Eu lembro de um dia estar sentada na cozinha durante um evento de família e minha tia começar a falar com o meu primo sobre as maravilhas de se fazer 30 anos. Se meu primo estava prestes a fazer 30 anos, eu deveria estar no começo da faculdade e minha tia, irmã mais nova da minha avó, estava na casa dos 50 anos(?!). Lembro até hoje os movimentos que ela fazia com as mãos e como aquela conversa me marcou. Ao fechar os olhos eu consigo reviver toda aquela cena.
“Fazer 30 anos é maravilhoso. É a melhor idade”, ela disse. E então começou a listar elementos que justificassem sua afirmação: “Aos 30 anos nos conhecemos o suficiente. É a idade na qual já sabemos qual corte de cabelo fica melhor, qual roupa nos favorece. Entendemos o nosso corpo o suficiente para não brigarmos tanto com ele. Sabemos o que gostamos de fazer, de ouvir, de comer. O que nós toleramos e o que não toleramos. E começamos a entender a vida”.
A conversa não se limitou a isso, afinal era uma artista conversando com um arquiteto e uma estudante de arquitetura, e acabou indo um pouco pro lado estético e voltando. Mas foi ótimo ouvir aquilo naquele momento. Acho que essa conversa me deixou mais aberta para experimentar, especialmente com o meu cabelo e com algumas viagens, nos anos seguintes.
Uma coisa que essa conversa mencionou mas não soube nomear, é que aos 30 anos eu teria valores inegociáveis e eu começaria a consumir de pessoas e marcas com as quais eu me identificasse. E eu vejo como isso tem sido uma presença cada vez maior no meu dia a dia. Claro, é uma série de erros e acertos que ainda acontecem.
Há quase 10 anos atrás, eu fiquei um ano sem fazer compras. E com isso, o meu consumo passou a ser pautado por qualidade e não quantidade. Desde este ano sem comprar, passei a ser uma pessoa que consome muito pouco em termos de vestuário. Em uma conta rápida, cheguei a uma média de compra de 5-7 novas peças de roupa por ano. A escolha por tecidos naturais e não sintéticos, tanto para casa quanto para o meu guarda roupa é uma constante. Eu evito o máximo comprar poliéster1 e tecidos sintéticos, mas, infelizmente, isso às vezes parece uma missão impossível - como roupa de ginástica por exemplo - foram 3 novos conjuntos de poliamida comprados nos últimos anos.
Foi me conhecendo que conheci profissionais e movimentos que tanto admiro. A estilista Gabriela Hearst, por exemplo, tem um lema incrível para sua vida: “ou é sustentável ou é vintage” e acho que isso vai ser um grande norteador para as próximas gerações. Há alguns anos descobri o thoughtful design que preza por algo mais sustentável, fazendo reformas pontuais e se utilizando de itens vintages e com história e o movimento SLOW aplicado ao décor. E isso vem sendo, aos poucos, incorporado ao meu trabalho.
Eu prezo por mais naturalidade e menos artificialidade como um todo - em mim ou no espaço que habito2. Não sou contra procedimentos estéticos ou pintar os cabelos, mas sou do time a favor da naturalidade. Foi com o aumento das minhas crises de alergia nos últimos anos que me fizeram optar e trocar, gradualmente, os produtos de beleza que eu uso por produtos nomeados como clean beauty (beleza limpa), com elementos naturais e cruelty-free. Algo que já acontecia em parte, mas foi se transformando completamente depois dos 25 anos.
Cresci com uma avós que sabem indicar um chá para cada dor. E por ter a pele muito sensível já era adepta de máscaras de aveia, esfoliante de café. Com isso, criei o hábito de usar marcas de skincare com ativos naturais como a grega Korres, a francesa Caudalie e a suiça Weleda. Mais recentemente, adotei a australiana Aesop. Mas o meu maior desafio era comprar maquiagem. Em 2022, eu decidi que teria apenas o mínimo necessário e fiz uma limpa no meu necessaire. Nada de 12 batons de diferentes tons de vermelho, eu teria apenas 1 e cujo tom eu amasse. Nada de paletas de 36 tons de sombras, quando na verdade eu uso apenas 3 tons.
Não adianta falar em thoughtful design e slow décor e manter excessos na penteadeira. Eu acho que na vida, apesar da constante busca por equilíbrio, temos que alinhar nossos valores em todas as áreas. Eu sempre vou tentar ser essencialista/minimalista onde eu posso. Se isso vai se refletir na penteadeira e no guarda-roupa, talvez não se reflita na cozinha onde eu tenho uma pequena coleção de jogos americanos ou no escritório onde os livros, meu material e fonte de trabalho, se encontram. E isso, a meu ver, pode ser alinhado com outros fatores: Ah, eu tenho muitos livros mas alguns vieram de diferentes sebos, ou me foram dados. Ah, tenho muita coisa de mesa posta, mas parte disso eu herdei da minha avó, ou a minha mãe fez, já os tecidos são 100% naturais e assim por diante. E isso, pra mim, é equilíbrio.
Voltando à história da maquiagem, eu identifiquei os itens que fariam sentido eu ter; o que seria básico e essencial.3 Pesquisei por semanas por tecnologias que fossem amigas dos alérgicos. Descobri a tecnologia tubing para rímel, descobri um lápis de olho que não me fazia lacrimejar. O melhor de todos foi descobrir a sombra cuja tecnologia a faz parecer massinha de modelar, ou seja, não cai como pó nos olhos. E foi ela, justamente ela, que motivou este post.
Enquanto fazia a minha pesquisa, eu evitei, por algumas semanas, ver os vídeos de reviews dos produtos da Westman Atelier, linha da maquiadora Gucci Westman, pois eu não queria ficar desejando mais uma marca que não está a venda no Brasil4. Acontece que eu vi uns vídeos e fiquei encantada especialmente pela fundadora da marca, que em nenhum momento aborda maquiagem como uma fórmula a ser seguida e sim como uma forma de realçar a beleza natural de cada um - aquilo me fez querer conhecer a marca.
Conhecida por fazer maquiagens para capas de revistas e red carpets, não espere que ela vá fazer mil passos ou colocar excesso de produtos no rosto de alguém, pelo contrário, ela faz uma maquiagem natural, simples, sem excessos e minimal. Na seção com o concierge de beleza da Westman Atelier5, ele também não ficou sugerindo produtos em excesso. Em 20 min, ele me deu uma aula para me ensinar a valorizar os produtos que eu tinha da marca (o trio de sombras Rendez-Vous e o iluminador Néctar) e indicou apenas um ou outro produto que melhor complementariam a minha pele. Ensinando que eu deveria respeitar o formato do meu rosto com os produtos, valorizando-o. E também mostrando como um mesmo produto poderia ser multifuncional.
Eu adoro itens multifuncionais. Eu acho prático que o iluminador serve não apenas como iluminador mas também como cera para sobrancelha e balm labial6. É isso que eu tento fazer com os meus joguinhos americanos, ou as minhas taças, por exemplo. Eles são intercambiáveis combinando com outros jogos. A taça de 700ml do meu jogo ela não é apenas indicada para um vinho tinto específico como também pode ser usada para Gin e Tônica, e assim por diante.
E acho que esta é a forma com a qual que o conceito de luxo tem sido retratado. Simplicidade, algo sem excessos, tendendo pro essencial, valores muito voltados para sustentabilidade, e respeito à uma beleza natural (seja das pessoas ou da casa) mas com produtos de qualidade. Nesse sentido, ao falarmos de marcas, eu acho lindo como algumas conseguem alinhar os seus valores e representá-los tanto na cadeia de suprimentos, como na decoração de suas lojas e em seus produtos7.
Precisamos aliar nossos valores e nossas ações. E o principal: precisamos estar alinhados com pessoas e consumir de pessoas que tenham valores parecidos com os nossos. Dias atrás, vi um comentário questionando uma marca de beleza limpa que, apesar de ser inglesa, tem sua produção na Alemanha e seu depósito em Nova Jersey, nos Estados Unidos, de onde despacha mundialmente seus produtos. O comentário em questão era de uma consumidora acerca da pegada de carbono dada a logística que envolve toda a cadeia de suprimentos desta marca. O que nos mostra que as pessoas estão cada vez mais atentas às ações do que as palavras em si. Não basta um rótulo ou uma etiqueta, é preciso ver o todo.
Essa saga com a maquiagem clean beauty me fez adquirir uma nova habilidade que até os 31 anos eu não tinha: aprendi a me maquiar, fazendo o que eu gosto, do jeito que eu gosto - me respeitando. No momento no qual eu aprendi a me maquiar, senti uma liberdade enorme. Consegui ir à 4 eventos sociais em uma mesma semana sem precisar de maquiador, inspirada por alguém que me mostrou como me maquiar pode ser simples e não uma jornada com 26374859 passos. O que minha tia esqueceu de mencionar naquela conversa lá trás é que o autoconhecimento, ele liberta e conhecer os meus valores inegociáveis me leva a consumir de quem me inspira e tem valores semelhantes aos meus e me dá coragem para sair de situações que me prendam à pessoas cujos valores destoam dos meus.
Poliéster tradicional não é considerado um material sustentável e mesmo o reciclado ainda demora (e muito) a se decompor. Segundo artigos que já li em diferentes sites, é um tecido suja produção tem mais emissão de CO2 do que o algodão, por exemplo, além de contribuir para a poluição marinha por conta da liberação de polímeros.
Sou a favor do que nós, arquitetos, chamamos de “verdade material”, fazendo oposição à produtos que buscam imitar outros produtos ex: tinta que imita concreto; piso que imita mármore.
1 base leve, um corretivo, um blush cremoso puxando pro coral, um bom trio de sombras, um rímel e um lápis de olhos (apesar da minha oftalmo ser contra), um batom vermelho, um balm, um batom nude, um bronzer e um iluminador.
Apesar deles terem o serviço de entrega internacional, mas que não me motiva.
Disponível para agendamento no site da marca
Dentre marcas com produtos multifuncionais, a marca de Clean Beauty campineira Almanatti é maravilhosa e vale a pena testar! Este post não tem nenhum link afiliado, realmente compartilho aqui produtos que eu usei e amei (e não me deram alergia rs).
Um valor pouco mencionado é o da sustentabilidade cultural, um dos meus preferidos. Referente à preservação da nossa cultura. Inclui o patrimônio cultural material e imaterial, a valorização do local, do saber fazer, das tradições… Eu acho muito bonito como a Gabriela Hearst traz esse conceito da tradição uruguaia para a sua marca. Não é só a preocupação com o meio ambiente, a qualidade dos itens, é a sustentabilidade cultural também… o trabalho artesanal.. enfim. Por isso eu vou sempre citá-la aqui como uma inspiração.
Aqui no Brasil temos a Care, uma marca maravilhosa de cosméticos e maquiagem que não agridem a nossa pele. Uso e adoro!
Oi, Heliana!! A Care tem um propósito bem legal tb, ne?! Eu não me adaptei ao lápis de olho, mas estou amando o lápis da parceria com a Vanessa Rozan! Quero testar mais itens 🥰 a Almanati, aqui de campinas, segue a mesma linha e é ótima tb!! obrigada pela contribuição aqui! :)