filho de Zeus e mensageiro do Olimpo.
Escolhi aqui alguns artigos que ela disserta sobre o assunto:
Entrevista para a Vogue UK: “The Truth Is, We Don’t Have Enough Time”: Behind The Scenes Of Gabriela Hearst’s Sustainable Reimagining Of Chloé
Podcast Vogue Business: Gabriela Hearst: Sustainability is not a choice, it’s a necessity
Entrevista Mojeh (2019): Sustainable Fashion Stalwart Gabriela Hearst talks to MojehSUSTAINABLE FASHION STALWART GABRIELA HEARST TALKS TO MOJEH