Olá!
Há tempos eu planejo escrever uma newsletter acerca do Japão, esse país que muito me fascina. Já comentei nas duas últimas news que amo o trabalho de Tadao Ando (Pritzker 1995). Também amo o trabalho do Sanaa, da dupla Kazuyo Sejima e Ryue Nishizawan (Pritzker 2010). Admiro a estética de Shigeru Ban (Pritzker 2014) e a tecnologia nas obras de Toyo Ito (Pritzker 2013). Coloquei entre parênteses o ano que eles foram laureados com o prêmio Pritzker, porquê desde a criação do prêmio, em 1979, dos 50 arquitetos que receberam tal honraria, 8 são japoneses.
A cultura e a arte japonesa são riquíssimas. Em Cubism and Abstract Art, Alfred Barr nos mostra, logo na capa, a influência das gravuras japonesas em outros movimentos artísticos. Hoje falamos em minimalismo, em wabi-sabi, até mesmo o método de organização da Marie Kondo tem uma influência cultural, no caso da religião xintoísta. A cultura influência muitos aspectos e práticas que temos conhecimento. Em arquitetura, por exemplo, o conceito MA - oriundo da cultura japonesa - orienta a construção dos espaços feitos por Tadao Ando, tem até uma dissertação de mestrado que estuda o assunto - para vermos como os tópicos são ricos e ilimitados.
No meio da faculdade, passei por uma fase na qual eu queria ir estagiar no Japão. Eu estava encantada. O Japão continha em si muito daquilo que eu admirava: simplicidade1; elegância e uma riqueza cultural impressionante. E tinha, em especial, um conjunto de obras de um dos arquitetos que eu mais admirava. Mas eu não falava japonês, como isso seria possível? Então eu estudei todas as obras que eu poderia estudar.
Aliás, só recordando, caso você não tenha visto, que na Newsletter #9 comentei uma rua no Japão na qual alta moda encontra starchitects, e na Newsletter #10, comentei sobre percepção em arquitetura, elencando algumas obras de Tadao Ando.
Com o tempo refinamos nossos gostos; nos aproximamos daquilo que realmente gostamos. Com o crescente interesse pelas artes, me deparei com a ilha de Naoshima; vulgo - a “ilha do Tadao Ando”, que atualmente está no topo na minha lista de lugares para conhecer. (Leia esse texto sobre a experiência de Marina Acayaba na ilha; acho linda a forma como ela descreve o traço do Tadao).
Talvez você já tenha ouvido falar dessa ilha. Ela é como uma “Inhotim” Japonesa (se fizermos uma comparação direta de forma simplista). Foi idealizada por Soichiro Fukutake na década de 1980, contendo em si diferentes galerias que abrigam uma vasta coleção de arte. O complexo, projetado por Tadao Ando, abriga obras de Andy Warhol, Basquiat e até uma série de Monets - não se limitando apenas à pintura, incluindo esculturas e instalações como do artista James Turell2. Tadao não foi o único arquiteto a ter seu traço fixado à esta paisagem, segundo este artigo do ArchDaily, Sou Fujimoto e Ryue Nishizawa, que mencionei lá em cima, também contribuíram. A Yellow Pumpkin acabou de tornando a “imagem” da ilha, sendo extremamente associada à ela3. Em agosto deste ano, ela foi levada pelo mar, o que não afastou visitantes, mas deixou pessoas reflexivas acerca da possibilidade de recuperá-la.
Logo depois disso, em Setembro, o arquiteto japonês Kengo Kuma, que tem projetos que vão de instalações de arte à estádios, entrou na lista elaborada pela revista TIME das 100 pessoas mais influentes. Kuma configurou como Innovator graças à sua “losing architecture” - edifícios que “desaparecem” em meio à paisagem. Esse artigo da Dezeen menciona que ao figurar na lista, o arquiteto ganhou reconhecimento, uma vez que ele não era tão celebrado quanto seus conterrâneos Shigeru Ban e Tadao Ando, cujo trabalho é extremamente estudado no meio acadêmico.
O arquiteto, que também já projetou museus, mais recentemente ficou em voga pela autoria do National Stadium do Japão, palco das Olimpíadas. Neste vídeo acerca do projeto, é interessante notar como o jornalista ressalta valores importantes para os japoneses como simplicidade e significado - que ele ilustra por meio de presentes (aliás, você já viu o post sobre inspirações de presentes com significado para o natal? veja aqui).
Kuma, assim como o Sanaa, foi escolhido pela Rolex para criar um espaço para a marca. O arquiteto projetou uma torre de escritórios para a marca em Dallas, nos Estados. Recentemente, ele afirmou que a pandemia mudou sua forma de trabalho. Segundo ele, em entrevista ao Louisiana Channel: "Todos nós temos que mudar nossa maneira de pensar agora. Quero mudar minha arquitetura para que ela seja ainda mais gentil com a natureza".
Acredito que de todos os seus projetos, que tive a chance de explorar, acho que os que mais me chamaram a atenção foram a Biblioteca de Madeira na Noruega e a Meditation House in The Forest, na Alemanha. Vale lembrar que o arquiteto tem um projeto no Brasil, a Japan House, em São Paulo.
Não é a primeira vez que a Time inclui um arquiteto na lista. Anteriormente a revista já incluiu outros nomes da arquitetura: as arquitetas Jeanne Gang e Elizabeth Diller (Diller Scofidio + Renfro) em 2019 e 2018, respectivamente, David Adjaye em 2017 e o fundador do BIG em 2016. Espero que esse seja um movimento contínuo, afinal, a arquitetura está sendo cada vez mais reconhecida pelo público como essencial para nossa qualidade de vida.
Um adendo: quando eu me refiro à simplicidade por aqui, nos posts, é sempre em relação à ausência de exageros e de ostentação.
Acho que nunca comentei aqui, mas as Artes-maiores ou Belas artes contemplam pintura, escultura e arquitetura.
Se quiser entender mais sobre este conceito da “imagem de um lugar” recomendo a leitura de “A imagem da cidade”, do teórico urbano Kevin Lynch.