Talvez você esteja com saudade da newsletter, eu prometo que logo logo ela retorna. Precisei fazer uma pausa nas últimas semanas para dar conta da vida. Afinal, o que fazemos off-line é mais importante do que o que fazemos online, né?
Este é o último e-mail do ano, mas, devo dizer, já há bastante conteúdo programado para o ano que vem!
Quando eu comecei o The Mid, no começo da pandemia em 2020, meu intuito era ter uma conta no Instagram para falar sobre o que me interessava: arte, arquitetura, cultura, viagens… No entanto, eu gosto muito de escrever e o instagram se mostrou um espaço limitado. Procurei mil formas, pesquisei sites, busquei referências até encontrar em uma comunidade criativa a inspiração que eu precisava. Foi assim que eu cheguei até o Substack, e o The Mid nasceu e cresceu (risos) a ponto de ter de se separar do blog, haja vista o conteúdo mais focado que eu apresentava aqui.
Veja bem, eu amo fazer aproximações da cultura pop com temas relevantes para a academia. Trazer assuntos da antropologia por meio da música, falar sobre cultura por meio de seriados ou até mesmo pode discutir urbanismo e outros temas por meio de filmes… é uma forma de fazer com que o olhar fiquei mais atento; que saibamos perceber mais as coisas que nos cercam. E isso se refletiu bastante nas newsletters e nos posts que criei por aqui.
Se você ficou curioso, as newsletters mais lidas do ano foram:
#1 - Arquitetura e as palavras
#2 - Espaços e Arte
#3 - Arte como commodity - Lifestyle de bilionários nas séries e na vida real
(uma curiosidade: demorei 5 dias para escrever esta news. E ela refletiu num post sobre como seria criar uma casa pro Roman Roy)
#4 - Simplicidade e significado
#5 - Uma biblioteca e o amor pelos livros
(Esta foi, sem dúvida, a mais comentada de todas! Perdi a conta de quantas pessoas me disseram que gostaram!)
Percebi que as mais lidas coincidentemente foram as que mais gostei de fazer, aquelas cujo tema eu realmente amo.
Tudo que eu vejo me inspira. Esses dias mesmo, estava no cinema assistindo West Side Story (Recomendo muito!) e minha cabeça ia conectando os pontos acerca de quais assuntos daquele filme que eu poderia, possivelmente, abordar em uma newsletter/post.
O filme é uma releitura de Romeu e Julieta e se passa na década de 1950, na cidade de Nova York, com um romance que acontece entre um polonês da gangue dos Jets e uma porto-riquenha irmã do líder da gangue rival, os Sharks1.
Por exemplo: eu poderia falar sobre como Spilberg pegou um filme que envelheceu mal e fez uma versão muito melhor! Poderia comentar sobre a abertura do filme original e do edifício da ONU.. ou sobre a construção do Lincoln Center (o filme atual começa no canteiro de obras do complexo) na década de 1950 e incluir links como este, do Google arts and culture e este documentário acerca do complexo. Poderia comentar também sobre as Óperas e a experiência no MetOpera. Indicar um livro como este, que li há muitos anos e me despertou meu assunto pelo tema, e falar até sobre este insta de looks no MetOpera que eu adoro acompanhar.
Como certeza não deixaria de comentar acerca do uso do the Met Cloisters como cenário de uma das cenas da trama. E detalhar esse museu que poucos viajantes que vão à cidade de Nova York visitam. Ele é um “braço“ do MET, que foi inaugurado em 1938, dedicado à arte e arquitetura da Idade Média e que, salvo engano, contempla partes de 5 edificações europeias. Sim, o museu é uma coletânea de claustros que foram literalmente enviados da Europa para os Estados Unidos. Você pode conhecer um pouco dele aqui. Talvez eu até fizesse uma nota de rodapé falando sobre o MET e a Monuments Men, uma comissão de arquitetos, curadores e artistas enviada à Europa durante a WWII para recuperar/proteger obras de artes que estavam sendo ameaçadas pelos nazitas.
E já que mencionei guerra, poderia comentar também sobre a origem do termo “gringo”, usado inúmeras vezes no enredo e mencionar como o personagem Riff tem uma forma de falar que, apesar de não durar mais que duas frases, nos remete aos atores da década de 1950, como Humphrey Borgat e Martin Balsam.
Com certeza eu não deixaria de fazer um paralelo e comentar acerca da imigração de irlandeses e italianos no Brooklyn e como cada um exercia um ofício específico. O livro Brooklyn, romance que retrata esse período da década de 1950 no Bairro do Brooklyn, é um dos meus livros preferidos, virou filme com três indicações ao Oscar em 2016, incluindo melhor roteiro adaptado e melhor filme. Assim como Maria (de West Side Story), Eillis (personagem principal de Brooklyn) também trabalha numa loja de departamentos, e o livro nos apresenta detalhamentos acerca do público consumidor da época, os hábitos de consumo, as mudanças que influenciaram na moda… por exemplo, ele descreve as liquidações de meias de nylon (meias que conhecemos hoje como 7/8; que necessitavam de cinta-liga) o tipo de meia que era comum antes da invenção meia-calça, inventada no final da década de 1950 (a revista do Smithsonian conta isso de uma forma muito interessante, veja aqui) e tem uma passagem no livro que me marcou e é refletida na arte do filme, a cenografia faz questão de enaltecer.
Então, tudo isso nos apresenta possibilidades de abordar novos temas, propiciar algum interesse, trazer algo da cultura que ainda não sabíamos. É claro que por serem apresentados na ficção podem não ser precisos mas, pelo menos, despertam a nossa curiosidade em relação a algum assunto real.
E eu acho que o The Mid nasceu com essa premissa: instigar nossa curiosidade; enriquecer o olhar e direcioná-lo para detalhes que nos contam mais histórias do que o que o enredo nos oferece. Observar a visualidade e tentar encontrar significados ali.
Obrigada, querido leitor e amigos por terem feito parte dessa jornada durante o ano de 2021.
Espero que tenhamos muitas novidades mais em 2022!
E um obrigada MUITO especial para minha amiga Lívia Forte que, em 2020, me estendeu a mão e me fez acreditar ainda mais neste projeto.
Esses dias li que originalmente foi escrito como uma rivalidade entre judeus e católicos.